sexta-feira, 27 de julho de 2012

FAGULHAS DAS ESTRELAS




FAGULHAS DAS ESTRELAS


—Yupiiii!
—Já sei! Não precisa tanto escândalo! Já sei que está aí no meu portão. Já desço, Rospo...
*
—Olá, Sapabela!
—Saudades, Rospo! Meu querido. Cinema?
—Yup...
—Não precisa fazer isso! Qual o filme?
—Sapabela, vamos à Praça Azul...
—Vamos!
—Amiga, veja uma estrela cadente!
—Dizem que quando alguém vê uma estrela cadente. Deve fazer um pedido...
—Pois eu peço. Estrela, mostre a causa da sua luz, você que rasga a noite com seu risco luminoso, qual a sua história?
—Estrelas fazem parte do bordado celestial, Rospo.
—Os que se amam inventam estrelas que enfeitam a cidade...
Estrelas com seus farrapos de luzes alumiam os corações enternecidos...
—Qual o mistério das estrelas, Rospo?
—É o mesmo da lua, Sapabela.
—Ela jamais nos abandona, não é?
—Jamais. A lua será sempre dos poetas, dos “que se amam”, e dos enamorados...
Quando eu era um sapo adolescente... encharcava o meu tórax cigano com chumaços inflorescentes de estrelas e me punha durante um bom tempo vagando no pensamento da lua que lá de cima espiava...
—Você sempre foi enamorado, não é?
—Sempre estive nas fortalezas da simplicidade, das coisas que em si trazem a condição da atenção para que tornem o que são.
—O luar se torna viçoso, um viço enluarado que nos fortalece a alma, o coração...
—O luar faz isso?
—Sim, o marulho das ondas também faz isso, as estrelas, e o sorriso...
—O sorriso?
—Exato, a lua e as estrelas no rosto do céu, e a maresia rutilante nas águas iluminadas pelas luzes dos postes da cidade... E os sulcos de um profundo querer na face de cada sapo...
Rospo, quem poderá nos resgatar? Nos salvar, nos preservar? Diga, por favor!
—Um poema talvez, a voz de alguém cantando... Algum timbre choroso no porto... Uma voz trêmula no cais, um sapo morrendo por amor num cálice, todas as solidões nos bilhares...As estrelas inventadas nas juras de amor entrelaçadas...
—Chegamos. Vamos ficar naquela mesa, perto da árvore. Veja que silêncio aconchegante, Rospo.
—Yupiiii!
—Pra que eu fui falar?
—Sapabela, espere um pouco que já volto. Vou buscar algo...
—Diga, Rospo, diga!
—Que ansiedade! Vou buscar o chocolate expresso.
—Rospo, só um pouquinho, traga, por favor! Só um bocadinho...
—O que me está pedindo, amiga?
—Uma fagulha que seja do brilho sincero de uma estrela...
—Sapabela, abrace-me.
—Agora?
—Sim, esse é tempo certo do abraço. O Agora...
—Claro que o abraço, mas, não entendi o real motivo desse pedido...
—É que em você recolho todas as fagulhas fulgurantes das estrelas...


HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 —802

Marciano Vasques

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