sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O MAIOR DOUTOR DA VIDA

—Rospo!
—Sapabela!
—Sexta! Viva! Já sabodificando. Mas, preciso falar algo.
—Diga, nega.
—Que gostosura isso! Mas, estou preocupada com a Colibrã.
—O que está acontecendo com ela?
—Anda triste, cabisbaixa, melancólica. 
—Diga a ela que deixe para o grande doutor, que passará. As coisas têm uma irresistível tendência para as resoluções.
—É mesmo, Rospo?
—O requisito primordial é acreditar. Mas é crença firme. Rochedo, fortaleza, sobre algo palpável.
—Diga então, quem é esse "grande Doutor"?
—O maior de todos. Seu currículo atravessa gerações, séculos e séculos e séculos.
—Muito bem, a quem se refere?
—Esse doutor cura as mazelas da alma, abre cicatrizes nas fendas mais doloridas, e atenua o impagável sofrimento...
—Sei, certamente está se referindo ao tempo. Nem sabia que ele era um doutor, e assim tão amplamente poderoso.
—O doutor autêntico é humilde, humildade não é negar nem esconder o seu próprio valor. Humildade é despojar-se de toda arrogância, todo estrelismo...
—Compreendo. Então, o doutor é mesmo um grande especialista em dissipar as tristezas, curar as dores da alma... Apagar todos os sofrimentos...
—Não é bem assim, Sapabela. Mas... ele é mesmo bom. Porém, certas dores jamais se vão... Como o sofrimento pela perda de um ser amado. Isso jamais desaparece...O Grande doutor simplesmente acomoda a dor num recanto de tal forma que ela não impeça o renascimento e a sobrevivência do Ser... Mas essa dor jamais se desapegará do coração, apenas ficará "protegida" pelo manto do Doutor Tempo, que a tudo resolve, no seu devido tempo. O Ser é cíclico, palimpsesto, lembra? Nunca mais pronuncie quimeras como "Nunca Mais"...
—Jamais se esquece um amor verdadeiro, não é, Rospo?
—O Doutor Tempo, embora o maior doutor de todos os tempos, ainda não tem esse poder... A dor de uma perda do coração é insubstituível, é indelével. Mesmo nos traços contemporâneos, quando vivemos dias de "amores" descartáveis, acredite, quem perdeu o seu amor, aquele que diz: "Eu sou!", certamente jamais dessa dor irá se desprender. 
—Avisarei a Colibrã, para que toque a sua vida e entregue tudo nos braços, isto é, nas asas desse tal Doutor...
—Sim, tudo se ajeitará como a própria vida, que sempre se ajeita.
—A minha vida não tem jeito, Rospo!
—Por isso adoro você.

ROSPO 2013 — 857
Marciano Vasques

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