Na manhã que assoviava em beijos de romãs e azul varrido para estontear, lá ia ele, fingindo multidões, mas em sua adorável solidão, e, claro, o sábado despontando no tímido alaranjado de um sol de outono.
— Que sábado! Só falta uma ciranda de poetas num quintal. Quintal? Adoro isso! É tudo de bom. Se for quintal de festa de poetas, então... Mas o sábado está tornando-se dourado, com seus fios de sol aos poucos trançando a vida... Não falta nada. Quer dizer, falta, falta vestidinho.
— Rospo!
— Chegou!
— Falando sozinho?
— Não sapabela, pensando alto.
— Você sempre pensa alto.
— Sapabela, que linda flor amarela nos cabelos!, quer dizer, nos fiozinhos...
— Rospo, não precisa ser tão exato, tão perfeccionista. Mas a flor é para chamar o sol dourado deste sábado friorento...
— Sapabela, preciso conversar algo sobre o Facebook...
— Rospo! Está ficando viciado?
— Não, mas tem uma questão que eles precisam rever...
— Sim?
— Eles precisam mudar, precisam alterar uma "legislação" que diz que você só pode convidar sapos que conhece pessoalmente...
— Questão de segurança...
— Só pode convidar para ser seu amigo quem você conhece pessoalmente...
— É esquisito, não é?
— Sim, você convida quem é seu amigo para ser seu amigo...
— O que aflige você, meu querido?
— Para alguns sapos isso funciona, para outros, como eu, não...
— Explique.
—Adorei o vestidinho. Vermelho. Com babados...
— Explique, por favor...
— O esmalte...
— Por favor...
— Pois é, você fica me distraíndo, Sapabela!
— Eu?
— Vamos lá: eu convido os sapos por afinidades, por interesses comuns. Se o sapo ou a sapa é poeta, ou escritor, ou jornalista, ou editor, ou crítico literário, ou então, se o sapo ou a sapa apenas gosta de poesia, de literatura infantil, etc, então eu convido... Eu vejo no PERFIL, e se encontro interesses iguais aos meus, eu convido...
— Você está certo!
— Mas o Facebook não pensa assim, pois diz que você tem que conhecer o sapo pessoalmente para convidar... Ora, se eu esperar para conhecer alguém pessoalmente, jamais terei novos amigos...
— Você está magoado porque está suspenso e não pode convidar ninguém, visto que andou convidando quem você não conhece...
— Aí que está o equívoco, Sapabela!
— É?
— Veja, todos que eu convidei eu os conheço, não pessoalmente, mas conheço que o sujeito aprecia poesia, escreve livros, gosta de literatura, de artes... A alma, a essência, esses laços eu conheço... Não preciso conhecer pessoalmente um sapo que diz em seu perfil que gosta de artes e de escritas....
—É, Rospo, não dá para desprezar o que você está dizendo...
— Vamos continuar essa conversa?
— Garapa?
— Sim, caldo de cana no sábado logo cedo... Que flor linda!...
— É flor de outono....
— Vamos, que o sábado não costuma esperar...
— É mesmo. Quem bobear, bobeou...
HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 622
Marciano Vasques
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