domingo, 25 de setembro de 2011

SOB AS LUZES DA CIDADE

Lá ia ela, mais Sapabela do que sempre, com o sorriso de dominguinho já se indo, mas firme na sua resolução de ser sapa, a todo o custo. Linda com tal lacinho, com tal brinco, e com tal anel que só a imaginação pode pôr em seus dedos, mas lá ia ela, com seu vestidinho, a sua
blusa, as suas roupas que nunca combinaram, porque ela é assim. Ela é a que se pudesse rolaria no gramado com as crianças, se pudesse levaria o seu sorriso para alargar todas as ruas. Ela que não aceita uma música, se é que assim se pode chamar, uma música com letra ofensiva para com a sapa. Ela, Sapabela. Ela é ela, e isso é que a torna respeitada e admirada pelo seu melhor amigo, e por todos. E tem mais, se alguém dela não gosta, pode acreditar, "bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou...". E então, assim, no domingo que vai mesmo se espichar, ela encontra o seu amigo. Se fosse em outra cidade talvez estivesse o céu enluarado, mas ela já se tornou enluarada só por brincadeira de criança. E então...
—Rospo, que maravilha encontrar você! Como é bom encontrar um amigo!
—Sapabela, você está linda, como sempre... Tudo e tudo e tudo.
—O esmalte?
—Sim.
—As minhas roupas atrapalhadas?
—Sim,
—O toque lilás?
—Onde? Onde? Onde?
—Calma, Rospo. Aqui, no brinco.
—Sim, bem, deve até compreender que ao falar de lilás, a última coisa que eu iria pensar é a orelha...
—Rospo! Não me faça rir. Ou melhor. Faça!
—Sapabela, você é toda alegria de viver. É uma ciranda de mil cores...
—Sou uma sapa tão simples, Rospo.
—Por isso mesmo.
—Rospo, tem horas em que eu fico triste.
—Eu sei, é por causa das covardias do mundo, não é?
—É, Rospo, e por tudo o mais, pela minha forma de ser...
—Ué! Mas você é um encanto de circo, um picadeiro de paixões alegres...
—Essa é a questão, meu amigo. Eu quando amo só sei amar intensamente.
—E isso não é uma coisa boa? Eu também a tudo amo intensamente. Quando eu era um menino, um sapinho, e ia colorir um desenho, já amava o lápis de cor antes de o tirar da mochila...
—Rospo, estou falando do amor de uma sapa por um sapo... Amo intensamente, de forma exagerada...
—E então?
—E então que mesmo amando assim da forma como amo... Sinto-me em solidão...
—Eu sei como é, Sapabela. Mas vamos combinar uma coisa agora?
—Vamos!
—Um sorvete.
—Mas já é tão tarde, Rospo! Quer dizer, vamos, afinal, enquanto a cidade tiver luzes, sempre há a esperança de uma sorveteria...
—Então vamos, minha amiga, vamos... E acredite, vai passar, vai passar...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 682

Marciano Vasques

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