sábado, 26 de fevereiro de 2011

O SAPO E O PLACEBO

— Sapabela, você costuma dizer que suas roupas não combinam, e que às vezes é meio atrapalhada... Mas é tudo o que mais gosto em você...
— Seus olhos de amigo, tesouros cristalinos em minha vida, Rospo... Mas ligou dizendo que queria falar algo sobre placebo... Bem, aqui estou. Você liga, eu venho correndo... Não se pode deixar um amigo na mão, e essa praça está linda...E o sol irradia toda a imensidão do sábado...Veja aquela rosa! Talvez fira o beija-flor com algum espinho, mas ele sempre será um colibri apaixonado pelas sua pétalas... Ele será sempre o bailarino que irá perambular sobre a rosa...
— Amo a agudeza das suas observações. Bem, devo confessar que esse papo do placebo é o segundo motivo da minha ligação, o primeiro foi o sorvete...
— Rospo, isso você não precisa confessar... A sua ligação já é uma confissão disfarçada. O que mais pode ter de pitoresco e de encantador numa amizade do que um sorvete com uma boa conversa?
— Pois é, vamos ao placebo... Você sabe o que é placebo?
— Sei, e porque quer falar sobre ele?
— Porque quando estive quase a pedir ao governo do brejo uma indenização pelos danos mentais que a televisão com a sua programação causa nos sapos...
— Mas também tem coisas boas na televisão...
— Concordo, mas como o filtro da educação não atingiu a maioria, ocorre que os danos muitas vezes são irreversíveis, principalmente nos sapinhos....
— E o que tem o placebo?
— A televisão às vezes é posta como um remédio para compensar o cansaço e o sofrimento, o desgaste de um dia de trabalho e de insatisfação, então o sapo senta ou deita no sofá, pega o controle remoto e pensa que estará diante de um calmante, uma endorfina... que irá apaziguar o seu cérebro e trazer calma e paz ao seu coração...
— Mas, ocorre que...
— Ocorre que a televisão é um placebo, mas um placebo de efeito contrário...
— Explique...
— Ao invés dela ajeitar a mente do sapo para ele esquecer os problemas e retornar ao novo dia revigorado mentalmente, o placebo de tela o torna mais alienado, e  aí, vai corroendo a sua integridade e a sua saúde mental...
— Nossa, Rospo! Que loucura!
— Pois é.
— E esse livro que está carregando?
— É um antídoto...
— Antídoto para o placebo de tela?
— Para a rotina, para o desgaste mental, para o caos diário, para as perdas...
— Livro é sempre um antídoto?
— Sempre. Contra o veneno do vazio cultural imposto pelos que se convenceram de que o dinheiro tem a força de deformar consciências...

— Chegamos. Já escolheu o seu sabor?


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 454
Marciano Vasques
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Um comentário:

  1. AH! amigo, que texto profundo bem humorado, maravilhoso, parabéns!
    Vamos ao Sorvete...
    Luz
    Ana

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