quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ENTULHO NA PRAÇA?

Um sapo joga entulho na praça.
—Pare, meu amigo! O que está fazendo? Pare!
—Ficou maluco? Estou jogando entulho e ninguém tem nada com isso.
—Eu tenho!
—Quem é você? Por acaso um fiscal da Prefeitura?
—Um fiscal da consciência.
—Quem é esse sapo?
—Um tal de Rospo. Sempre vem aqui.
 —Por isso mesmo.
—Por isso mesmo o que? Que nome esquisito. Como é mesmo?
—Rospo. Por isso mesmo. Sempre venho aqui. Eis o primeiro motivo para você não jogar entulho na praça. Outros sapos e sapas também querem vir . Trago sempre uma amiga especial. Não tem o direito de querer que ela veja isso.
—Sapo, pare de importunar! O lixo é meu.
—Mas a praça é minha.
—Sua? Está louco?
—Minha sim! Minha e dos namorados, dos namorantes. Minha e de meus amigos, minha família. Cada um é dono da praça porque "A praça é do povo!".
—Também sou do povo.
—Por isso deveria fiscalizar a própria consciência, que afinal, está repleta de entulhos. Tome cuidado: 2012 está chegando, um novo ano virá e você corre o risco de entrar nele.
—Maluco, Sapo? Claro que entrarei em 2012.
—Teremos então tanta sucata para retirar! Estou querendo é que entenda que em vez de promessas no ano novo, seria mais interessante a retirada dos destroços da mente. Isso pode ser feito numa reflexão ainda no dia 31. Que tal vir para cá logo cedo, sentar-se no banco e ficar contemplando o seu entulho?
—Não estou nem ouvindo você, Sapo.
—Eu sei. Vê os reflexos do sol entre os sisais? Entre as folhas que bailam na suave brisa matutina?
—O que tem isso?
—Assim como a verde lisura reflete os raios solares, quem sabe o entulho o reflita.
—Sapo, suma daqui! Tenho mais que fazer.
—Tentava impedir que fizesse.
—Ora, vá plantar batatas.
—Batatas? Final do ano tento sempre plantar flores.
—Pois faça isso!
—Às vezes os entulhos atrapalham.
—Pelo visto queria plantar flores aqui!
—Pelo visto, a praça ficou feia. Agradeço a você, Senhor dos Entulhos.
—Cada uma! Por que não desaparece daqui?
—Até posso.  Todavia tenho a certeza de que a sementinha  semeada agora irá germinar. Poderá não crescer tanto por causa do excesso de tranqueiras em sua mente. Porém ficará ali, num incômodo brilho atiçando o seu olhar. Quiça um dia conseguirá ver o seu próprio escombro. Quem sabe!, Senhor dos Entulhos!

HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 748
Marciano Vasques

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