segunda-feira, 25 de abril de 2011

ALMAS NAQUELA CALÇADA

— Rospo, preciso ir, tenho compromisso...
 Cumpro horário, você sabe. Trabalho é trabalho.
— Está gostando do seu novo emprego?
— Trabalho com crianças, e os sapinhos e as sapinhas, sapequinhas, me emocionam... Mas fiquei pensando algo...
— No que pensou, Sapabela?
— Que o beijo não tem fronteiras...
— Beijo é beijo, não é, minha amiga?
— Pois é, a minha boca não tem limites... E o meu beijo não tem juízo...
— Está inspirada hoje, Sapabela?
— É por que chegou o mês dos namorados...
— Nem entramos em Maio ainda... E você já está pensando em Junho?
— Essa vida apressada nos tira o juízo...
— Tira não, põe.Ou melhor, não põe, pois pôr seria tirar... Quero dizer, o que falta é falta de juízo naqueles que se amam...
— Sabe, Rospo, o beijo é um andarilho, um poeta, um bêbado repleto de...
— Luzes!!!
— Não, de uma luz só, intensa, que vem do coração... Lá do reino do "se diz seduz..."
— Então, tem mesmo é que beijar...
— Preciso é encontrar um namorado primeiro...
— Às vezes o que parece tão distante, que a vista nem alcança...
— Chegou o ônibus. Tchau, meu querido! Tchau!
— ... Está tão próximo, ao nosso lado... Bem, ela não ouviu...

E Rospo vai pela calçada pensando na falta de juízo dos namorantes e dos poetas embevecidos da aventura de viver, que faltam num mundo tão certinho onde a pressa é apenas a ponta de uma engrenagem sufocante que aliena e põe na calçada do esquecimento as almas que chovem de anseios.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 550
Marciano Vasques
Leia CIANO

Um comentário:

  1. "Está tão próximo, ao nosso lado...Precisamos estar mais atentos, não è?
    Luz
    Ana

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