sexta-feira, 6 de abril de 2012

NUMA SEXTA DE LUAR

Sexta-feira, lá vai a Sapabela sabadoficando seu coração, tremeluzindo ao luar. Vontade de abraçar, de cantarolar, de cantar alto, de abrir sua voz na voz do vento suave de outono que roça a noite, glorificando a sexta.  Então:
—Rospo! Aqui Rospo! Aqui, deste lado!
—Sapabela! Também veio "curtir" a Praça Azul?

—Sim, Rospo. Não podia perder esse luar. E você?
—Passeando, Sapabela. Aprecio ver a silhueta do Parque de Luzes. A vida é bem melhor sempre. O vento ao rosto renova a vida. O que vale tudo isso?
—Sei não, Rospo, talvez todos os corações aflitos de poesia que nos presentearam com os mais lindos escritos. Talvez a alegria pura de cada criança. Sei não.  O que sei é que não podemos perder esses momentos. Estou conquistada de poesia.
—Mas o mundo está muito agitado, amiga. Uma profusão de confrontos, uma colisão de desencontros. Todos falam e ninguém escuta ninguém. Assim parece.
—Não exagere. Sei que as sociedades anfíbias estão complicadas e confusas. Talvez seja pelo fato de que estejamos atravessando uma época de graves mudanças, e toda travessia deixa sequelas, mesmo que apenas em marca d`água na alma.
—Marca d`água indelével, se me permite.
—A felicidade está no que é simples, puro e autêntico. Rospo, será que estão digitalizando a felicidade?
—Do que fala, minha querida?
—O ensino caminha para ser digital, tudo é direcionado para o virtual. Fico até pensando: um sapinho encanta-se com o mundo digital.
—É uma novidade atraente. Não pode ser desprezada. Mas tenho a impressão de que o simples permanecerá como o guardião da felicidade.
—O corpo tem múltiplas linguagens nos seus dizeres. Ele ainda solicita abraços. Viver é tão generoso, não é?
—É sim, Sapabela. E essa generosidade precisa se espalhar ao redor, para que o mundo também seja conquistado de poesia.
—Que noite maravilhosa!
—É a  mesma noite, Sapabela. A noite de todos os tempos, que é único.
—Eu entendo. A noite é única.
—Atendendo à rotação do mundo, ela se reparte em milhares de noites. Mas sempre é bom lembrar que cada uma dessas noites é imperdível.
—Rospo, quero abraçar você. Posso?
—Yupiiii!
—Pare de ser barulhento! Será que não toma modos?
—Fiquei empolgado com o seu pedido.
—Então por que está aí parado?


Após o abraço:
—Vamos por aí, Sapabela. O mundo ainda será conquistado de nós.
—Pôxa, Rospo!
—Quase disse o que não se pode calar.
—Não se preocupe, amigo. O  "que não se pode calar" se diz por si mesmo.
—Sapabela. A lua será sempre a mesma, não é?
—Sim, são milhões e milhões de luzes piscando nesse exato momento. Cada luzinha é um coração. Por isso a lua exercerá o seu feitiço por muito tempo ainda.


Na despedida:
—Rospo, preciso dizer algo.
—Sim.
—Pode mundos eclodirem, estilhaços de diálogos morrerem entre muitos, pode aventuras serem amputadas, mas, o nosso abraço foi a coisa mais importante para mim hoje.
—E tem algo mais que eu também quero dizer, Sapabela:
—Pois diga:
—Sapo abraçado já não é só de si, é propriedade daquilo que "se diz por si".
—Tchau, querido. Amanhã é sábado. Isso faz lembrar alguma coisa?
—Madrasta má. Espelho...
—Então, lá estaremos. No cinema da Praça Azul




HISTÓRIAS DO ROSPO 2012   — 776
Marciano Vasques

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