domingo, 27 de março de 2011

A TERCEIRA IMENSIDÃO

Na mansidão da imensidão do mar se dão as melhores conversas, e lá estavam os dois amigos num passeio.
— Rospo, como é bom caminhar na areia! Quer ser sócio do ócio? Pelo menos hoje?
— Sim, Sapabela, hoje é domingo de outono, e cá estamos nesse passseio. Logo mais a excursão vai embora, então vamos ao ócio, aliás, o ócio sempre foi necessário...
— Lá vai ele me jogar nos braços socráticos...
— Certa vez, um Sapo amigo, ao ver esse azul imenso, essa vida de preguiça, de mar e espumas e escunas, questionou sobre a necessidade da filosofia...
— É assim mesmo, Rospo. Diante de tanto azul, tanto mar, e tanto amar, até parece que a filosofia não é necessária... Que ela só é necessária no agreste da alma, nas agruras e na dor... No sol penado e no labor, no suor e no sofrimento... Onde tiver pedra para lapidar, ele se faz necessária, mas aqui,nesta areia morna, neste mar imenso de ciano e de águas claras de verde transparente, para quê a filosofia?
— Sapabela, veja que lindo é o mar! Nossos olhos teriam que sempre estar com o mar no pensamento...
— Olhos pensam?
— Sim, os olhos voltados para o mar, traduzem a imensidão em si mesmo.
— E quando não tiver mar nem condições concretas para nele se pensar?
— Na verdade, o pensamento não requer nem uma lasca de concretude, mas se o mar estiver difícil de chegar, é só erguer os olhos....
— Sim, compreendo. Tem o céu...
— Como vê, a imensidão não cansa de nos piscar.
— E quando alguém estiver numa circunstância na qual nem o céu pode ver?...
— Se estiver numa condição subterrãnea, apele para a terceira imensidão.
— Existe isso?
— Claro. Está dentro de você, em você. Quer imensidão maior?
— É verdade! Voa imensidão! Voa pensamento!
— Sapabela! Vamos correr na areia morna?
— Correr? Eu estou voando, Rospo!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 500
Marciano Vasques
Leia CIANO

Um comentário:

  1. Meus pensamenstos sempre voam na imensidão da Casa Azul..
    Luz
    Ana

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