segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O TEMPO QUE O SAPO TEM




O TEMPO QUE O SAPO TEM


—Rospo, como está o seu tempo hoje?
—O tempo é relativo para todos...
—Eu sei, amigo. É uma das poucas “relatividades” que aceito.
—Incrível como você combina comigo!
—Por isso somos amigos. São os iguais que se atraem...
—Tem sapo que prega que os diferentes se atraem...
—Equívoco, mas fale do tempo... Quanto vale o tempo? Ou melhor, qual é a moeda do tempo?
—A moeda do tempo é a consciência, é a percepção da vida vivida ou desperdiçada, é a garantia de que temos um tesouro precioso que não podemos deixar escorrer entre os dedos...
—Mas disse antes que é relativo... E aquela “lenda” de que tempo é dinheiro?
—É uma invenção do capitalismo que deve ter surgido com as primeiras máquinas da revolução industrial. Trata-se de um provérbio para justificar a exploração e a escravização do Ser...
—Compreendo. Há diferentes tipos de tempo?
—Naturalmente! O tempo na televisão tem um valor diferente. Se você está numa “pousada” ao léu, num dia lindo de brilhar, o tempo se espreguiça...
—Ou se estamos na padaria Rubi com nossas conversas...
—Claro! Mas o tempo na televisão vale ouro, para usar uma expressão antiquada...
—Diga quanto ele vale e por quê...
—Ele vale por atingir uma quantidade maior de sapos ao mesmo tempo, pelo seu poder de difusão instantânea...
—Principalmente...
—Isso mesmo. Principalmente no horário de campanha política...
—Deveria valer menos. Muitos sapos atualmente fogem para a música, para o Facebook...
—Mas ainda vale muito... E seu preço é alto, todavia.
—Qual é o preço do tempo na TV? Dê um exemplo.
—Às vezes, um ou dois minutos pode fazer você perder a sua alma...
—Do que está falando, Rospo?
—São minutos que têm um preço exorbitante e devastador...
—Sim?
—O preço pode ser uma feijoada na casa de um adversário... Com direito à fotos...
—Realmente, o tempo é para uns algo por demais valoroso... Outros o desperdiçam... E você está com tempo hoje?
—Sapabela, nem imagina o que tenho de compromissos!...
—Nem para um sorvete?
—Sorvete? Yupiiii!
—Sem escândalo, por favor! Vou indo, já que não tem tempo...
—Sapabela! Tenho tempo de sobra...
—Mas disse...
—O seu convite, Sapabela, abre uma fresta no tempo, desnorteia Cronos...Vamos ao sorvete, que o tempo está passando.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012    — 811
Marciano Vasques

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