FAGULHAS DAS ESTRELAS
—Yupiiii!
*
—Olá,
Sapabela!
—Saudades, Rospo! Meu
querido. Cinema?
—Yup...
—Não precisa fazer
isso! Qual o filme?
—Sapabela, vamos à
Praça Azul...
—Vamos!
—Amiga, veja uma
estrela cadente!
—Dizem que quando
alguém vê uma estrela cadente. Deve fazer um pedido...
—Pois eu peço.
Estrela, mostre a causa da sua luz, você que rasga a noite com seu
risco luminoso, qual a sua história?
—Estrelas fazem parte
do bordado celestial, Rospo.
—Os que se amam
inventam estrelas que enfeitam a cidade...
Estrelas com seus
farrapos de luzes alumiam os corações enternecidos...
—Qual o mistério das
estrelas, Rospo?
—É o mesmo da lua,
Sapabela.
—Ela jamais nos
abandona, não é?
—Jamais. A lua será
sempre dos poetas, dos “que se amam”, e dos enamorados...
Quando eu era um sapo
adolescente... encharcava o meu tórax cigano com chumaços
inflorescentes de estrelas e me punha durante um bom tempo vagando no
pensamento da lua que lá de cima espiava...
—Você sempre foi
enamorado, não é?
—Sempre estive nas
fortalezas da simplicidade, das coisas que em si trazem a condição
da atenção para que tornem o que são.
—O luar se torna
viçoso, um viço enluarado que nos fortalece a alma, o coração...
—O luar faz isso?
—Sim, o marulho das
ondas também faz isso, as estrelas, e o sorriso...
—O sorriso?
—Exato, a lua e as
estrelas no rosto do céu, e a maresia rutilante nas águas
iluminadas pelas luzes dos postes da cidade... E os sulcos de um
profundo querer na face de cada sapo...
Rospo, quem poderá nos
resgatar? Nos salvar, nos preservar? Diga, por favor!
—Um poema talvez, a
voz de alguém cantando... Algum timbre choroso no porto... Uma voz
trêmula no cais, um sapo morrendo por amor num cálice, todas as
solidões nos bilhares...As estrelas inventadas nas juras de amor
entrelaçadas...
—Chegamos. Vamos
ficar naquela mesa, perto da árvore. Veja que silêncio
aconchegante, Rospo.
—Yupiiii!
—Pra que eu fui
falar?
—Sapabela, espere um
pouco que já volto. Vou buscar algo...
—Diga, Rospo, diga!
—Que ansiedade! Vou
buscar o chocolate expresso.
—Rospo, só um
pouquinho, traga, por favor! Só um bocadinho...
—O que me está
pedindo, amiga?
—Uma fagulha que seja
do brilho sincero de uma estrela...
—Sapabela, abrace-me.
—Agora?
—Sim, esse é tempo
certo do abraço. O Agora...
—Claro que o abraço,
mas, não entendi o real motivo desse pedido...
—É que em você
recolho todas as fagulhas fulgurantes das estrelas...
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 —802
Marciano Vasques
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