sábado, 1 de setembro de 2012

SOU INOCENTE, JURO!


SOU INOCENTE, JURO!




Sabadoficando, lá ia a Sapabela calçada afora com girassol na camiseta e uma bermuda azul quando encontra uma amiga.
—Olá, como vai, querida?
—Péssima. Estou vendo esse girassol estampado em sua camiseta. Você sabia que plantações de girassóis atraem ratos, por causa das sementes?
—Sou inocente. Juro!
—Sapabela, hoje o dia está péssimo. Veja que sol quente. Está quarando a minha cabeça. Não tem árvores nessa cidade. Fica difícil encontrar uma sombra...Detesto o frio, mas esse sol quente eu odeio...
—Sou inocente, juro!
—Sei está gostando da construção do novo estádio que abrirá a copa de 2014. Já pensou que confusão, amiga? Itaquera sempre foi tranquila, agora aquele montão de gringos... E o trânsito? Já é péssimo, vai ficar um caos, uma balbúrdia...
—Sou inocente, juro!
—Seu amigo lançou um livro na Bienal. Eu não fui. Detesto Bienal do Livro. Aquele montão de sapos com sacolas, aquela multidão nos corredores... E por acaso pensa que quem compra livros na Bienal vai ser leitor durante o ano? Não tenho saco para essas coisas...
—Sou inocente, juro!
—Bem, vou indo, tenho mais o que fazer. Quisera ter tempo para ficar papeando como faz você com o seu amigo... Cada um na sua, minha amiga. Quero mesmo é cuidar da minha vida.
—Sou inocente, juro!
—Sapabela? Qual é a sua? Cada coisa que falo, ficar repetindo: Sou inocente... Virou papagaio ou é influência daquele seu amigo maluco?
—Sou inocente, juro! Não tenho culpa do seu mau humor. Deixe-me ir, querida. Hoje é sábado, o dia amanhece num licor, numa alegria, numa explosão de vidas que se buscam... E tem mais, curta o seu mau humor o quanto quiser... Quero mesmo é que 2014 exploda no ar em alegrias, cores e luzes em Itaquera. Estou feliz! Quer saber? Uauuauuau! Tchau!
—Está sempre feliz. Pois saiba que não pode falar assim comigo. É minha amiga... E eu sou sua amiga.
—De uma coisa eu tenho certeza, querida. Sou sua amiga. Por isso mesmo minhas palavras buscam a exatidão da sinceridade... Quer ir à padaria Rubi? Vou encontrar-me com o Rospo.
—Pensei que já tivesse se encontrado, mas pelo que estou vendo, só se encontra quando encontra o seu amigo. Vou não, tenho mais o que fazer... Não suporto papo furado. Vá em paz.
—Posso dizer uma coisa só?
—Claro.
—Sou inocente, juro!



HISTÓRIAS DO ROSPO 2012    — 815
Marciano Vasques

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