segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

BLOQUEANDO CONTEÚDO?

—O frete é grátis, Sapabela.
—Que frete, Rospo?
—Para entregar o meu coração. Não tem frete, é só querer.
—Já tenho o seu coração, amigo.
—Já?
—Sim, a poesia que escrevo, a que leio, a que respiro. Os jardins que encontro, as nuvens, o azul, a brilhantina do céu, o sorriso de cada criança.
—Sapabela, tudo o que falou são sentimentos seus, coisas que recolhe na vida. Está confundindo de coração, está falando do seu.
—Rospo, quando temos um amigo querido, os nossos corações se unificam, tornam-se um entrelaçamento só. Por isso que amigo é sinônimo de alegria.
— Amigos se conquistam. Tornam-se fiéis. Sapabela, falando em amigos...
—Sim?
—Se estivesse no Facebook, bloquearia conteúdo para algum de seus amigos, que escolheu ou aceitou?
—Jamais! Pergunta boba, Rospo. Sou Sapabela. Como poderia eu fazer isso com um amigo? Mesmo que fosse um amigo do Facebook?
—Tem sapa que faz isso.
—Por qual motivo uma sapa faria isso com um amigo?
—Lá sei!
—Laçou?
—Lá sei, menina.
—Entendi.
—Ainda bem que entende na segunda tacada.
—Tacada?
—O motivo pode ser, e geralmente é, o surgimento de algum namorado, alguma paixão. Então elas costumam mudar o comportamento, não todas, não estou generalizando. Mas algumas sapas agem assim.
—Sapafraca.
—Sapafraca?
—É gíria para sapa que faz isso, que por causa de namorado ou paixão chega ao ponto de bloquear fotos, mensagens, enfim, conteúdo para um amigo. Tem certeza de que isso acontece? Não creio que uma sapa venha a modificar o seu comportamento com um amigo por causa de algum amor.
—Sapabela?
—Sim?
—Venha para o Facebook!
—Não, Rospo, por enquanto prefiro ficar de fora.
—É repleta de princípios, não é?
—Princípios, meios e fins.
—Princípios vêm de principal, não é?
—E principal de príncipe.
—É pois.
—Entendo. Rospo, quero um livro para ler. Tem algum para me emprestar?
—Curiosa essa coisa de emprestar livro.
—Como assim?
—O livro, que é o objeto, você empresta, mas a leitura você dá.
—Quase verdade. A leitura não é dada, é repartida. Rospo, preciso dizer algo.
—Diga.
—Não leve muito a sério certas coisas.
—Compreendo. Mas, diga, se um amigo a bloqueasse, bloqueasse conteúdo para você, faria o mesmo?
—Eu? Jamais!
—Mas ele bloqueou o Face para você!
—E daí? E eu com isso? Isso é problema dele, com a consciência dele. Tenho mais o que pensar, e quer saber?
—Quero!
—Posso rir bem algo?
—Pode, gargalhada ao luar é como cantando na chuva.
—E bebendo o canto, meu amor.
—Sapabela, convido-a...
—Aceito!
—Vai aceitando sem esperar eu terminar, vai.
—Rospo, quem tem um cara como você como amigo, só espera tudo de bom.
—Está bem, vamos ao sorvete.
—Posso falar mais uma coisinha?
—Pode.
—Meu conteúdo jamais estará bloqueado, dentro ou fora desse tal Facebook.
—Conteúdo de pensamento, de ideias, de amizade, certo?
—Certo, o que você pensou?
—Que alguma indústria fabricasse vestidinho invisível.
—Pronto! Demorou.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 728

Marciano Vasques

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