domingo, 9 de setembro de 2012

ÉPOCA DE URGÊNCIAS





ÉPOCA DE URGÊNCIAS


—Rospo, que alegria!
—Sapabela, que alegria também. Aonde está indo?
—Hoje é sábado, dia de feira. Mas, como é bom encontrá-lo!
—Estou tão feliz por vê-la.
—Rospo, diga algo que me deixou curiosa. Tomei conhecimento de que num encontro com intelectuais andou falando da música das jovens tardes de domingo... Isso é saudosismo, amigo?
—Saudosismo seria simplificar muito minha querida.
—O que é então? Fica cutucando a inteligência, os acadêmicos, os intelectuais... Todos sabem que você é apaixonado pela Música Popular do Brejo, além da Música Clássica, e então vem com a canção da alegria dos corações juvenis... Não teme ser chamado de alienado? De brega, quer dizer, acho que ainda existe essa palavra... O que se passa? Se não for apenas saudade, o que seria?
—Necessidade, querida amiga. Necessidade, urgência...
—Por que está necessitado dessa música? Não consegue cativar a alegria, cultivar a felicidade com a leitura de um livro, ou com...
—Não, querida, não é exatamente uma necessidade minha...
—Então, é melhor me explicar...
—É uma necessidade do tempo, da época, dos dias nos quais vivemos...
—Refere-se à voz dos tempos?
—Sim, a voz do grande contador de história...
—Fale mais um pouquinho...
—Veja bem, preste atenção...
—Isso é verso de alguma canção...
—Sapabela. A necessidade, a urgência, precisam ser atendidas. Os dias clamam pela leveza, pela sinceridade, a alegria e a simplicidade. O retorno é necessário para a compreensão, para a abertura do ser...
—Que retorno, Rospo? O tempo não retorna. O que passou passou... Se você perdeu uma noite, ela se foi... Sobre o que está tentando dizer?... Por qual motivo exatamente considera importante divulgar o canto dessas meninas e desses meninos de outrora?
—Sapabela, veja o que acontece. Não ouça, quer dizer, procure saber, apenas... E compreenderá a urgência que a época reclama. O amor pela geração atual pode realmente brotar através desse canto de letras simples e alegria contagiante, e promover o salvamento...
—Não está um pouco exagerado? Sei aonde quer chegar, mas... cada tempo com a sua canção...
—Pois é, Sapabela. A música é como a Arte... Ela traduz a alma do tempo... Mas, o tempo perguntou pro tempo...
—Perguntou o quê?
—Onde estaria a fonte da alegria que poderia modificar o seu sofrimento...
—Nossa!
—Hoje, aqui no brejo, tem uns manos fazendo umas letras...
—Sei...
—Tão chamando as meninas de cachorra, de cadela... Tem uma enxurrada de ofensas e de infelicidade nas letras, principalmente contra as sapas...
—Mas o antídoto, a solução, o suposto remédio, não seria a música popular do brejo? A música de letra elaborada, e não assim, essas, de versos simples...
—Sapabela, imagine uma escada...
—Isso pra mim é fácil... Adoro subir degraus...
—Essa escada é infinita...
—É?
—Os degraus são importantes... nenhum degrau deve ser pulado...
—Respeito todos os degraus...
—Assim é com a escada mágica da consciência...
—Rospo, obrigado. Agora posso cantarolar uma canção?
—Claro...
—Lá lá lá... lá lá lá lá...
—Conheço essa melodia.: “Procurei um amor que fosse só pra mim...”
—Isso!
—Sapabela, vá fazer a sua feira... E como está o seu sábado, hoje?
—Tem umas coisas marcadas na agenda caso surja algum convite...
—É?
—Anotei: Padaria Rubi, à tarde, um passeio de calçada ao luar, à noite, quero terminar o sábado enluarada, um drinque de licor de anis, uma conversa...Vamos ver se aparece algum convite.
—Yupiiii!
—Isso é um convite?
—Até à tarde, querida.
—Lá lá lá lá lá... Lá lá lá lá … “Procurei...”


HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 820
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Oh minhos queridos Rospo e Sapabela.
    Continúo en español.
    Sóis maravillosos. Ahora tyengo una amiga brasileria en Valencia, gracias a vosotros la entiendo bastante bien.
    Perdonad que no os comente a menudo ultimamente ando muy atareada y tengo menos tiempo para estar en el ordenador.
    Beijos para vosotros y un abrazo para vuestro Creador Marciano Vasques, Montserrat



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