domingo, 9 de setembro de 2012

OFERENDAS!





OFERENDAS!



—Rospo!
—Yupiiii!
—Precisa isso, assim tão alto?
—Meu coração “giramondo” é assim mesmo. Além do mais, que alegria encontrar uma amiga tão preciosa.
—Mas comportar-se às vezes em público faz bem...
—Já nos comportamos demais. Veja que sábado lindo, amiga.
—Que sábado, Rospo? Hoje é sexta-feira. Dia da “Independência” do nosso país...
—Dia do quê?
—Rospo, deixe de ser irônico...
—Culturalmente já somos independentes? Yupiiii!
—Não acredito!
—Você está feliz, Sapabela?
—Totalmente, Rospo. E não tenho culpa de ser feliz. A sua amizade, por exemplo, é um dos motivos, com efeitos colaterais belíssimos, como a arrecadação poética... Cá com meus botões de flores internas, estou bem feliz...
—Eu também... Sou feliz, ao meu jeito. Varro sempre na alvorada as tralhas, os entulhos, os resíduos das mágoas, e sigo em frente. Amo a porta de meu coração, sem trinco, e sigo em minhas roupas sem vinco, e prossigo em frente, sempre, sem máscaras... Prosseguir é Pró-seguir, é estar apto na disposição de desfazer nódoas e nós e abrir leques e edificar girassóis. Aliás, é a única saída: seguir em frente. Sou como a verdade, não tomo jeito.
—Sua amizade me conduz para as reflexões mais preciosas. Toda amizade autêntica merece um brinde diário.
—Oferenda!
—Numa conversa aprendemos a valorizar o ouvir, e cultivamos a audição da alma na sonoridade do timbre do amigo.
—Oferenda!
—Amamos a amizade acima de tudo. Se pudéssemos escreveríamos em todas as lousas e nos cartões postais o quanto é preciosa uma amizade na vida de um sapo ou uma sapa...
—Oferenda!
—Amizade é o mais curto caminho para o amor. Amor sem retoques, sem malícia, sem cobranças, sem trivialidades. Sua amizade é para mim a tradução mais perfeita de uma conquista...Eu a quero e a guardarei como um troféu. Estou bem inspirada hoje. Deve ser essa saia azul e esse brinco...
—Oferenda!
—Rospo, por que está sempre dizendo “Oferenda!”? Alguma maluquice?
—Cada vez que fala da riqueza da amizade é uma oferenda. A amizade é um dom de encontros, e merece oferendas. Uma simples conversa, um café expresso, um telefonema, um gesto, uma delicadeza, uma lembrança. Essas preciosidades são oferendas na aspereza do cotidiano. Se você fura os bloqueios da rotina, se consegue passar pelas frestas com as festas do seu Ser, você está ofertando “oferendas”... Bem sabe que os povos antigos faziam oferendas aos deuses...
—Só os antigos?
—Bem, as oferendas sempre foram pragmáticas...
—Toque um pouquinho nisso, Rospo...
—São como as orações...
—Mas não aprofunde tanto! Esqueceu da leveza do feriado?
—Nada como a companhia de uma sapa culta, esperta e ligeira como o relâmpago do corcel da constelação...
—Rospo, sintetize o papo das oferendas...
—Oferendas lançadas ao mar ou ao céu sempre simbolizaram agradecimentos, mas também promessas e barganhas, formas de agradar, cultuar, para receber em troca benefícios...
—Tudo bem, mas, voltando ao nosso caso: os gestos, as palavras, a delicadeza, os sentimentos, são oferendas para a amizade...
—Isso mesmo, querida.
—Rospo, falando em amizade. Vamos até a padaria Rubi?
—Yupiiii!
—Rospo!
—Desculpe, é que me empolguei. Você não gosta do meu “Yupiiii!”?
—Gostar? Eu adoro, eu amo. Amo tanto como o licor de anis.
—Yupiiii! Yupiiii! Yupiiii! Yupiiii! Yupiiii! Yupiiii! Yupiiii!
—Para que fui falar?


HISTÓRIAS DO ROSPO 2012    — 819
Marciano Vasques

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