quinta-feira, 28 de julho de 2011

UMA NOVA LENDA?

—Sapabela, hoje quero falar de um mito bem atual, na verdade, uma lenda.
—Uma lenda urbana?
—Sim, certamente, mais urbana.
—Que lenda é essa?
—Na verdade, é um mito.
—Mito e lenda não é tudo a mesma coisa?
—Não exatamente. A lenda é aceitável como uma narrativa que explica determinado acontecimento, a origem de algo, coisa assim... Mas todos sabem que é uma lenda. Ninguém vai sair por aí dizendo que a loira do banheiro, uma lenda urbana, realmente existe, ou então, que a mãe da oca, ou seja, a mandioca tenha realmente tal origem, como é descrito numa lenda indígena, de nossos povos da mata.
—Entendi, todos sabem que é lenda. A narrrativa é agradável, é apreciada, geralmente é linda...
—De um modo geral, toda lenda é bonita, quer dizer, cada qual tem o seu encanto, o seu mistério, se assim podemos dizer...
—Qual a diferença com o mito?
—O mito torna-se verdade absoluta, para determinado povo em determinada região, em determinada época. Ninguém põe em dúvida o mito. O mito não é uma lenda. Para um povo, o deus do mito é realmente um deus, há uma crença naquilo. Ninguém duvidava da existência de Pã, naqueles dias tão distantes...
—Pã andou por nossas matas, não é?
—Sei, a lenda do Curupira. Pois bem. Mito e lenda são diferentes. Pois a lenda diverte e encanta as crianças, mas todos sabem que o boto cor - de - rosa é uma lenda, mas, só para falar de algo conhecido: os deuses da antiguidade, como Zeus, na Grécia, eram verdadeiros, pois se tratava de mitos.
—Nossos mitos contemporâneos serão estranhos no futuro, não é?
—O carro, o celular?
—Estou brincando, mas sinto que compreendi a diferença entre mito e lenda.
—Claro que foi uma explicação bem simples.
—Ora, Rospo, isso é uma conversa, uma conversa apenas, de não se jogar fora.
—Pois então, é isso.
—Mas, diga: que mito é esse sobre o qual ia falar? É mito ou lenda?
—Pensando bem, é uma lenda, quer dizer, tornou-se uma lenda. Lenda mesclada com mito, pois muitos ainda acreditam que ela existe. Mas como muitos já perceberam que ela deixou de existir, pelo menos aqui no brejo, então é uma lenda, e será bom se todos puderem falar dessa lenda para os sapinhos da próxima geração.
—Estou curioso, Rospo. Que lenda é essa? Mas se existe mesmo, de verdade, não é um mito. Então, é preciso discernir bem. Porém, conte logo! Que lenda é essa?
—A privacidade. Essa é a maior lenda urbana que está surgindo. Logo todos contarão narrativas para os pequenos, falando dessa lenda, contando que outrora, num tempo passado, a privacidade existiu.
—Nossa, Rospo! Que lenda terrível.
—Lendas surgem, não é?
—Rospo, mas tal coisa, isto é, a privacidade, já existiu. Então, uma lenda pode ter uma fonte, quer dizer, uma origem real?
—Bem, isso é meio difícil de assimilar, mas a privacidade, que se foi, se dissolveu, quer dizer, está indo embora, está sumindo na neblina do tempo, essa privacidade, tornou-se uma lenda para que seja um sinal de que é preciso se almejar algo que já tivemos.
—Rospo, vou pensar muito nisso. Essa lenda está me deixando curiosa demais. Bem, vou ao facebook, preciso postar uns versos.
—Vou com você, Sapabela.
—Mas, e a minha privacidade, Rospo?
—Nem sabia que você já convivia tão bem com uma lenda.

HISTÓRIAS DO ROSPO — 2O11
 História nº646
Marciano Vasques

2 comentários:

  1. Marciano, um mínimo de privacidade é necessário, acho que é preciso pensar nisso. Um abraço, Yayá.

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  2. "A Privacidade se tornou uma lenda"..
    È isso mesmo amigo! Agora, lenda para mim são nossos queridos Rospo e sua amiguinha.
    Luz
    Ana

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