domingo, 23 de setembro de 2012

O DISCURSO DO CANDIDATO



O DISCURSO DO CANDIDATO





Rospo, com um dicionário, passeia com sua amiga...

—Uma sapinha adora falar. Como gosta de conversar! Como fala! Como é tagarela...
E além disso, é sempre tão curiosa. A curiosidade da Sapinha é como um carretel infinito.
—Depois, a Sociedade, a família, a igreja, a escola e os adultos ajudam-na a ficar calada. Quando ela crescer geralmente aprenderá a emudecer os seus mais nobres sentimentos...
—Veja, Sapabela! Um aglomerado....
—É um comício.
—Vamos até lá?
—Rospo, hoje é domingo, e além do mais, pelo que sei você foge da política partidária. Não suporta campanha política... E quer ir até o comício?
—Talvez seja divertido.

E assim, os dois amigos se aproximam.
—Vamos ouvir o candidato, Sapabela.
—Estou aqui pra isso, acredite.

E o candidato começa:

—Irmãos!...
—Ei, moço!
—O que foi, Sapo?
—Aqui não é missa, não é culto...
—Por favor, não me interrompa.
—Sou um eleitor.
—Você é um eleitor no dia da urna....
—Sou um eleitor todos os dias, durante quatro anos. Tenho um dia para votar e quatro anos para fiscalizar.
—Esse sapo está me atrapalhando.
—Sapo, você está atrapalhando o candidato. Comporte-se ou caia fora.
—Não fale assim com ele. É meu amigo.
—Por acaso quem é você, moça? Alguma Sapabela?
—Candidato!, meu nome é Rospo...
—Prazer, mas posso, por favor, prosseguir o meu discurso?
—Vai prometer muita coisa?
—Se você ouvir, será melhor.
—O senhor parece bom na decoreba.
—O senhor me respeite! Sou um candidato.
—Tudo bem, já estou só ouvindo. Ele parece bom de promessas, Sapabela.
—E então, prometo isso e aquilo bla bla bla... —assim prossegue o candidato.
—Candidato, quando o senhor descobriu que tinha vocação para promessas?
—Eu descobri quando... Ora! Não encha, meu amigo.
—Sabia que o povo do brejo já não está acreditando tanto em promessas?
—É mesmo? O que importa é que votem em mim.
—Cochicha um pouquinho aqui em meu ouvido...
—Cochichar o quê?
—O poder é bom, não é?
—Assim não consigo continuar com o meu discurso, Sapo...
—Meu nome não vai pra urna, mas ele é muito importante, então, por favor, decore-o como se ele fosse uma promessa.
—Rospo, vamos embora?
—Vamos, Sapabela, aqui está meio sem graça.
—Já vão tarde!
—Dois eleitores a menos.
—Pois não me fará falta. E vão logo antes que meus assessores...
—Tchau, candidato. Essa é a primeira eleição que o senhor irá perder? Vai ser problema, pois se perder, terá que arranjar um emprego, e, pior, terá que trabalhar.
—Desapareça!
—Tchau, “Senhor das Promessas”. Por acaso, se a encontrar no seu caminho, não fuja dela.
—Dela quem?
—A ética. Tome!
—O que é isso, para que eu quero esse livro?
—É um dicionário, tem o verbete “Ética”, caso necessite.
—Nunca mais apareça num comício meu!
—Não precisa ter medo, que não irei mesmo aparecer.

E assim, Rospo e Sapabela se retiram.

—Rospo, não aguentava mais de vontade de rir.
—Eu também, Sapabela. Agora, quero que você me prometa algo,
—Eu não! Não sou candidata a nada.
—Nem precisa, já está eleita...
—Do que está falando, Rospo?
—Eu a elegi como a mais preciosa amiga de meu coração.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 —828
Marciano Vasques

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