segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O BARULHO DO TREM

Na estação ferroviária, Sapabela despede-se do amigo Rospo.
—Estou tão feliz, Rospo! Será uma grande experiência de vida trabalhar na ONU, na comissão dos Direitos Humanos.
—Também estou feliz, minha amiga. Vai poder visitar vários países. Onde reinar um regime ditatorial, onde houver indícios de tortura, lá irá você. Estou muito orgulhoso.
—Eu também, Rospo. Ditadores do mundo, tremei-vos! Acredite, Rospo, usarei a tribuna da  ONU para espalhar a minha voz. Onde houver uma Sapa, seja na África, na Europa, onde uma só sapa existir, o meu grito ecoará, pois serei intransigente com o sofrimento e a opressão.
—Poderá correr risco de vida.
—O pior risco é a omissão. Você pode morrer de omissão. A sua própria omissão o matará, pois ela o perfura por dentro. Tchau, meu querido amigo! O trem está chegando. Abraça-me forte!
—Esse abraço não será o último, pois eu a abraçarei diariamente em pensamento.
Ao ver a amiga entrando num vagão, Rospo dá um berro, mas o som da locomotiva não deixa a Sapabela ouvir.
—Sapabela, quer ser minha namorada? Quer namorar comigo?
—O trem deixando a estação e a Sapabela aflita na janelinha.
—"Por qual motivo ele agita tanto os braços? Está me dizendo algo! Seja lá o que for, direi SIM!"
—Sim, Rospo! Sim!
—Na estação, o pobre sapo desconsolado.
—Não consegui ouvir nada por causa do barulho do trem. Moço, ouviu o que ela disse? A senhora ouviu?
—Não, Sapo, acalme-se.


Então, chega a Sapabela:
—Rospo, você adormeceu sob a árvore da praça!
—Estava fazendo a siesta, Sapabela. Sempre depois do almoço... Mas, que sonho! Que sonho!

—Sei que não gosta de contar sonhos, mas esse me contará um dia, Rospo?
—Verdade, Sapabela, não gosto de contar sonhos do sono, mas os sonhos da vida sim. Porém esse eu contarei um dia, entretanto, não será numa estação de trem.
—Deve ter sido um sonho belo.
—Tão belo quanto o seu coração, a sua alma.
—Sei não, Rospo, mas sinto orgulho por ter um amigo assim meio maluco.
—Isso é um elogio, Sapabela?
—Rospo! Nesse seu sonho já existia celular?


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 714
Marciano Vasques

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