domingo, 30 de dezembro de 2012

NO ÚLTIMO DOMINGO DO ANO

—Rospo, cá estamos no último domingo do ano.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que alegria, meu querido!

—É altamente significativo. Na ilusão do calendário, cá estamos, e fui feliz durante o ano com a sua faceira presença. Essa alegria, esse brilho de brinco...
—Rospo, tenho saudades do meu anel de vidro que se quebrou, mas sou tão feliz! Cá estou com minha alma cigana. Último domingo, que venha radiante como um girassol!
—O último domingo do ano é o mais precioso da parlenda. Vamos? Quem começa?!
—Eu! : "Hoje é domingo, pede parlendas com gargalhadas de crianças, pede anisete, pede blogs lindos e coloridos, pede sorrisos, companheirismos, alegria serelepe, pede a doçura das amizades sinceras, pede um bom livro para se prometer a leitura no começo do próximo ano, pede músicas, pede abraços, pede uma cheirin de alecrim, pede bocas sedentas de beijos, pede..."
—Sapabela, sua parlenda é mais importante da vida. E me fez lembrar, minha querida amiga, que só o apego ao que é simples e autêntico faz a vida brilhar.
—Fale disso, Rospo!, eu adoro. Sou cativa do ouvir.
—O simples está nos mais belos e significativos gestos de amor, que não são apenas declarações adornadas por belas palavras e verbos palpitantes, estão mais além. Estão nos vilarejos, nas vilas pobres da periferia, estão nos varais coloridos da pobreza, estão também entre os que têm o coração aberto e franco, sincero e puro, independente de qual classe pertença...
—Mais um pouquinho. Fico mais saltitante que a Suelizinha quando estou empolgada.
—Sim, as coisas imensas, o avião no céu, essa maravilhosa máquina que o Ser humano&anfíbio construiu, aliás, sempre penso: Tem uma forma de ser bem feliz. É visitar um losango ou alguns lugares a mais, e você terá a dimensão da vida, e aprenderá a abraçar pra valer, se ainda não o fazia.
—Que lugares são esses, Rospo?
—Um aeroporto, basta ficar próximo, o suficiente para ver um avião descendo ou subindo; um hospital, para ver que na roda do mundo que gira nas pétalas de um girassol, tem sapos e sapas sofrendo, e profissionais extremamente dedicados zelando pela vida doída; o cemitério, onde podemos entrar em contato com as vozes que nos regaram a vida em alguns momentos com a simples doçura de alguma frase analgésica, e nos acalentaram o crescimento, e lá estão, simbolicamente; e o mar, isto é, a praia, não para ficar assando no sol ou se entupindo de latinhas de cerveja, nada disso, não que não sejam coisas importantes para quem quer que seja, mas apenas para ter a oportunidade rara de contemplar a mais próxima imensidão, em seu horizonte maravilhoso, que é o fabuloso, pois na origem do Ser, de fábulas foi feito, mas essa mais próxima imensidão, ao ser contemplada nos oferta o doce mistério de estarmos em contato com o alto, também simbólico...
—Que maravilha, Rospo!
—Sim, a beleza é imperceptível no cotidiano...
—Esses lugares são necessários para que o Ser possa se expandir...
—Eu falei da mais próxima imensidão, que é o mar, porém a mais distante imensidão, é a maior e de mais fácil acesso, pois nem precisamos viajar, não necessitamos descer nenhuma serra.
—Sim?
—O céu.
—Jura?
—Sim, basta erguer os olhos, e se ainda não fez isso neste domingo, que pode estar nublado ou azul, isso pouco importa, mas se ainda não fez isso, está em dívida com algo mais alto, infinitamente alto que se rebuliça e clama dentro de você, e nenhuma religião contempla, se me faço entender.
—Eu não quero ficar em dívida com aquilo que é pura gratidão.
—Isso mesmo, Sapabela. Pura gratidão.
—Já estou olhando pro céu, e dando aquela piscadinha pra ver se o Sol se toca e aparece...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Mas quero mais, Rospo!
—Além disso, manter sempre o olhar direcionado para o que é simples, para a cortesia do amor que está nos gestos simples, na elegância do simples... Não se deixe esbagaçar com esse sistema financeiro cruel, essa Política desajustada, essas decepções, nada, nada, nada, deverá interferir nesse seu olhar em sua soberana vontade.
—E então?
—Então você irá valorizar de verdade aquilo que faz a vida melhor, o doce de abóbora que a sapa preparou para alegria de seus queridos, o bolo de cenoura, o pão, e também a roupa que alguém costurou com tanto jeito e carinho, e ainda a canção que algum poeta compôs em seu quintal ou ainda mais, a voz da adolescente que canta uma de suas canções prediletas, ou mais ainda, o amigo que oferece uma taça de vinho ou ainda, pois isso não tem fim, é igual a sua parlenda, então, quem sabe, um rosto com um sorriso que diz: Siga em frente, sem temores, que o sonho sempre vale a pena...
—Rospo, o mundo visto assim parece tão generoso.
—E é. A sua generosidade está na delicadeza, nos abraços sinceros, nas amizades produtivas, nos anseios e nas andanças dos que em si carregam a vontade de contribuir... Isso sim é viver.
—Rospo, estou quase marejada... Só posso dizer, este é o último domingo do ano, e é o meu domingo, e eu me lanço na multidão dos que amam e querem contribuir...
—Sapabela, então, agora, só anisete... Estou com saudades de tudo que é bom, tudo que vale a pena...
—Sistema estúpido e cruel, aqui pra você!
—Sapabela!
—Estou mesmo é feliz. Viva o domingo! Viva o tempo, a fatia do tempo a que chamaremos de 2013.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


HISTÓRIAS DO ROSPO 2012  — 841
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Queridas ranitas o sapitos.
    Disculpadme mi falta de tiempo, por no venir más a menudo a visitaros.
    Es que parece como si las horas me resbalaran y cuánto más quiero hacer, menos hago.
    Os deseo tanto a vosotras como a vuestro creador Marciano Vasques y a su familia, un Año Nuevo lleno de Salud, Paz, Amor y Armonia.
    Beijos desde Valencia, Montserrat

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