terça-feira, 13 de dezembro de 2011

SAPABELA VINGATIVA?

—Sapabela! Você é vingativa?
—Eu? Anda com umas perguntas bobas, Rospo! Esse papo de ser vingativa não cola em Sapabela.
—Tem sapa dizendo que Sapas são vingativas.
—Meu bravo amigo Rospo: estereótipo nada tem a ver com Sapabela. Sapas alienadas ou desorientadas  aceitam passivamente essa idiotice e representam esse papel no palco da vida. O duro é que podem ser mães e fatalmente irão transmitir esse engodo, esse equívoco, essa tolice, para as sapinhas do futuro.
—Você me surpreende, Sapabela. Então é folclore.
—Para usar uma catacrese bem famosa, as sapas embarcam nessa idiotização e ficam bradando por aí,  até acalentando piadas, implantando que as Sapas são vingativas. Como se fosse da natureza delas e não uma construção cultural.
—Aprendo tanto com você, querida.
—Só me interessa o que vinga, Rospo. Só o que frutifica, floresce... Vingança é rapina do pensamento.
—Como é bom ouvir isso.
—Imagina que eu vá ocupar a minha mente e gastar as minhas energias com  essa besteira? Essa coisa de ser vingativa? Minha energia é preciosa, não para baboseira.
—E se um sapo magoá-la? Se por acaso até mesmo desprezar os seus sentimentos, coisa assim?
—Ora, Rospo, ele que siga os seus passeios. Eu? Quero mesmo é gastar as minhas energias com coisas que enriquecem e fortalecem: um bom livro, uma música sempre, uma alegria de viver, novos amigos, novos projetos, os sonhos, a garra...
—Agarro!
—Deixe-me terminar: A garra e a intensa alegria de ser EU, a sapa que ousa se chamar Sapabela.
—Minha amiga, como você se preserva! Como se cuida!
—Rospo, descobri algo.
—Sim?
—Sou única, entende? Já tentei procurar, mas só existe uma EU. Aliás, a única coisa que não admite duplicidade é EU.
—Obrigado, Sapabela. Saberei pensar melhor quando ouvir certas coisas.
—Nem precisa, Rospo, bem sei que tem amigas sapas que estão acima dessa flutuação oca. São sapas que condizem com o chamamento poético da vida.
—Sapabela, já é tão tarde, gostaria até de um sorvete. O que está fazendo?
—Abrindo meu dicionário de bolso.
—Para que?
—Procurar o verbete TARDE. Preciso saber o que é isso.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 729

Marciano Vasques

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