—Sapabela, que noite fria!
—Estava
fria.
—Tem
razão. Esse encontro de sapos amigos aquece qualquer noite.
—Eu
já sou feliz só de pensar que no acaso posso encontrar um amigo.
—Sapabela,
seu espírito é um ramalhete.
—Que
bonito, Rospo! Sempre desconfiei que tinha um buquê dentro de mim.
—Já
sei. Das intempéries do cotidiano...
—Pois
é, às vezes o cotidiano se torna massacrante. Como reagir a uma
vida paralisante?
—A
vida é movimento, está sincronizada com o universo.
—Eu
sei. Mas... A Poesia é o protesto primeiro.
—A
Poesia?
—Sim, mesmo a poesia de amor, do romance entre um sapo e uma sapa...
—Sim, mesmo a poesia de amor, do romance entre um sapo e uma sapa...
—Rospo,
de que forma a poesia é o protesto primeiro?
—Quando
você se aproxima da poesia, quando atende ao seu chamamento, está
se instrumentalizando, usando um dos recursos primeiros contra a vida
paralisante, contra a erosão dos relacionamentos oprimidos pela
paralisação...
—Devo
então, escrever poesia?
—Escrever
ou ler, tanto faz. Você, de um modo ou de outro, está participando
do grande movimento de renovação do Ser. Depois da poesia vem as
artes, e depois a Filosofia...
—Interessante,
então a poesia é mais benéfica do que eu supunha.
—Claro,
Sapabela!
—Sendo
assim, Rospo, agradeço por ter visto o meu buquê.
—É
interessante que o espírito não é algo insuflado em você, não é
algo soprado.
—Não
é algo que vem de fora?
—Não,
Sapabela, o seu espírito, isto é, a sua alma, isto é, o seu
coração, isto é, a sua mente, é algo que provém de você, está
em você, e se nutre da delicadeza do mundo.
—Que
delicadeza é essa, Rospo?
—A
arte, todas as formas de arte representam a delicadeza do mundo.
—E
os artistas, meu amigo?
—O
artista é aquele que restaura a necessidade do espírito, senão
ele, o espírito, se esquece disso e se perde nos insípidos e
incolores emaranhados do cotidiano.
—O
artista é isso tudo?
—Ele
é aquele que resgata as coisas que são invisíveis no cotidiano!
Que não estão distantes, mas a aspereza, a indelicadeza da vida
inautêntica nos impede de tocar.
—Tocar
é pouco, Rospo.
—Tocar,
abraçar... Compartilhar. A jogada é fazer como no mundo social, das
Redes Sociais, compartilhar, levar conosco, levar em nós, aquilo que
nos faz bem, que nos cutuca a alma, que nos esmerilha o olhar, nos
embeleza o buquê.
—Querido,
essa conversa me trouxe a saudade de anis...
—Licor!
—Aceito!
—Eu
também!
—Rospo,
obrigado pelo buquê.
—Não
me agradeça, o seu espírito está em você...
—Estrou
me referindo à conversa. Esse é o meu buquê preferido.
—Buquê
de palavras. Buquê com versos, conversas... Que mais deveríamos
querer, não é?
—O
chocolate cremoso, assim, quente...
—Não
era licor?
—Então...
Uma coisa puxa a outra, é igual na vida. A poesia puxa a música,
que puxa a pintura, que puxa as artes, que puxa a mitologia, que puxa
a literatura, que puxa...
—Sapabela,que
carrossel!
HISTÓRIA DO ROSPO 2012 — 793
Marciano Vasques
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