domingo, 23 de outubro de 2011

SOB AS LUZES DO SHOPPING

 SOB AS LUZES DO SHOPPING

Enxuguei o  poema e fui ao shopping.
Pessoas sorrindo...
Posso até ser um fantasma alegre.
Mero espectro em azul, 
Mas fui.
As luzes do shopping nos rostos
Lilases e outras,  faces se abrindo
Em girassóis.
Promessa no ar
Promessas sempre flutuam
Nos estilhaços das almas.
Estou curado de você!
Queria para comemorar,
Um só poema de Gullar.
Curado!
Do seu encanto, sua fraqueza,
Seus dizeres, suas promessas
Seu labirinto.
O vinho tinto que jamais
Tornou-se taça
Ou graça, ou sedução autêntica.
Estou curado de você!
E andei.
Andarilhei-me. E o espanto
Ao ver que estava até sorrindo.
E quase quis dizer, o mais alto que pudesse:
Um homem está feliz!
Vejam todos! Um homem feliz!
Como se fosse eu
O último cigano, um palhaço, um marciano,
Coisa que quisessem os jovens que passeiam
Na suposta liberdade sem alma embevecida.
Um homem está feliz!
Isso não tem preço no planeta.
Meu poema que você molhou
Nas lágrimas de quem não perde o hábito
De chorar
Por amor.
Nem sabe o que é isso:
Acordar sem desejar
Seu corpo junto ao meu.
Saber que já se foi, morrendo
Na neblina, a louca vontade
De beijar os lábios seus.
Minha boca, que seca de saudades
Tanto procurou os seus seios,
Boca que só entendia
De beijos,
E provou o amargo
Do não dizer.
Estou curado de você!
De sua alma, de seu ser.
No coração que  você pulsou
Um alegria intensa abre-se em florir.
A felicidade não tem jeito:
Suporta o tempo de sofrer,
Mas não cabe em si no contentamento
De voltar, de renascer
Em outros corações.
Eu que compreendi a solidez da solidão,
O desespero de um homem enlouquecido,
Nada mais tenho a dizer.
Tem mais vida no perder
Quando nos abrimos
Para o renascer.
Que maravilha! Que coisa imensa!
Outro homem beijar a sua boca,
Acariciar seu corpo, tocar nela,
Entrar em você,
E eu não me importar,
Nem sequer ser arrastado pelos
Pensamentos de ciúmes, nem acreditar
Que isso poderá
Uma vez sequer
Magoar meu coração
Ou estremecer meu corpo
No febril desejo a me assolar.
Sei que é tolice acreditar
Que um homem possa caminhar
Sem a companheira,
Por isso eu vi,
No súbito clarão
A minha ousadia de vida,
A maior que poderia ter,
Que é justamente
De você me libertar.
E sei que a vida se abrirá
Num abraço de luz e decisões
Que um novo amanhecer há de trazer
Num sorriso de mulher.



Marciano Vasques

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