sexta-feira, 29 de outubro de 2010

OLHOS SEM FOME

- Sapabela, queria falar um pouco sobre os "olhos sem fome"...
- "Olhos sem fome?". Pensei que todos os olhos fossem famintos, como os olhos de um menino, que caçam a novidade do mundo nas coisas mais simples.
- Não, Sapabela. Com o passar do tempo, se olhos passam a viver na rotina do cotidiano... Perdem a fome.
- Fale, então, Rospo.
- Olhos famintos são insaciáveis. São como os olhos do menino, bem disse você, e os olhos do poeta, mas...
- Quando os olhos ficam desbotados? Quando perdem a fome de novidades?
- No casamento, isso costuma ocorrer...
- Concordo, Rospo. Tanto a sapa quanto o sapo descuidam de coisas básicas, simples, e os olhos do parceiro ou da parceira ficam "acostumados" com a rotina, com a escassez de novidades... Como manter a chama, Rospo? E como é essa história de rotina do cotidiano e essas coisas básicas e simples? ...
- Não sou um manual, apenas penso que a atenção, o cuidado, o zelo, devem crescer e se fortalecer a cada dia...
- Isso não é fácil...
- Tem um requisito, um pressuposto...
- Qual é?
- O querer.
- A privacidade, a intimidade, deve prevalecer sempre, e ser preservada a todo custo, não é?
- É, esse é o mistério, esse é o segredo. Parece difícil, mas é fácil, quando se quer...
- Entre um casal deve haver privacidade?
- Claro, Sapabela. Privacidade absoluta, cada vez mais cultivada... Isso é essencial, é a chave para um companheirismo por longos e longos anos... e atenção, privacidade nada tem a ver com moralismo...
- Entendo, um casal deve diariamente se guardar para os momentos que só pertencem a ele. Aqueles momentos em que os olhos têm fome do outro, em que os olhos estejam famintos do outro...
- Tanto a Sapa quanto o Sapo devem ter a consciência de que o desejo só morre se deixar de ser cultivado e regado diariamente...
- Rospo, é meio difícil de assimilar isso hoje, pois afinal, nem publicamente a privacidade é preservada...
- É verdade, Sapabela, numa época em que as pessoas falam alto ao celular e as sapas se mostram cada vez mais nuas em público, é no privativo, na vida a dois, que a intimidade, a privacidade, deverá ser o grande toque para uma vida de amor e desejo...



HISTÓRIAS DO ROSPO 2010 - 320

Marciano Vasques

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