quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A PROPAGANDA É A ALMA DA ÉPOCA

Propaganda é a alma do negócio. E é a alma da época. Essa segunda afirmativa inventei nos velhos idos.

De acordo com o negócio, ou seja, com o espírito da época, a propaganda diz coisas que ao serem vistas em épocas futuras adquirem contornos às vezes divertidos  ou curiosos.
O excelente escravo anunciado em 1878 era "O melhor trabalhador de raça que se pode desejar" e tinha todos os atributos exigidos pelo "consumidor", ou seja, "humildade, obediência e beleza".
Os remédios sempre anunciaram curas milagrosas, alguns curavam tudo, O óleo de São Jacob, de 1889, curava diversas dores, além do "rheumatismo". Em1918, o "Elixir de Mururé Caldas", um 'prodigioso depurativo vegetal" anunciava-se como "Infalível na cura da syphilis em suas manifestações". O ferro Nuxado "dá virilidade".
A cerveja Antartica em 1905 mostrava numa propaganda uma criança tomando uma caneca de cerveja no colo da mãe, que sorria satisfeita.
A cerveja "Brahma" em 1914 mostrava um padre feliz tomando o seu copo de cerveja.
A propaganda às vezes antecipa os costumes, como em 1914, num anúncio em que a mulher aparece fumando, embora em público isso não fosse admitido, mas os cigarros Vanille garantiam  que "Todas as senhoras se deliciam com a sua fragrância". Agora, "Beijos perfumados"  só com os charutos "Príncipe de Gales", em 1926.
A religião sempre forneceu motivos para a propaganda : em 1917, Moisés aparecia anunciando produtos da Usina São Gonçalo, e em 1922, uma Eva envolvida por uma serpente anunciava a tentação do Vinho Adriano Ramos Pinto.
Em 1930, o Elixir de Inhame avisava: "Vá dizendo a toda gente que depura-fortalece-engorda". Isso mesmo! Engorda! Talvez não viesse a fazer tanto sucesso atualmente.
Nesse mesmo ano um homem atraente surgia dizendo: "Sou conquistador. Sou belo. E toda minha atração, confesso de coração, é o colarinho Marvello".
Em 1931, a propaganda anunciava as duas alturas máximas da América do Sul: O prédio Martinelli e as meias Visetti.
Anúncio do Exctrato de Tomate Peixe em 1939, revela que a Língua é eterna metamorfose, é dinâmica e sofre transformações através dos tempos, pois xícara ainda era chícara, assim como em 1933 açúcar  ainda era assucar em anúncio da União.
Depois, a Chapelaria Paulista anunciava que "só não usa chapéu quem não tem cabeça"... Hoje, pelo visto, a maioria dos homens não tem cabeça. Falar em vestimenta: "as mais lindas pernas sem as meias da Casa das Meias não passam de... meios de locomoção".
Ainda em 1933, uma loja anunciava que "O governo é provisório, mas o preço é fixo". E em 1944, a General Eletric garantia num anúncio  que "A eletrônica  trará a Televisão ao nosso lar". Muita gente não acreditou.
Milo da Nestlé diz em 1952. "O calor está de amargar, mas também, assim não pode ser!", e mostrava mulheres em trajes íntimos, maiôs.
Em 1956, uma mulher anunciava: "Ele era meu chefe. Hoje é meu marido. Eu passei a usar Cilion".
Em 1970, a propaganda se irmana à linguagem do mundo e num anúncio de café solúvel Cacique, diz: "Os reacionários detestam ideias novas", enquanto uma nova revista anunciava: "Esta revista não dá Ibope. Claro, gente fina não é povo".

Marciano Vasques





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