sábado, 28 de maio de 2011

SAPOS DE ADEUSES

Rospo encontra o amigo...
— Rospo, por favor... Sem gozação...
— Fique em paz. Sei o quanto é triste ser arrancado do coração de alguém... Lá, você estava hospedado... Viva feliz e encontrava o seu seguro cais... Então, repentinamente você foi despejado... O inquilino amado foi retirado, extirpado... E o coração ficou vazio, sem você...
— É triste, Rospo, é por demais dolorido... Nem imagina o quanto é duro um Adeus, que chega assim do nada, de repente,
— Quisera assim fosse, mas não é... Bem sabe que não é. O Adeus não nasce assim num determinado momento, como se fosse uma fatalidade, um acontecimento inesperado, um fulgor repentino... O Adeus não nasce num estalo...
— Do que está falando, Rospo?
— Lembrei de uma conversa que tive com a Sapabela...
— Mas quero entender...
— O Adeus nasceu bem antes, muito antes... Ele apenas se manifestou em sua conclusão... O Adeus é feito de fragmentos, de momentos... MIlhares de momentos, às vezes. Ele tem uma história, repleta de descasos, desatenções, maltratos, omissões...
— Omissões?
— Sim, omissões. Quando você ver o seu amor com os olhos tristes e sombrios, aguados de lágrimas furtivas, e nada faz, nenhum sorriso atenuante que seja, nem uma pausa no olhar metálico...
— Metálico?
— Exatamente. Diante de um olhar dilacerado, triste... desamparado, quando você nem se toca, e abandona o seu amor à deriva no emaranhado do cotidiano, e se acostuma com desprezos, desatenções... Você está, mesmo sem saber, dando forma ao Adeus, modelando o Adeus, alimentando, nutrindo, abastecendo, e quando se der conta será tarde demais, o Adeus já é algo real, consistente... E você nada poderá fazer... Talvez ir para o espaço...
— Rospo, estão o Adeus dela começou faz tempo?
— Exatamente, isso mesmo! A rotina dos descasos é o alojamento do Adeus, é a porta de entrada... Quando você estava no aconchego, na balsa do amor, no melhor tom, você se descuidou, nem ao acaso reparou que o seu alguém pudesse estar sofrendo por algum motivo, e fez-se de surdo aos chamamentos da alma, do coração...
— Rospo, aprendi a lição, embora seja tarde, aprendi...
— Você não refaz um décimo de amor depois de um Adeus, porque o coração dela, da sapa, é assim mesmo... Um Adeus só vem depois de muito sofrimento e desilusão... E nada poderá ser refeito... Que a lição possa ajudá-lo a tratar melhor os que dependem do seu amor...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 591
Marciano Vasques
Leia em CIANO

Um comentário:

  1. Passando para dizer como é agradável está nesse cantinho,pois amo LITERATURA.
    IVANETE

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