O ISQUEIRO DA VIDA
Sábado,
na padaria Rubi, alguns encontros só produzem conversa boa.
—Sapabela,
ainda bem que você veio.
—Rospo,
o dia em que eu recusar um convite para uma conversa...
—Mas
às vezes não tem tempo.
—Na
verdade, penso que não tenho nada, mas uma sapa sabe se reinventar e
inventar o seu próprio tempo. Além do mais, a manhã estava um
pouco nublada e resolvi fazer uma conversão para essa conversa.
—Sim,
um átimo de atenção para o luar pode modificar o rumo de uma
vida... E você, Rospo?
—O
que tem eu?
—Sente-se
a vela do mundo?
—Apenas
velo pela beleza do mundo, Sapabela. Mas não me sinto vela nem
lampião...
—Nem
lanterna?
—Sei não, nunca pensei essas coisas, Sapabela. O que sei é que todos nós, cada qual, deve ser responsável pelos viajantes...
—Sei não, nunca pensei essas coisas, Sapabela. O que sei é que todos nós, cada qual, deve ser responsável pelos viajantes...
—Um
farol!
—Eu?
Bondade sua.
—Sempre
o considerei uma vela votiva, que não se extingue jamais, porém,
hoje, que estou de mar, reparo que você é um farol... E bem sabe,
nasci para reparar...
—Agradeço,
Sapabela, mas nada sou...
—Sem
apelo socrático, por favor!
—E
você, minha linda...?
—Eu,
o que tem eu?
—Está
linda nessa saia azul, mas, por acaso se sente também uma emissão
de luz orientadora dos viajantes?
—Não!
Na verdade, sou apenas o isqueiro da vida...
—Isqueiro?
—Sim...
—Se
tocar?
—Faísca,
Rospo.
—É?
—Acendo.
Sou assim mesmo. Estou mais para isqueiro. Apertou, acendeu...
Faísca, relâmpago: adoro essas comunhões...
—Interessante,
Sapabela. Um farol está lá na imensidão azul sinalizando, uma vela
vai consumindo a sua chama, mas você busca a imagem do isqueiro. É
mesmo assim, relampejante?
—Desde
sempre. Quando eu era uma sapinha, mal o dia raiava e os primeiros
raios solares tocavam em mim, já me acendia para os quintais e para
a alegria de ser...
—Só
falta agora o licor de anis... Posso pedir?
—Não
pediu ainda?
—Yupiiii!
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 814
Marciano Vasques
—Yupiiii!
HISTÓRIAS DO ROSPO 2012 — 814
Marciano Vasques
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