quarta-feira, 11 de julho de 2012

SER O QUE É, SEMPRE






—Sapabela, como vai?

Vou nas asas da amizade sincera, do amor, da delicadeza, da ética. Como vê, vou alada.

Interessante. Estive pensando: não é justo o que você faz.
Do que está falando, Rospo?
Ora, Sapabela. Está querendo aumentar o índice de ataques cardíacos, de AVC, de neuroses, de doenças somáticas, de...
Espere um pouco, meu amigo. Que estrepolia é essa? Não estou entendendo nada...Excesso de labirintos quem gosta é Minotauro...
Que coisa maluca você falou, amiga. Não me faça, ou melhor, faça-me rir.
Então, diga-me: que papo é esse de que eu sou uma causadora de doenças?, fale, que a aflição já me pegou.
Essa sua aflição tem um nome: curiosidade. Quando eu era menino não conseguia dormir quando me punha no travesseiro a pensar coisas que precisavam de respostas...
Eu também, Rospo, fui uma sapinha perplexa diante da imensidão...
O que acontece é o seguinte: você é autêntica, é sincera, é fiel aos amigos...
Eu sei, Rospo.
Acredita em seus sonhos e luta por eles. É, como diz, meio atrapalhada. Suas roupas não combinam, você que vive dizendo isso.
Meia atrapalhada? Eu sou toda atrapalhada! Comigo não tem essa coisa de “meio”. Ou você é na íntegra ou então...
Pois é. Vai à luta sempre. Tem alma de criança, consegue se emocionar e chorar no cinema. Adora gargalhadas, e abraços, e …
Está mesmo falando de mim, Rospo? Conheço bem alguém assim.
É virtuosa, vive em retidão, não ilude ninguém, não é esperta, adora ler, adora música, recorre à princesa chamada razão, sempre, nas questões da vida, mas se desmancha no reino dos sentimentos, vive cantarolando ...
Agora ele não para!...
Está sempre em paz e em harmonia, é incapaz de sorrir para quem maltrata animal ou criança... Não suporta uma só injustiça... E é linda, elegante...
Vem aí uma chuva de adjetivos...
Você é verdadeira, autêntica. Reparou como isso pode incomodar? Estamos vivendo na época da superfície, da aparência. Alguém por demais autêntico, que vive me virtude, que é feliz, alegre, é vaidosa, é confiável, é forte, adora o vinho, o riso, a cantoria...
Sim, Rospo?
Só pode despertar ciúmes, inveja, esses sentimentos que só fazem mal ao organismo de quem os alimenta. Quando alguém alimenta esses sentimentos sinistros, a sua energia vai sendo sugada, e o sapo fica sem proteção, e sujeito aos problemas que eu falei.
Está certo, Rospo. É interessante. Encontrei pela vida tantos sapos e sapas canalhas, tantos sapos dissimulados..., uns de alma vazia, que a esvaziou no desperdício de energia ocupando-se com o sucesso do outro, em vez de sorrir e ser feliz ao ver que o sucesso de quem quer que seja é fruto de esforço, dedicação, fibra, amor, e audácia, e em vez disso, fica ali se remoendo, e conheci tantos sapos assim, e também arrogantes,e que para ocupar espaço enganam o outro, isso tem aos montes...
Isso tem a granel no mercado das aparências, minha amiga.
Então, Rospo, encontrei os piores caracteres, os “amigos” que ludibriam, que enganam, que usam de artimanhas, de artifícios, de safadezas para chegar lá, e …
E?
E ao observá-los só acumulei forças para continuar a ser o que sempre fui. Ou seja, a convivência com essas deformações da alma só me levaram ao recolhimento de mim, e quando estive com a Sapabela, compreendi, a cada nova manhã, que não importam os desvios alheios, você só tem um ponto de partida: ser o que é. Sempre!
Sapabela, vamos ao chocolate quente?
Claro, Rospo, antes o licor de anis.
O inverno com uma amizade sincera é bem aquecido.
Acredite, Rospo. Eu que sou privilegiada.
Bondade sua. Bem sabe o quando cresço a cada conversa.
Rospo, estou adorando o papo, mas o licor de anis está demorando.
Nem pedi ainda, Sapabela!


HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 794
Marciano Vasques

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