segunda-feira, 9 de julho de 2012

O BUQUÊ DE CADA UM

—Sapabela, que noite fria!
Estava fria.
Tem razão. Esse encontro de sapos amigos aquece qualquer noite.
Eu já sou feliz só de pensar que no acaso posso encontrar um amigo.
Sapabela, seu espírito é um ramalhete.
Que bonito, Rospo! Sempre desconfiei que tinha um buquê dentro de mim.
Esse buquê é um feixe de luzes. É ele que devemos proteger...
Já sei. Das intempéries do cotidiano...
Pois é, às vezes o cotidiano se torna massacrante. Como reagir a uma vida paralisante?
A vida é movimento, está sincronizada com o universo.
Eu sei. Mas... A Poesia é o protesto primeiro.
A Poesia?
—Sim, mesmo a poesia de amor, do romance entre um sapo e uma sapa...
Rospo, de que forma a poesia é o protesto primeiro?
Quando você se aproxima da poesia, quando atende ao seu chamamento, está se instrumentalizando, usando um dos recursos primeiros contra a vida paralisante, contra a erosão dos relacionamentos oprimidos pela paralisação...
Devo então, escrever poesia?
Escrever ou ler, tanto faz. Você, de um modo ou de outro, está participando do grande movimento de renovação do Ser. Depois da poesia vem as artes, e depois a Filosofia...
Interessante, então a poesia é mais benéfica do que eu supunha.
Claro, Sapabela!
Sendo assim, Rospo, agradeço por ter visto o meu buquê.
É interessante que o espírito não é algo insuflado em você, não é algo soprado.
Não é algo que vem de fora?
Não, Sapabela, o seu espírito, isto é, a sua alma, isto é, o seu coração, isto é, a sua mente, é algo que provém de você, está em você, e se nutre da delicadeza do mundo.
Que delicadeza é essa, Rospo?
A arte, todas as formas de arte representam a delicadeza do mundo.
E os artistas, meu amigo?
O artista é aquele que restaura a necessidade do espírito, senão ele, o espírito, se esquece disso e se perde nos insípidos e incolores emaranhados do cotidiano.
O artista é isso tudo?
Ele é aquele que resgata as coisas que são invisíveis no cotidiano! Que não estão distantes, mas a aspereza, a indelicadeza da vida inautêntica nos impede de tocar.
Tocar é pouco, Rospo.
Tocar, abraçar... Compartilhar. A jogada é fazer como no mundo social, das Redes Sociais, compartilhar, levar conosco, levar em nós, aquilo que nos faz bem, que nos cutuca a alma, que nos esmerilha o olhar, nos embeleza o buquê.
Querido, essa conversa me trouxe a saudade de anis...
Licor!
Aceito!
Eu também!
Rospo, obrigado pelo buquê.
Não me agradeça, o seu espírito está em você...
Estrou me referindo à conversa. Esse é o meu buquê preferido.
Buquê de palavras. Buquê com versos, conversas... Que mais deveríamos querer, não é?
O chocolate cremoso, assim, quente...
Não era licor?
Então... Uma coisa puxa a outra, é igual na vida. A poesia puxa a música, que puxa a pintura, que puxa as artes, que puxa a mitologia, que puxa a literatura, que puxa...
Sapabela,que carrossel!

HISTÓRIA DO ROSPO 2012 — 793
Marciano Vasques


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