sábado, 28 de julho de 2012

SAPABELA, SOL E LUA, FELIZ...


SAPABELA, LUA E SOL, FELIZ




—Sapabela, está tão feliz! Por acaso, está matando a saudade de algo?
—Eu? Não mato nem formiga... Por acaso, iria matar a saudade? Não cometeria esse crime. Saudade, que venha, quero vivê-la intensamente.
—Se pudéssemos...
—Se pudéssemos o quê, Rospo?
—Dançar na praça. Ao luar, e ver outros sapos e sapas dançando...
—Quem sabe o mundo ainda será assim...
—Mas conte-me o que a está deixando tão feliz...
—Rospo, assim como você é cigarra e formiga, isto é, canta, quer dizer, anuncia a literatura e a poesia do mundo, então, canta e trabalha incessantemente pelo canto...
—Sim?
—Sou lunar e ensolarada ao mesmo tempo. Sou lunar porque sou fêmea, sou a portadora dos mistérios, mas sou o sol que gira em mim...
—Gosto quando fala de você...
—Adoro me vestir, Rospo, com as cores que gosto... Que me importa se minhas roupas não combinam? Sou vaidosa e isso me deixa tão feliz... Jamais recuso uma conversa... Se um dia recusar uma conversa, pode acreditar, estarei tão doente que nem mais estarei aqui...
—Não fale isso, querida.
—Adoro gargalhadas, confio nos sapos que quando falam olham nos olhos... Os olhos são como a janelinha do trem... No caso, as paisagens estão dentro do outro...
—Que mais? Que mais?
—Tenho consciência de que a boca que diz palavras de amor, e de luta pelas liberdades, é a mesma que cochicha no ouvido do ser amado as juras mais sinceras... A boca pela qual entra o alimento em nosso corpo é a mesma que alimenta a alma da multidão quando canta ou quando discursa palavras de amor...
—E o maior atributo da boca é o beijo...
—Sim, no céu da boca, nessa catacrese maravilhosa, estão as estrelas mais preciosas, com a luz atiçada pelos beijos de amor...
—Sapabela, estou impressionado, parece até que está adivinhando que a convidaria para uma taça de bebida de uva...
—Estou feliz! E a medida da felicidade cabe nos verbos...
—E no olhar, no silêncio, num gesto delicado... Num sorriso...
—Enfeites do verbo, Rospo. Enfeites da palavra.
—Sapabela!
—Está pensando o quê, meu amigo? Quando o navio aponta no horizonte, já estremeço de festejos na minha alma pura de cais.
—Duas taças, por favor.
—E um licorzinho de anis, só para celebrar...
—Nunca vi alguém celebrar o vinho que virá...

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 806
Marciano Vasques


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