segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O GRANDE ARTISTA

— Cada sapo é um ator na bonança ou na ventania. O que traz o espírito da dor traz também a alegria...
— Do que está falando, Rospo?
— Do grande artista que nos pinta numa tela infinita...
— Que artista é esse?
— Está vendo aquele musgo na pedra?
— Sim, é uma pedra enorme, e tem muito musgo...E o que isso quer dizer?
— Que o musgo está lá...
— Claro. E a pedra também...
— Pois é.
— Pois é, o quê?
— O musgo se agarrou na pedra, e vai cobri-la...
— Ela não se importa...
— Naturalmente. Pois é uma pedra.
— Então...
— Então, que não somos pedras. Não estamos parados, imóveis. Estamos acompanhando o grande movimento sincronizado do universo...
— Que artista é esse?
— Artista?
— Você que falou.
— Ah!, é o tempo.
— O tempo é o grande artista que nos pinta numa tela infinita, vai tracejando o nosso rosto com pedrinhas de brilhantes que são os refúgios das estrelas, e plantando sulcos, e cravando rugas em nossa face... Espelhando a nossa alma em cada dizer, em cada gesto, em cada querer...
— E não se esqueça...
— ?
— O que traz o espírito da dor traz também a alegria...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 445

Marciano Vasques
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