domingo, 25 de setembro de 2011

PARLENDAS E LUAS

—Rospo, adoro parlendas!
—Eu também.
—Veja, hoje é domingo pede cachimbo, hoje é sábado pede quiabo.
—Diabo?
—Quiabo, Rospo! Quiabo com carne, batatas...
—Entendi. Prossiga.
—Hoje é segunda, pede...
—Cuidado com a rima, Sapabela.
—Não seja bobão, Rospo. Hoje é segunda pede sábado.
—Ora, Sapabela. Como segunda pode pedir sábado? Está ainda no começo da semana.
—Ora, Rospo. Quando chega a segunda eu já sinto como a semana está demorando a passar.
—Não me faça rir, Sapabela, ou melhor, faça. Mas você tem razão. Segunda pede sábado, pois sábado representa a alegria, o despojamento, a soltura da alma, a vivacidade do riso. Nós amamos o sábado.
—Principalmente se ele já começa com sorvete.
—A segunda-feira é cinza.
—Mas é assim por causa da exploração sofrida pelo trabalhador. Ele se sente acuado, numa rua estreita, sufocado por doar o seu sangue e a sua força em troca de um salário que o obriga a comprar um CD pirata para levar a música para casa. Se fosse feliz!... —pois o trabalho pode sim causar alegria. Não é o trabalho que entristece o trabalhador, não é o trabalho que acinzenta a segunda-feira. É a exploração.
—Bonito, Sapabela. Nunca a vi falar de algo assim tão arrojada, de forma tão envolvente...
—É que a segunda-feira precisa recuperar o seu brilho original...
—Que brilho?
—Ora, Rospo, a segunda-feira é lunar, é o dia da Lua. Por acaso, se esqueceu?
—É mesmo! Vamos então levar um pouco do sábado para a segunda? Que tal amanhã um sorvete?
—Levar saturno pra Lua? Bem, eu gosto. Colheita com mistérios. Uma boa mistura.
—Sapabela, esquecemos!
—O que, Rospo?
—O assunto da conversa era parlendas. E tem uma coisa. Sábado não rima com quiabo.
—Tem razão. Quer saber? Hoje é sábado pede domingo.
—Rimou melhor.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 681
Marciano Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog