domingo, 13 de maio de 2012

LEVE SUA MÃE

—Que culpa tenho se sou uma festa de viver?
—Rospo, a palavra "culpa" não existe em nosso vocabulário.
—Verdade, Sapabela. Foi um erro meu pronunciar uma palavra inexistente.
—Mas entendo o que sente. Essa festa de viver precisa ser plenamente justificada, às vezes. A felicidade é um dom ou uma circunstância?
—Ser feliz é desentulhar os porões da mente. Lavá-la, esfregar o mais que puder com a água límpida do riacho.
—Que riacho?
—O que lava os olhos, a alma.
—Sei, o riacho da poesia. E o que é a poesia, Rospo?
—Está muito perguntadeira, Sapabela!
—Gosto de brincar de "entrevistas". Já fazia isso quando era uma sapinha. Vivia perguntando para as coisas porque elas eram da forma como se apresentavam. Certa vez perguntei a um gafanhoto chamado "esperança", por que ele era verde e daquela forma, tão bonito, tão elegante e simétrico.
—E ele respondeu?
—Não, Rospo, ele saltou. Pulou para outro galho.
—Estava mais interessado em viver.
—Sou feliz por ter um amigo que é uma festa de viver. Conheço muitos sapos tristes. E melindrosos.
—Verdade, às vezes, por um pequeno detalhe desfazem até uma amizade.
Não creio em amizades desfeitas. E quanto aos detalhes, não se que esqueça de que cada tem a sua importância. Sapabela, hoje é o "Dia das Mães".
—Verdade, lembrei do poema de Cristina Rosseti. Aprecio o verso que você gosta: "Ninguém nunca amou minha alma peregrina". Uma coisa que penso é nas canções que narram a trajetória da mãe. Muitas são trágicas. Lembra do "incêndio no rancho"?
—Com efeito. Nem precisamos de  canções trágicas. A mãe sempre será comovente. Veja que a sociedade prioriza a mãe, claro que muitas vezes, só na legislação, pois na vida real, mulheres são agredidas de várias formas, não apenas em certas letras musicais. Também nas filas, e no cotidiano.
—Verdade, mas enquanto ideal, a mãe é a prioridade sempre. E vê como certo a mãe ser idealizada?
—A mãe autêntica é idealizada pelo gesto amoroso do ser. O rosto em prantos de uma mãe é o símbolo maior da estupidez de qualquer guerra.
—Rospo, o que faria se tivesse sua mãe hoje?
—Eu a levaria ao centro da cidade.
—Downtown?
—Sim.
—Uauauau!
—Bem seja.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 784
Marciano Vasques

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