terça-feira, 29 de maio de 2012

ELA FUGIU DA FLORICULTURA


—Não é possível! Ela escapou novamente! Deixaram-na fugir. Será que ninguém reparou que ela escapuliu?
Ao alvoroço do Rospo, muitos sapos começam a se aglomerar na calçada.
—Eu estava almoçando e saí do restaurante. O que está acontecendo?
—É um sapo maluco.
—Maluco beleza?
—Que beleza! Só maluco.
Uma pequena multidão vai se formando.
Uma jovenzinha de cabelos azuis e fone de ouvido se aproxima.
—Que está havendo? Aquele sapo está com os braços agitados.
—Não está ouvindo nada?

—É mesmo? Que legal!

E o Rospo continua no escarcéu.

—Vejam só! Ela fugiu da floricultura.
—Sapo, vamos fazer uma entrevista?
—Yupiiii! Vou aparecer na televisão.
—O que está acontecendo?
—Não estão vendo? Uma flor escapou da floricultura.
—Pode nos falar dessa flor? Ela é rara?
—Não estão enxergando? Ali está ela!
—Mas é uma sapa!
—Que visão mais curta! Jornalista deveria estar mais preparado. Não consegue observar que é uma flor?
E Sapabela toda encabulada com a confusão.
—É a terceira vez que esse sapo faz isso.
—Você o conhece?
—Sim, ele já se apresentou na semana passada. Seu nome é Rospo.
—Você guardou o meu nome?
—E dá pra esquecer?
—Por favor, dê-me o microfone um pouco.
—Ei sapo! Você não é o jornalista!
—Por favor, diga ao nosso telespectador como conseguiu viver tanto tempo numa floricultura, e se pretende florir a cidade com as suas andanças.
—Ele está entrevistando a sapa!
—O cara é repórter!
—Deve ser algum golpe publicitário.
—Moça, vai passar no jornal depois da novela?
—Isso não vai passar nunca! Esse sapo tomou o microfone de minha mão.
—Eu também não esqueci o seu nome, é Sapabela. Bonito nome para uma flor. Por acaso já namorou um girassol?
—Rospo, pare com isso! Já disse em nosso último encontro que somos e seremos amigos. Está me fazendo passar um vexame. Veja a multidão. Devolva o microfone.
—Que tal um sorvete?
—Aceito!
—A multidão entusiasmada começa a gritar.
—Ela aceitou! Ela aceitou! Ela aceitou!
—Isso é surrealismo, Rospo! Vamos para o metrô,  e nunca mais faça isso!
—Vejam! Eles estão indo de braços dados.
—Ei sapo! Devolva o microfone!
—Sapabela, é a primeira vez que tomarei sorvete com uma flor.

—Mas precisava desse tumulto só para um convite?

Ao reparar que alguns passageiros estão olhando, Rospo diz:

—Sei que estão curiosos. Mas não se espantem. Ela fugiu da floricultura.

—Não começa, Rospo! Não começa...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 —788
Marciano Vasques

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