segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

UMA CONVERSA RADICAL

— Sapabela, a maravilha de ser radical é algo comovente...
— Rospo, do que está falando? Políticos radicais são...
— Não! Não me refiro a isso! Estou falando de ser radical nas coisas da vida, ir até as raízes, seguir a raiz da palavra "radical"... Aprofundar sempre...
— Já falou uma vez sobre isso...
— Agora estou aprofundando...
— Sei.
— Você mergulhar nas coisas todas, é como viver em paixões, ser apaixonado pela vida, viver intensamente tudo o que fizer, e só fazer por amor, com paixões...
Ser radical é viver intensamente?
— Claro. Nada se compara a isso. A vida morna tem uma chama que aos poucos se dissipa... Sou radical! Venham todas as paixões!
— Rospo, vou na sua. Já embarquei...
— Já? Pois saia da catacrese e entre pra valer. O barco sempre solicita mais de um remador...
— Navegaremos de forma serena?
— Naturalmente, e amaremos as espumas das águas revoltas que se agitam no choque com os rochedos...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 -— 413
Marciano Vasques
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domingo, 30 de janeiro de 2011

JOVENS E CINEMA E LAÇO DE FITA

— Rospo, veja que maravilha!
— Que lindo!
— Sempre me emociono ao ver jovens nos barzinhos enluarados, dançando, conversando, vivendo intensa alegria... Eles sabem aproveitar o Domingo à noite, sabem viver...Em vez de ficar em frente à Televisão...
— Não é bem assim, Sapabela... Cá estamos nós, no seu carro, aliás, aproveito para dizer que você dirige bem...
— Mas diga o que você ia falar...
— Não é exatamente bem assim como você falou... Gostei muito do filme... Faz tempo que não íamos ao cinema...
— Diga, Rospo! O que você ia falar?
— É mesmo. Bem, não é exatamente assim... Seu laço de fita estava lindo, Sapabela. Cada vez que você põe esse laço as coisas ficam mais brilhantes...
— Rospo, obrigado, obrigado, obrigado. Mas, por favor, diga o que ia falar...
— Tanto eles sabem viver como aqueles que como eu e você, muitas vezes, escolhemos o domingo à noite para ler um livro. Isso é uma das maiores alegrias para um sapo...
— É felicidade.
— Mas também a escolha de ficar defronte à televisão para assistir a um bom filme é motivo de saber viver, desde que, claro, não haja condicionamento...
— Então...
— Então tudo depende de como está a sua alma...
— Maravilha, Rospo, mas adoro ver os jovens. Faz um bem danado para os olhos, para o coração...
— Concordo, Sapabela, mas, além do laço de fita, gostei do seu esmalte. Esse lilás suave...
— Rospo, você está terrível. Fale do filme...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 412

Marciano Vasques

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SAPO FELIZ

— Sapabela! Alô!
— Oi, Rospo... Que alegria!
— Liguei para dizer que estou feliz, Sapa.
— Ligou só para isso? Só para dizer que está feliz?
— É...
— Pois então, feliz estou eu agora. Um amigo que tanto prezo feliz está, então lá vou eu também para o "Feliz"... Mas...
— "Lá vem o 'Mas' da Sapa" — Mas o quê Sapabela?
— Fale baixo, Rospo.
— Devo falar baixo? Eu não sei fazer isso quando feliz estou...
— Se você continuar anunciando a sua felicidade vai incomodar muitos sapos...
— É mesmo, Sapabela?
— Sim, muitos "amigos" não suportarão saber que você está feliz...
— Mas isso é um problema deles, Sapa...
— Sentirão incômodo, inveja, ciúmes... É difícil, para muitos, suportar a felicidade alheia. A felicidade do outro incomoda. Essa coisa tão terrível que é a felicidade do outro...
— Mas isso é um problema deles, Sapa...
— Tão incomodados ficarão que até a paz de espírito poderão perder... Passarão a ocupar as próprias mentes com a sua felicidade. Em vez de também serem felizes, perderão o precioso tempo da vida e gastarão suas energias mentais tentando aceitar o fato de que você simplesmente está feliz...
— Mas isso é um problema deles, Sapa...
— Tem razão, Rospo. Fale alto, leve aos céus a sua voz, diga com o tórax repleto de energia que você está feliz... Cultive a sua felicidade para que ela goste de você e se aloje em seu coração feito pássaro se aninhando...
— Vamos nos encontrar para um sorvete? Hoje é domingo...
— Vamos, Rospo, só irei pôr uma saia rosa que reservei para o domingo e a flor amarela nos cabelos... Quer dizer, na cabeça...
— Sapabela, agora sim a minha felicidade cresceu demais...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 411
Marciano Vasques

Hoje também em CIANO

SERTANEJA DO BRASIL — 6

SERTANEJA DO BRASIL — 5

SERTANEJA DO BRASIL — 4

SERTANEJA DO BRASIL — 3

SERTANEJA DO BRASIL — 2

SERTANEJA DO BRASIL — 1

SERTANEJA DO BRASIL

CASA AZUL DA LITERATURA inaugura um novo marcador, intitulado SERTANEJA DO BRASIL, com a original música sertaneja de nosso país.
Para os que apreciam a autêntica música do cancioneiro regional de nossas terras ou para os que gostariam de conhecer um pouco mais da história musical do Brasil.
Aqui renovo os meus agradecimentos aos que embelezam a alma de nosso povo e resgatam saudades e momentos de alegria e felicidade,  postando no YouTube o melhor do nosso canto, dos nossos cantares e de nossas joias musicais. AQUI nesta casa tão azul o conceito de Literatura é compreendido em sua ampla dimensão.


Escritor Marciano Vasques

sábado, 29 de janeiro de 2011

AMANDA

MOMENTOS SABÁTICOS

— Alô?
— Alô. Quem é?
— Sou eu, o Rospo.
— Rospo! Que alegria! Diga...
— Só queria ouvir a sua  voz...
— Que bom! Também pensei em ligar... É sábado à noite...Tem algum assunto?
— Sapabela. Fiquei em casa, sozinho... E de vez em quando começo a pensar...
— Na vida, Rospo?
— Na vida, Sapabela. Ela está passando, e quase sempre nem notamos...
— Está angustiado?
— Não, mas pensei em algo:
— Diga.
— Leve sempre  com você as coisas que são preciosas em sua vida, por mais simples que elas possam ser, como a leitura de um livro, isso, esse livro que leu um dia, leve-o com você, em sua memória, onde for, e uma flor que viu, um gibi, um modo de pensar, quer dizer, um pensamento que teve...
— Um dia iremos embora, Rospo... Todos os sapos partem...
— Eu sei. A vida é efêmera, é curta demais...
— Só a alegria importa, não é?
— Sim.  A dor e o sofrimento, assim como a tristeza, não interessam e não despertam nenhum apego, nenhuma vontade...
— Às vezes ficamos tristes, Rospo...
— Mas você deve conservar sempre, Sapabela, as coisas e os sentimentos que não morrem, não passam...
— Rospo, está dizendo que somos os responsáveis pela permanência da alegria em nós?
— Se abro a janela, olho para a imensidão da noite e contemplo aqueles errantes astros cintilantes no infinito, tudo isso me assusta...
— Pascal também se assustou um dia...
— A vida, penso, é a compreensão dessa grandeza que assusta. Nada somos, isto é, somos infinitos grãos de areia...
— Infinitos pontos de luz...
— E tem aquele momento em que estamos realmente sós, e então só nos resta olhar para dentro de si...
— Ou telefonar para uma amiga...
— Verdade, às vezes a voz do outro é um analgésico para a solidão que dói em mistérios...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 410
Marciano Vasques

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FLOR AMOROSA

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

CANTANDO E ASSOVIANDO

Pleno ☼  e lá ia a Sapabela assoviando uma canção pela tarde afora...
—♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫
— Sapabela! Está cantando! Fico feliz ao ver uma amiga cantando...
— Rospo, uma canção é como o vento, traz a renovação da vida. O vento não é ilusório, ele é a passagem do ar em nosso rosto... E a canção também não é ilusória...
— Mas também de ilusões se vive...
— Isso é parcialmente verdadeiro. A ilusão não pode substituir a vida...
— Sapabela, estou feliz com essa conversa que surgiu, mas o bom mesmo é ouvi-la cantar...
— Na verdade, estava assoviando... E fico feliz que o meu canto tenha atraído um amigo, e que esse canto não seja um canto de sereia...
— Sapabela, posso assoviar com você?
— Pode, tem calçada ainda até a sorveteria...
 E assim lá foram os dois assoviando...
— ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 709
Marciano Vasques
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AFUGENTE A ROTINA

— Sapabela. Afugente a rotina!
— Como faço isso? Fujo dela?
— Não! Você deve afugentá-la, para bem longe. Com ela não tem leveza nem cortesia, nem acordo nem trato. Com ela é: Tchau! Adeus!
— Ela é tão terrível assim?
— É perversa! É cruel! É corrosiva. Destrói o melhor de você... Sapo na rotina é sapo desbotado...
— Rospo, você está exagerando!
— As consequências da rotina são mais amargas do que boldo, do que losna, e você só vai sentir esse amargor lá na frente...
— Lá na frente?
— É, no porto da chegada...
— Entendo, no final da vida...
— Nossa, Sapabela! Nunca a vi tão explícita...
— Desculpe, perdi a leveza...
— Pois é, quando então você há de olhar no imenso espelho retrovisor, maior, muito maior do que uma tela de cinema, e...
— E?
— E então verá que a sua vida se dissolveu e feito areia escapou entre os dedos... A rotina levou o melhor de você... A sua vida se esvaiu, você viveu com a alma desbotada numa possibilidade de flores de mil cores...
— Rospo, pronto! Já odeio a rotina...
— Sapabela, veja a alimentação...
— É uma rotina, pois todos os dias almoço...
— Engano seu!
— Viva!
— Que entusiasmo é esse?
— É o primeiro engano do ano!
— Tem certeza de que ainda não se enganou em janeiro?
— Fale da alimentação.
— A alimentação foi se aperfeiçoando, com receitas, sabores, requinte, estética... Se comêssemos apenas para nos alimentar tal seria a rotina...
— Que iríamos morrer de fome...
— Não! Morreriam de fome os desvalidos, isso acontece com os que não têm o que comer. Nós morreríamos de obrigação, obrigação de comer...Morreríamos pela rotina.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 408
Marciano Vasques
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

VIVER INTENSAMENTE

Rospo e Sapabela passeiam numa areia imaginária.
— Sapabela, preste atenção!
— O que houve, meu querido?
— Viva intensamente, sempre. É a sua vida...
— Apareceu uma sapa lá no portão querendo falar de religião...
— Sapabela, preste atenção! Por favor, preste muita atenção...
— Sempre prestei, Rospo.
— Viva intensamente...
— Nem sempre dá, meu amigo...
— Jamais negocie a sua vida com a rotina...
— Eu sei, mas...
— Ame intensamente e faça do seu amor a sua desculpa para estar no mundo... Nasceu, não pediu, mas nasceu, e agora, veja o mundo. A vida implora: Viva intensamente!...
— Farei isso, Rospo... Mas está aflito. O que o aflige?
— Viva intensamente. É a única alternativa. Ponha-se integralmente em tudo o que fizer, e só faça por amor...
— Mas são tantas as dificuldades...
— Acima de tudo está você.  Veja as estrelas à noite, veja as flores, sinto o vento em seu rosto...e o mais puro verso em sua alma...
— Fala como se estivesse partindo, Rospo...
— Estamos sempre partindo, Sapabela...
— Sei, a locomotiva segue me frente, e o trem atravessa neblinas,  desbloqueia passagens e abre cerrações...
— Promete?
— Claro, Rospo...
— Nem precisa. Só a sua palavra me basta.
— E o sorvete?
— Não permita que a horrenda criatura da rotina a pegue no caminho... Se precisar assovie uma canção... E deixe que a canção a leve no colo da ventania...
— E o sorvete, Rospo?
— O que importa é o que você faz com  a sua consciência quando longe da multidão estiver...
— E o sorvete, Rospo?
— Vamos!
— Caminhar nas areias imaginárias com um amigo já é um sinal de vida intensa...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 407

Marciano Vasques

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VOCÊ VAI SER O MEU ESCÂNDALO

O SEU AMOR

NA BANCA DE JORNAIS E REVISTAS

Rospo adora banca de jornais e revistas. Está diante de uma quando chega uma sapa e...
— Senhor Jornaleiro, tem uma revista de horóscopo? Quero saber qual é o meu novo signo.
— Dá licença?
— Pode falar, sapo.
— A senhora continua acreditando em horóscopo?...
— Sim, sapo, mas agora o meu signo mudou...
— Estava na hora...
— Eu gostava do meu signo...
— Mas, a questão é outra...
— Sapo, com licença, preciso comprar a minha revista...
Rospo, sozinho, se põe a pensar:
— "O mapa astral é bem antigo. Então, chega a astronomia e mais uma vez bagunça o coreto da astrologia..."
— Caminha pela calçada e o pensamento avança:
— "É incrível! Quem se guia pelos astros parece não se abalar..."
No caminho encontra a Sapabela.
—  Rospo!
— Sapabela! Demorou a aparecer na história. Por onde andava?
— Peregrinando por aí...
— Sei, como um astro no infinito... Aliás, você não é uma estrela... É uma constelação...
— Estou no zodíaco, Rospo?
— Não, sapabela. Não existe a constelação da sapa.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 406
Marciano Vasques
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SAIA DA CAMA!

— Rospo, se um casal está tendo dificuldades na cama, o que fazer? Diga, meu oráculo...
— Sapabela, não entendo esse interesse. Nem é casada...Teria algum namorante oculto?
— É uma amiga, Rospo, ela não consegue...
— Ela ou o sapo?
— Rospo, tem certeza de que essa conversa é para crianças?
— Para sapinhos e sapinhas de nove anos, que já sabem ler e são espertos pra dedéu... E vivem com pais leitores, e atualizados, e  que têm compromisso com o diálogo, e ...
— Está bem, está bem, mas, diga, o que deve ser feito?
— Sair da cama.
— Ora, Rospo, a cama é o lugar do amor...
— Ora, Sapabela, mas quando "empacou", o melhor é sair da cama, é fugir dela...
— Ora, Rospo. Fugir?
— Ora, Sapabela. Sair da cama, do quarto. Ir para outros lugares... O amor é assim...
— Ora, Rospo, está querendo dizer que a rotina quebra o amor?
— Ora, Sapabela, estou dizendo que o amor é assim. Quando não se enquadra mais em quatro paredes, deve-se buscar um novo espaço, um novo ambiente. Esse é o primeiro passo...
— Ora, Rospo...
— Sapabela, chega de tantos "ora", por favor...
— Tem razão, Rospo, às vezes até numa conversa a rotina se instala...
— Sapabela, você é um amor...
— Eu sei disso desde pequena, mas, vou levar o seu recado para ela... O primeiro passo é fugir da cama, do quarto, da rotina...
— Talvez outras coisas tenham fugido antes: o diálogo, a atenção, o carinho, o zelo, o cuidado com o outro, a ternura...
— Rospo,  adorei o seu conselho. Espero nunca jamais precisar fugir...
— Ora, Sapabela.
— Não, Rospo! "Ora" não!


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 —  405

Marciano Vasques
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A SAIA DA SAPABELA

— Sapabela, veio de saia para o nosso sorvete!
— Só uso vestidos, Rospo. Não havia reparado?
— Sapabela, só olho para a sua mente, o seu coração...
— Sei.
— Mas veio de Saia...
— Rospo? Que encantamento é esse? Nunca viu saia? Será que despertou o Sapo erotikós?
— É que adoro a palavra saia. Ela é Antônimo da palavra "cortina"...
— Não sei do que está falando, meu amigo. Saia é antônimo de cortina? Nunca soube que uma coisa fosse contrária da outra... O que tem a ver "saia" com "cortina"?
— Cortina vem de corte, de cortar. O que é a cortina? É ela quem corta a visão, é ela quem esconde. Por causa dela não se pode ver o que acontece num quarto, pois sempre tem uma cortina na janela...
— Sim, Rospo, é para isso que também serve a cortina. Para afastar os bisbilhoteiros, os curiosos... Mas, o que tem isso a ver com "Saia"?...
— Se a cortina oculta, a saia é o contrário, pois a palavra, que tem algo a ver com o verbo sair, está justamente ordenando isso: Que saia a beleza que todos querem ver. Que saia aquilo que se esconde...
— Rospo, sua filologia é muito interessante...
— Etimologia, Sapabela, etimologia...
— Rospo, afinal, gostou da minha saia?
— Sim, adorei. Um verde claro bonito... Adoro esse verde...
— Rospo! Verde sou eu! A saia é rosa! Que mania de Clark Kent!
— Até que seria bom se os sapos tivessem visão de raio-X...
— Vamos ao sorvete, por favor?
— Quero o meu de abacate...
— Já sei, é verde.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 404
Marciano Vasques
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ROSPO AGORA É LEÃO

— Rospo! Qual o seu signo?
— Virgem.
— Era.
— Do que está falando, Sapabela?
— Você agora é Leão.
— Isso eu sempre fui.
— Alguns dirão: "Lá vem a Ciência metendo o bedelho novamente!", mas a posição do eixo da Terra mudou. Temos uma nova ordem cósmica.
— É a Astronomia dando um novo banho. Mesmo assim, minha querida... Alguns dirão: "Não me interessa! Eu acredito em Horóscopo e pronto!".
— Esses pontos cintilantes sempre exerceram fascínio sobre os sapos... Astros deixam rastros de crença no infinito...
— Agora vem a Ciência novamente alterar a receita desse mingau místico.
— É uma batalha antiga...
— A Ciência e o misticismo disputam cada milímetro do coração e da mente do sapo. Todos os equívocos resistem ao tempo, desde que o tempo era dos sumérios... E agora, descobrimos que o céu astrológico está errado.
— Muitos sapos irão berrar: "Não aceito mudar de signo!"
— Berros em vão. Já mudou tudo.
— A razão não está nas estrelas. Ou seja, a complexidade está no cérebro do sapo...
— Trata-se da zona de conforto...
— Que zona é essa?
— É o tal "conforto espiritual". É algo que tem a ver com a evolução do Sapo...
— Jura?
— Para tornar a vida mais suportável, o sapo criou a tal zona de conforto e foi aperfeiçoando com o tempo, através das gerações...
— Que loucura!
— Astros decidem, e  assim confortam o sapo.
— Isso vem desde os primórdios da astrologia...
—  Assim como o pensamento mágico, o divino, e todas as crenças...Você dorme melhor sabendo que os astros o protegem, que governam a sua vida, que você tem uma estrela-guia.
— Toda a trajetória do sapo é a busca de conforto, não apenas no plano material...
— Você tolera mais as dores e as tragédias se acreditar que isso tem influência divina ou das estrelas...
— Você até justifica o sofrimento...
— Rospo, quando argumenta, você é um verdadeiro "Leão". Como se sente ao saber que foi "Virgem" a vida inteira?
— Um dia a gente perde a virgindade, mesmo no zodíaco....
— Não me faça rir. Agora que é Leão, não vá querer mostrar as garras...
— E você, Sapabela? Qual é o seu novo signo?
— Rospo, você sabe que eu adoro novidades. Então, sou "Serpentário"...
— Como você é exibida, Sapabela!
— Não é sempre que você ganha um signo novo.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 403
Marciano Vasques
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SAMPA

PALAVRA FIANDEIRA — 52

Já está no ar a nova edição de 
PALAVRA FIANDEIRA

NESTA EDIÇÃO:
GILBERTO MARCHI
Leia AQUI

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

LÍNGUA DE TRAPO - FORÇA DO PENSAMENTO

SÃO PAULO SÃO PAULO MEU AMOR

VELHO ATEU

VAI LEVANDO

TÔ VOLTANDO

SAPABELA DECIDE SER POETA

Uma sapa passeia na calçada quando encontra um velho conhecido.
— Conhecido não. Amigo.
— Sapabela!
— Rospo! Tenho tantas coisas para conversar... Decidi ser poetisa... Poeta, entende?
— Seja bem-vinda! Já escreveu um poema?
— Nem um poemeto sequer...
— Então, escreva!
— Estou esperando por ela.
— Ela quem?
— A  inspiração...
— Sapabela, primeiro precisa reconhecer a riqueza da vida que a rodeia. Os sapos, a vida do povoado, os dramas, as tristezas, os sonhos, e girando em torno disso tudo, a natureza, com sua brisa, seus relâmpagos, sua poeira, seus vendavais...
— Para que observar tudo isso?
— Você precisa ver que a fonte da poesia está presente no instante que você vive...
— Não precisa de inspiração?
— A inspiração é o que passa...
— Então posso ser poeta?
— Se você lapidar o olhar...
— "Lapidar". Você gosta dessa palavra...
— Pois é... Então, com o olhar florescido, apto para recolher a poesia na vida que passa...
— Estou apta a ser poeta.
— Não! Depois de tudo, por último, vem a técnica...
— Sabe, Rospo, dá um trabalhão ser poeta...
— Por isso a poesia é tão profunda...
— A poesia é um confessionário da alma?
— É a confissão arrancada do mundo...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 402
Marciano Vasques
Leia em CIANO

domingo, 23 de janeiro de 2011

PEQUENOS GESTOS NO COTIDIANO

— Rospo, tem que elogiar a sapa todos os dias...
— Todos os dias?
— Sim, mandar bilhetes, recados, hoje é mais fácil, tem internet, tem celular... A época é apropriada para o romantismo...
— Está brincando!
— Estou não. E a sapa também, tem que elogiar o seu namorante... Todos os detalhes são importantes, o cabelo, o perfume... Tudo. É sempre bom lembrar durante o dia que tem alguém que nos ama...
— Eu sei, agora, isso só vale se for espontâneo... Nada por decretos...
— Exatamente. Namorados e namorantes precisam de palavras, de incentivo, de ternura, de doçura, pois a vida lá fora está dura. O estresse é a marca da época, alma estressada é alma em sintonia. Então, o carinho e a dedicação, a atenção e a gentileza, são capazes de transformar a aspereza do cotidiano em um lago sereno...
— Uma fortaleza, eu diria, para enfrentar as dificuldades, as procelas...
— Exato, meu amigo. A saída está no amor declarado, nos pequenos gestos, na gentileza, na cortesia dos namorados...
— Falando nisso, Sapabela...
— Diga, Rospo...
— Nada não, tem recebido essas pequenas manifestações de carinho durante o dia?
— Ele ainda não apareceu...
— Ele quem?
— O namorado...
— Vamos tomar um sorvete?
— Vamos. Você é tão joia... Um bom amigo...
— E você é tão gentil, tão doce...
— Rospo, acho que essa conversa nos contagiou...
— Sapabela...
— O que foi?
— Qual sorvete prefere?

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 401
Marciano Vasques
Leia em CIANO

SAPABELA E A NOVIDADE

— Rospo! Que saudades!
—Sapabela, andou sumida...
— Desde ontem à tarde...
— Tem alguma novidade?
— Tenho! Uma maravilhosa!
— Diga! Por que demora tanto?
— Você é muito afobado, Rospo...
— O tempo é precioso demais, minha amiga...
— Quer mesmo saber qual é a novidade estupenda?
— Quero, novidade é comigo mesmo...
— Estamos no Hoje...
— Lógico, Sapabela, Hoje não é Ontem... Qual é a grande novidade?
— Exatamente essa. Tem muitos sapos que deixam de viver o Hoje para se guardarem para o amanhã, que não existe e quando existir, será apenas um novo Hoje...
— Eu sei...
— Ontem já se foi. Não mais existe. Acabou!
— Verdade. Só existe mesmo o Hoje...
— Portanto...
— Portanto, o quê?
— Vai deixar escapar?
— Tem razão, Sapabela, o grande lance da vida é justamente esse: viver intensamente o único dia que existe...
— Vamos começar?
— Vamos! Que tal um sorvete?
— Isso mesmo! O sorvete de Hoje não é o de ontem... E já pensou numa canção hoje?
— Tenho que pensar?
— Todos os dias.
— Que tal  A Whiter Shade Of Pale?
— Eu vou de  Quando m'innamoro...
— Como a vida é maravilhosa...
— Por que é Hoje.
— Porque é sempre a novidade... 
— A eterna novidade no único dia possível...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 400

Marciano Vasques
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QUEREM ACABAR COMIGO

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ACUSADOS DE POESIA

— Rospo, eu te acuso.
— Do que afinal me acusa, Sapabela?
— Eu te acuso de Poesia, de ser poeta...
— Serei condenado, Sapabela?
— Sim, a vagar na ventania que agita a sonolência de concreto da cidade... Estarás no centro de todas as dores, irás escorrer e transbordar em todos os prantos, e sua alma plangente dançará o seu bailado de promessas e ternuras em todos os epicentros, serás a flor que cativará as almas desatentas...
— Tudo isso, Sapabela?
— E muito mais, Rospo.
— Tem mais?
— Sim, serás a força inesgotável, o insondável mistério no centro do picadeiro universal. Irás incomodar e ao mesmo tempo causar uma explosiva alegria, cuja força de luzes hemorrágicas não poderá jamais ser contida...
— Sapabela, por que decidiu me acusar de ser poeta?
— Pelo fato de ser sua amiga, e para isso servem os amigos...
— Fale mais...
— Assim estás me explorando, Rospo...
— Uma coisinha a mais... Uma frase...
— Rospo, o poeta é um efeito mágico que descortina o amanhecer, que dissipa o nublar dos olhos que se acostumaram com o desbotamento próprio do cotidiano... Eu te acuso de implantar riachos de águas cristalinas onde reinava a poluição... E te condeno a prosseguir enfeitando a minha alma com suas bandeirinhas multicoloridas, seus versos transparentes...
— Sapabela, eu a acuso...
— Eu? De que posso ser acusada?
— De ser uma inflorescência ambulante...
— Que lindo, Rospo! Bem, vamos então comemorar as nossas condenações... Quer um sorvete?
— Quero! Sabor Quintana...
— Eu quero Drummond...
— Eu quero sabor Cecília...
— Eu quero sabor Mario de Andrade...
— Rospo, pelo que eu sei, tem sorvete de sobra...
— Sapabela, você me faz rir...
— Erga o seu riso, Rospo, e o espalhe no ar... A poesia agradece...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 399
Marciano Vasques
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AS ÁGUAS NOS ROCHEDOS DO TEMPO

— As espumas contra o rochedo: que visão impressionante, Rospo! Meu coração transborda de poesia, e ela estraçalha minha alma andarilha...
— Sapabela! O que está acontecendo?
— A vida está chamando, Rospo, e eu estou aqui para atender ao chamado...
— A vida?
— Sim, com toda a sua poesia, a sua força mágica, me atirando ao vento, me lançando ao entardecer, entre risos, festas, dores, prantos, vento forte correndo nos capinzais, nos bambuzais. A vida não tem jeito. Ela nos assombra, nos provoca... Não podemos ficar impunes, passivos diante dessa grandeza, dessa imensidão...
— Consegue ver isso tudo no cotidiano?
— A aspereza do cotidiano é apenas aparente... Somos estilhaços da força motriz universal que nos atiça a cada novo sorriso de uma criança, a cada animalzinho a nos mirar com seus olhinhos... Somos intensos e nem nos damos conta...
— Fico feliz que esteja descobrindo essas coisas...
— Isso mesmo, Rospo! Nascemos para descobrir, para desvelar, para retirar os cobertores, os mantos... Precisamos correr na direção oposta ao vendaval, precisamos ser como as águas agitadas contra a imobilidade de todos os rochedos. Rospo...
— Sim, Sapabela...
— A vida pede passagem...
— Eu sei.
— Então, por favor, estenda seus braços, sorria, grite quando o trem passar. Você, ao atender ao chamado da vida, está contribuindo com a força universal que nos espreita... nas coisas... em todas as formas de vida, nos astros, nas ostras, nos riscos de mariscos nas areias das praias... Sejamos apenas os que zelam pela sua passagem...
— Sapabela...
—Sim?
— Posso abraçá-la?
— Rospo, você já me abraça com a sua atenção, com a sua conversa, com seu verso, e com sua amizade...
— Sapabela, não sei bem o que aconteceu, mas você está emocionante...
— E estamos apenas no começo do ano. Rospo?
— Sim, minha amiga.
— Hoje é quarta-feira?
— Sim.
— Então é um dia especial...
— Por qual motivo, Sapabela?
— Por estarmos aqui, exatamente onde estamos, conversando... Nos ofertando para a passagem da vida...
— E ela aposta uma corrida desenfreada com o tempo. Seria tão bom se todos percebessem...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 398
Marciano Vasques
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SAPABELA E AS PAIXÕES

— Sapabela! Descobri!
— Descobriu o quê, meu jovem amigo?
— A chave da vida...
— Eu quero! Eu quero!
— Pois é, descobri...
— Então diga, Rospo...
— É Ela, Sapabela, é Ela...
— Ela quem, Rospinho? Diga, meu amigo! Quem é essa Ela?
— A paixão! Sapabela, a Paixão!
— Ter um amor, um namorante? Uma namorante? Um namorado, um namorigo?
— Namorigo?
— Mistura de namorado com amigo...
— Não, Sapabela. Não me refiro exatamente tão somente a essa paixão...
— Existem outras paixões?
— A vida é paixão, Sapabela! Paixão! Um arremedo de paixões! Vendavais, canaviais, bambuzais, varais! Ventanias! Paixões pelas garatujas do sapinho, pelo giz de cera, pela folha branca clamando um verso, por um poema latejante na lisa folha que ao sol desliza, pelos riachos, e pelos filetes de água, pelas coisas que passam, pelos rostos e suas fibras, pela febre do poeta em busca da rima impossível... Paixões, Sapabela! Só assim a vida vale a pena! Só assim a vida tem sentido. Viva intensamente, mas, preste atenção...
— Sim, Rospo, estou ouvindo...
— Viva intensamente apaixonada...
— Abro os meus braços, Rospo! Meu pensamento é formado por mil girassóis, mil carrosséis... Que venham todas as paixões...Todos os vendavais... Quero ver o mar agitado, o céu trovejando, quero abraçar tudo que vier relampejando... Sou paixões, Rospo! Quero ser e viver assim...
— E assim será, minha querida amiga!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 397
Marciano Vasques
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A DÁDIVA DA LOUCURA

— Só fala de coisas antigas, Rospo!
— Tem certeza, Sapabela?
— Parece que vive fora da realidade...
— Não entendi essa provocação, minha querida...
— Fica falando de amor o tempo todo...
— Sapa, enquanto existirem sapos e sapas...
— Sei, Rospo, sei disso, mas, pense bem. Encare a vida de frente. Veja como estamos vivendo hoje...
— Diga, Sapabela, sei que algo está suspenso no ar, incomodando...
— Acha de verdade que os sapos estejam preocupados com esse papo de amor? Veja esse tal Reality Show... A própria TV, ninguém mais se lembra que no brejo tem luar... Aliás, o amor foi todo para a novela... E ainda bem que tem ela, pois, veja quanta tragédia, as chuvas, tudo... E se não tivesse uma válvula de escape, como iríamos sobreviver? E aí vem você falando de amor, de bolero... Observe certas letras musicais de hoje, precisa acordar, meu amigo...
— Sapabela, eu...
— E ainda vem falar de Poetas... Ora, poetas são loucos...
— É isso, Sapabela! É isso que a sociedade do brejo precisa!
— Isso o quê, meu Rospinho?
— Loucos, Sapabela! A sociedade precisa dos que têm o coração louco de amor, os bêbados de luzes, os poetas com o peito na vertigem das loucuras... Só os plenamente loucos são capazes de romper a guilhotina desse marasmo, que põe em perigo as cabeças audaciosas e bota o controle remoto nas mãos de um rebanho sem paixões...
— O que você sugere, Rospo?
— Que o namoro triunfe, que o amor acelere os corações, que os loucos declamem seus versos, é disso que o brejo necessita! Aliás, o planeta...
— Sabe, Rospo, suas coisas antigas afinal são bem interessantes...
— Meu coração tem um interesse profundo pelas coisas que não passam, Sapabela... Entenda de uma vez, nenhum amor será efêmero...
— Rospo, isso merece um sorvete.
— Isso merece luar, Sapa, merece um Fellini, um parque de diversões, uma caminhada nas areias da praia, um bom livro, uma festa, um sorriso, um abraço...
— Rospo, como a loucura é boa!


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 396
Marciano Vasques
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TU ME ACOSTUMASTE

sábado, 15 de janeiro de 2011

O OFÍCIO DE ESCREVER

— Rospo, meu querido!
— Sapabela! Que alegria!
— Hoje é sábado!
— Muita chuva, muita coisa para fazer...
— Rospo, ontem você falou sobre o ofício de cantar...
— Sim, conversamos a respeito.
— Mas, e o ofício de escrever?...
— Sapabela, eu estava justamente pensando nisso...
— Mas recebi um comentário de uma amiga...
— Então, vamos lá: o ofício de escrever é o maior tesouro na infância de um sapo, um tesouro que o levará para paixões irremediáveis e inadiáveis, para amores tempestuosos e inesquecíveis aventuras ...
— Mas isso é o ofício de ler...
— Sapabela, quando um sapinho ou uma sapinha recebe de presente das gerações de todos os tempos o extraordinário ofício de escrever, sua mente se modifica, seu cérebro sofre transformações, e, de forma natural, também o seu coração, a sua alma...
— Compreendo...
— E tem a chance de edificar mundos, reinos, e dar vida e forma às mais espetaculares aventuras do espírito anfíbio.  Poderá, com a escrita, expor a sua alma, que é o seu sentir, e também compreender o mundo, pois ao expor os seus sentimentos, estará realizando o florescimento, o desabrochar da sua própria leitura do mundo. Escrever é um passo gigantesco na vida de um sapinho. Com a escrita, com o exercício desse fazer, ele deixa de ser solitário e se torna alguém em comunhão com o mundo. Ele não está mais fora do mundo...
— Escrever é tudo isso?
— É deveras o maior tesouro que alguém, qualquer sapo, pode receber em sua vida...
— Rospo, veja uma árvore!
— Estou vendo. E daí?
— Por acaso estou com um giz, posso comunicar algo nela?
— Ainda bem que não é um canivete. Claro que pode! Vá até o seu caule... Escrever é para isso, é para comunicar pensamentos, sentires, sonhares, quereres...
— Veja, Rospo!
— Ora, você desenhou um coração. Não há nada escrito nele.
— O coração desenhado é uma forma de escrita, mas se estiver se referindo apenas às palavras, o que devo escrever nele?
— Tenho certeza de que até o caule da árvore já sabe...
— O que está insinuando?
— Nada! Estou brincando. Que tal escrever: "Árvore: Eu te amo!"
— Boa ideia! Então, lá vou.
— Sapa, você escreveu: "Árvore. Amo também você!"
— É, o ofício de escrever é um tesouro.
Os dois riem muito. E Rospo prossegue:
— Sapabela, sabia que todos somos escritores?
— Sim, a partir de quando começamos a escrever...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 395
Marciano Vasques

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O OFÍCIO DE CANTAR

— Todos os sapos são importantes em suas profissões...
— Claro, Sapabela: o jardineiro, o motorista, o médico, o professor, o pedreiro...
— Exatamente.
— Mas tem um sapo que merece o meu aplauso...de imediato...
— Quem, Rospo? Quem?
— É aquele que exerce o ofício do coração, da alma...
— O padre?
— Não, Sapabela!
— Quem, Rospo?
— O cantor.
— É verdade, o sapo que exerce o ofício de cantar  merece mais do que aplauso... Merece o nosso respeito e o nosso carinho, e o nosso agradecimento...
— Justamente.
— Aquele que canta e fala de amores, que confessa sentimentos, que lança a sua voz ao ar contando histórias em acordes às vezes plangentes...
— Sim, o cantor, o ofício de cantar. Pena, não é, Sapabela...
— Pena o quê?
— Que tem sapo que se dedica a fazer guerras, a destruir...
— Bendito seja o cantor, bendita seja a sua voz, e o seu coração...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 394

Marciano Vasques
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ESPERANÇAS PERDIDAS

A BREVE INFINITA TRISTEZA

— É curioso esse blog que você gosta, Rospo.
— É mesmo, Sapabela?
— Sim, quando não tem palavras tem músicas... Às vezes, três ou mais, de uma só vez...
— Aprecio muito isso... Talvez por isso eu sempre volto...
— As músicas são românticas, assim, meio "bregas", quero dizer, são bem populares... Não são canções com letras intelectuais, ao contrário, as letras são bem simples, e falam de amores...
— Enquanto existirem sapos e sapas no mundo...
— Entendo. Mas, considero curiosa essa atitude desse blog...Poderia pôr músicas...mais "elitizadas", se me entende.
No fundo, parece uma homenagem à rádio...
 — Que mais você reparou?
— Que alguns cantores aparecem mais, porém, o que mais me intriga é a pretensão do blog de fazer sonhar...
— E você, Sapabela?
—  O que tem eu?
— Gosta das músicas?
— Você sabe, Rospo, que herdamos essa alma, esse jeito lusitano de sentir e de amar... Somos coração, cantamos com o coração, por isso o fado, o bolero, e até o samba é choroso... Somos sinceros em nossas dores...
— Fico feliz que seja assim...
— Mas você anda triste, não é, Rospo?
— É uma breve infinita tristeza...
— Vai passar, Rospo, vai passar...
— Que tal passar com um samba?
— Então vamos lá!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 393
Marciano Vasques
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' This Is My Song'

PAI E FILHA

AGNALDO TIMÓTEO - EU VOU SAIR PARA BUSCAR VOCÊ

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

CHUVA

Pintura da artista plástica Marília Chartune


LIVRO DO FREI PACÍFICO

Livro de Frei Pacífico lançado em Guaíra, no Sul do Brasil. Tema do livro: A CAUSA INDÍGENA.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O BLOGUEIRO - 37


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

SAPABELA, TRISTEZA E ALEGRIA

— A alegria e a tristeza não podem conviver no mesmo espaço...
— No mesmo espaço?
— No mesmo corpo.
— Corpo?
— Alma, Sapabela.
— Ora, Rospo, que óbvio! Qualquer um entende isso.
— As coisas mais óbvias e mais simples também precisaram de imensos sistemas filosóficos.
— Spinoza!
— Não entendi, Sapabela!
— É uma nova expressão. Equivale a "Eureka!"
— Muito bem. Nem tudo é exatamente tão óbvio como parece.
— Mas, nesse caso, é. Meu amigo: tristeza e alegria são antagônicas. Uma anula a outra. E não podem mesmo, jamais, ocuparem o mesmo espaço...
— Então uma precisa expulsar a outra...
— Já sei. Essa é fácil!
— Sim?
— Só a alegria tem a força para expulsar a tristeza.
— Ocorre que a tristeza enfraquece o ser...
— Mas a alegria fortalece, aumenta a potência...
— E como o ser busca naturalmente se fortalecer, a alegria sempre terá grandes chances...
— E se a tristeza for muito forte?
— A alegria há de ser redobrada...
— É possível ter alegria no sofrimento?
— Nesse caso, o esforço para afastar e aniquilar a tristeza será bem maior...
— Vale a pena tentar, Rospo?
— Pergunta proibida. Sempre vale a pena.
— Concordo.
— Concorda?
— Com corda e com barbante.
— Sapabela! Está sempre brincando. Tristeza e sofrimento são parceiros. Um depende do outro... Expulsando a tristeza você estará ofertando uma chance para a alegria, e assim o sofrimento ficará isolado, enfraquecido.
— Então vamos lá! Estou pronta para essa batalha. Que venha a tristeza, que já tenho de reserva uma alegria .

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 392
Marciano Vasques

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SAPABELA E A VELHA ALEGRIA

— Tudo renasce, Sapabela.
— Já falou isso um montão de vezes, Rospo...
— Não tantas quanto todos os renascimentos.
— ?
— O que houve? A voz fugiu, Sapabela?
— Pronto! Já renasceu.
— Então, fale.
— Pelo jeito, renascer é a lei da vida...
— Exatamente. Até a velha alegria renasce...
— Velha alegria?
— É. A mãe da vida.
— Fale sobre essa velha alegria.
— Sempre que ela renasce, Sapabela, compreendemos o verdadeiro sentido da vida.
— Rospo...
— O que é?
— Estou sentindo falta da velha alegria.
— É o primeiro sinal.
— Que sinal?
— De que Ela irá renascer novamente.
— Que seja então bem-vinda.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 - 391
Marciano Vasques
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