domingo, 18 de abril de 2010

A MÚSICA NO CORAÇÃO DO TEMPO

A MÚSICA 
NO CORAÇÃO 
DO TEMPO


 

 


Em 1971 Taiguara fez uma canção e por ela me apaixonei. Amanda ajudou a ilustrar a minha adolescência. Talvez não fosse eu já mais adolescente, mas ainda sentia as dores de sê-lo, que é aberto sempre estar para as dores do mundo receber.

Ouvi Amanda com Taiguara, com Antonio Marcos. É uma das canções responsáveis por um modo de ser de uma parte da juventude no início da década de setenta.

A Música realmente conduz as pessoas.

Ela é responsável por modelar, amortecer, entorpecer ou elevar as almas. A sua força é inconteste. E bem sempre souberam os exércitos e as religiões. E a música de letra reflete o coração do tempo. Nunca esqueci de Amanda, um jeito extraordinariamente poético de viver e sentir, que nos era por Taiguara oferecido na voz de um jovem cantor de São Miguel Paulista nos dias em que sobre as pessoas tinha o rádio uma inimitável força.

É compreensível que a canção que trouxe a poesia para a minha existência - a música de letra que esteve mais próxima da poesia - tenha sido a responsável pela adesão poética imediata ao trabalho de Caetano Veloso tempos depois. E os pioneiros, entre os quais Taiguara e Antonio Marcos, não podem ser desprezados.

No tempo em que ainda não havia uma separação tão abismal entre a poesia e a letra de música, e os versos tinham uma importância que parecia insuperável , pioneiros mais próximos dos versos populares foram posteriormente de brega ou coisa assim chamados, mas, à época, revelavam uma face em que as marcas no caminho talvez apagadas não pudessem ser.

Hoje canções como Balada de Agosto de Fagner e Zeca Baleiro ajudam a preservar no universo musical a necessidade da poesia.

Aplausos e compreensão merecem os cantores que edificam pontes entre as produções poéticas de qualidade intelectual e o popular. Muitos não têm consciência de sua própria importância, outros com habilidade entre universos diferentes trafegam, como Caetano, que é feliz na gangorra que construiu e vai e vem entre Guimarães Rosa e a mídia, da qual extrai mais do que o suficiente para a sua necessidade interior.

Enquanto observo a felicidade de algumas crianças da EMEF Jardim Vila Nova num entardecer chuvoso, penso no quanto a música foi, a partir de um momento, responsável pela construção do homem que sou...

MARCIANO VASQUES

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