ALMAS MOVEDIÇAS
Sapabela encontra
uma amiga.
—Olá, amiga! Que
noite bela de domingo.
—Acabou,
Sapabela. Só penso no amanhã. Ter que acordar cedo, trabalhar.
Domingo à noite é melancólico, triste. Não suporto. Já tem o
cheiro da segunda-feira...
—E você, como
vai?
—Tive um dia
produtivo...
—Passei pelo seu
portão e a vi lendo um livro, na varanda... Depois, voltei, e estava
no jardim, acariciando uma flor... Então, deve ter sido produtiva
em outros momentos...
—Movediça.
—E seu amigo, o
Rospo?
—Está feliz. Lançará um livro na Bienal... Eu irei... E você?
—Está feliz. Lançará um livro na Bienal... Eu irei... E você?
—Não poderei ir,
seja o dia que for... Tenho lá eu tempo para Bienal? Além do mais,
depois compro o livro dele.
—Movediça.
—Sabe aquela
nossa amiga, a Colibrã?
—O que tem ela?
—Comprou um vestido novo, amarelo, todo cheio de “Babados” e está desfilando pelo vilabrejo... Pode? Vá ser metida assim na casa do Chapéu, se é que o chapéu tem onde morar...
—O que tem ela?
—Comprou um vestido novo, amarelo, todo cheio de “Babados” e está desfilando pelo vilabrejo... Pode? Vá ser metida assim na casa do Chapéu, se é que o chapéu tem onde morar...
—Movediça...
—O que está
acontecendo, Sapabela? Cada vez que falo você diz: movediça... Está
afundando em alguma areia movediça?
—Eu não,
querida. Estou ´pensando num romance chamado “Almas Movediças”...
—Por acaso vai
virar escritora? Falando nisso, o seu amigo Rospo, ele só escreve ou
também trabalha?
—Movediça.
—Movediça.
—Pronto, só
podia ser amiga daquele maluco. Explique esse negócio de
“Movediça”...
—Nossa alma pode
ser como areia movediça, querida, e cada frase que pronunciamos,
cada sentimento triste, de inveja e coisa assim, vamos nos afundando,
quer dizer, vamos nos afundando na própria areia movediça que
carregamos em nós... Somos o resultado de nossos pensamentos e de
nossos quereres... Podemos edificar jardins ou areia movediça...
—Está dizendo
que tenho em mim uma alma movediça?
—Eu? Imagina. Você mesmo o disse, e diz, a cada frase, cada vez que externa seus pântanos...
—Eu? Imagina. Você mesmo o disse, e diz, a cada frase, cada vez que externa seus pântanos...
—Sapabela, estou
decepcionada com você, pensei que fosse minha amiga...
—E sou, mas não
posso afundar junto.
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 810
Marciano Vasques
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