sábado, 8 de outubro de 2011

ANTES DE ENTRAR NO CINEMA



Rospo e sua querida amiga passeiam na noite de Sábado, quando ele começa a tocar uma conversa.
—Sapabela, andei lendo num Facebook uma história falando de "morrer em Santos"...
—Preocupado, Rospo?
—Não, minha querida. Apenas pensamento ligeiro. Um Pégasus que já passou.
—Vamos ao cinema?
—Sapabela, eu que ia convidar!
—Mas é que demorou muito.
—Sabe, minha amiga. Quando estou com você, às vezes me ponho a pensar na imensidão.
—Eu também. O azul infinito, as estrelas errantes como eu, esse imenso às vezes me assombra.
—De vez em quando penso coisas tristes...
—E como faz para espantar?
—Penso em você, na sua amizade, na sua presença forte.
—Fico feliz por contribuir com algo.
—Você é toda presença que eu preciso para seguir em frente.
—Sua elegância, Rospo, até me enrubesce. Nem sei se mereço essa consideração.
—Penso naqueles que depositam seu coração num amor e depois se sentem desamparados com súbitas partidas.
—É duro, Rospo. Se o mundo fosse diferente...
—Como assim?
—Se não existissem esses sapos que sofrem por amor em plena época digital, em plena era tecnológica, como seria a vida?
—Nem sei, mas sei que a porcentagem maior da beleza que se produz nas artes, na Música, nas letras de Rock In Roll, os fados de Portugal, as guarânias, e na poesia, os grandes romances, são por causa dos grandes amores. Os grandes amores sempre me comoveram...
—E os amores do cotidiano, na vida simples do povo, os amores dos sapos que vivem suas vidas na cidade dos amores...
—Cidade dos amores?
—Sim, a cidade onde vivemos é dos amores, em cada esquina, num vagão de metrô, nas galerias, em todos os cantos, tem um coração pulsando por amor...
—Verdade, mas quero dizer que ao mencionar os grandes amores, quis também me referir aos amores do cotidiano. Na verdade, Sapabela, veja que todos os amores são grandes por si. Os sapos que não sabem.
—Por que é assim, Rospo?
—Assim, como, Sapabela?
—Por que esse sofrer por amor? Por que não se pode viver sem isso? De onde vem esse galanteio da alma? Esse estatuto?
—Veja, minha doce amiga. Atravessamos uma época difícil, para nós, que temos os peitos sujos de bolero, e amamos viver a aventura de amar. O coração está partilhado, melhor dizendo, estilhaçado no vento da vulgaridade que sopra através das músicas de letras inaceitáveis...
—E a liberdade de expressão, Rospo?
—Não tem nada a ver com isso. E tem algo que preciso dizer, antes de entrar no cinema.
—Pois diga então...
—Você é tão paciente comigo.
—Estarei sempre ao seu lado, Rospo.
—Estou meio fragilizado, Sapabela, não fique falando assim.
—Mas é verdade, Rospo. Não importa nada. Estarei sempre aqui, ao seu lado. Mas diga o que precisa antes de entrar no cinema.
—Sempre serei um intransigente defensor da beleza nas artes.
—Jamais duvidei disso um só momento.
—Então, não se pode confundir protagonismo com essa estupidez...
—Como se pode resolver isso, Rospo? Como evitar a influência dessas letras imbecis no desenvolvimento da criança,  exposta a essa coisa tão perniciosa.
—Uma alternativa, a melhor de todas, é pôr em suas mãos os livros infantis, que todas as crianças precisam ler. Depois fazer chegar até elas uma aquarela de canções que precisam  ser ouvidas.
—É uma missão, não é, Rospo?
—Claro, Sapabela. E não é fácil. Mas o que me alegra e aquece o coração, é saber que nascemos para tentar. Para abrir as cortinas, somos os focos de luzes. Jamais perca isso de você.
—Eu? Sou vela votiva,  que não se apaga. E não é um sopro de vento assim tão miudinho de vulgaridade que irá tirar de nossos corações essa forma de sentir, de amar e de cantar.
—Sapabela, posso dizer algo?
—Pode sempre, Rospo.
—Não se afaste jamais.
—Acredite, meu bem, estarei sempre aqui.
—Vamos lá, Sapabela. Que a tela grande espera.



HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 690
Marciano Vasques

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