TABLETE E ABRAÇO
—Sapabela!
—Rospo! Que alegria!
—Rospo! Que alegria!
—Pensou
que
eu
não
iria
aparecer
hoje?
—Já
é
muito
tarde.
Já
é
quase
um
novo
dia.
—Cada
dia
é
uma
nova
página.
—Gostei.
Página
me
lembra
papel...
—Do
que
está
falando,
amigo?
—Segundo
uns,
chegará
o
tempo
do
tablete
sagrado.
—Pronto,
voltou
com
tudo.
—É
verdade,
Sapabela.
O
tablete,
ou
o
que
virá,
segundo
algumas
profecias,
substituirá
definitivamente
o
livro,
tal
como
o
conhecemos.
—É
o
que
andam
dizendo.
Claro,
parece
mais
prático.
Uma
biblioteca
ocupa
espaço.
—Pareceu
um
pouco
irônico,
Sapabela,
mas
vamos
em
frente.
—Fale
desse
seu
tablete
sagrado.
—Como
sabe,
os
sapos
juram
pela
palavra...
—Teve
uma
época
em
que
se
colava
o
fio
do
bigode
na
página
do
livro
no
tabelião.
—Num
tribunal
o
sapo
estende
e
pousa
a
mão
sobre
o
livro,
pois
ali
está
a
palavra,
e
ela
é
sagrada.
—O
conceito
de
livro
sagrado
surgiu
no
oriente.
Borges
já
disse
isso.
—Temos
sempre
que
prestar
atenção,
querida.
—Prossiga.
—Bem,
o
tablete
ou
o
que
virá
depois,
irá
substituir
o
livro
de
papel,
correto?
—Então,
o
juramento
será
feito
sobre
o
tablete.
—Sim,
parece
lógico.
—Pois
é,
minha
estimanda
amiga.
—É
estimada,
Rospo.
—Você
sempre
será
estimanda,
pois
estará
sempre
ampliando
o
estimar
em
meu
coração,
o
estimar
é
um
processo
incessante,
está
sempre
em
estado
de
“estimando”.
Tal
como
um
jardim
que
se
rega
diariamente...
—É
o
coração
da
amizade...
—Às
vezes
quando
estou
na
calçada
caminhando,
numa
noite
enluarada...
—Não
tão
fria,
não
é?
—Não
me
faça,
ou
melhor,
me
faça
rir,
Sapabela.
—Pois
então?
—Ponho-me
a
pensar
que
um
sapo
que
caminha
é
mais
do
que
um
sapo
quando
ele
recebeu
um
abraço
de
uma
sapa...
—Uma
namorada?
—Ou
uma
amiga...
—Sim?
—Então,
o
sapo
que
foi
abraçado
foi
enlaçado
pelo
abraço,
e
sendo
assim...
—Sendo
assim?
—Ele
é
um
sapo
que
caminha
com
um
abraço.
Ele
leva
consigo,
em
si,
o
abraço.
Ele
é
algo
além
dele,
é
também
um
abraço,
o
abraço
nele
impregnado
está...
—Então,
o
abraço
não
é
só
no
momento?
—Naturalmente
que
não.
Quem
é
abraçado
passa
a
pertencer
ao
abraço...
E
o
leva
consigo...
Um
sapo
de
verdade
não
consegue
se
separar
de
um
abraço...
—Muito
bem,
estou
entendendo
o
seu
papinho.
Um
pouco
assim
tipo
Cartola,
não
é?
—Ao
falar
de
Cartola
você
me
faz
pensar
na
sua
alvorada,
no
morro
que
ele
cantava...
—Pois
é...
—Bem,
Sapabela,
Vamos
nos
preparando
para
o
mundo
do
tablet...
—Rospo,
todo
esse
assunto
me
fez
pensar...
num
tablete...
—Um
tablete?
—De
chocolate,
Rospo!
—Chocolate
com
abraço.
—Claro...
Depois
estarei
olhando
pela
minha
janela
as
estrelas
que
inventam
brilhos
de
segredos
de
amor...
—Tem
padaria
aberta
ainda.
—Aceito!
—Vamos.
Um
tablete
de
chocolate
é
sempre
esse
algo
que
falta
em
certos
momentos...
Após se abraçarem,
Sapabela diz:
—Certamente
nesta
madrugada
irei
sonhar
com
um
sapo
amigo
numa
calçada
levando
consigo
um
abraço.
—Yupiiii!
—Sem
es-cân-da-lo,
por
favor!
Sabe
que
horas
são?
A
vizinhança
está
dormindo.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 799
Marciano Vasques
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