quinta-feira, 28 de março de 2013

POEMA

Falo da vida não vivida
Às vezes....
Ela que pulsa
Na urgência 
Da tarde
Que repousa
Entre os varais
...

quarta-feira, 27 de março de 2013

COMO QUALQUER FRAGMENTO...

Nos fundos olhos da menina 
Um raso riso ou riacho,
Uma lágrima miúda
Que fugiu num vento leve.

Busque o meu coração,

Refaça o regaço da saudade
E não me abandone....

Que azul! 

Que azulcrinou
As crinas mais douradas
Num entardecer que eu vi.

Eu era tão menino!
Hoje pudesse só beijar
Um centelha sequer
Do tempo que em sua perdição
Diz não...


Nem sei, 

Mas quem dera ter enlouquecido
Um décimo 
do que  mereço...
Nas ruas
Dos bêbados de poesia,
Sei lá,
Nervuras que acalento...
Num esquecido
Verso 
De ferido acalanto

Marciano Vasques


domingo, 24 de março de 2013

CONVERSANDO NA ALVORADA

—Aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeê!
—Sapabela, o que pode ser mais esplêndido e resplandecente para um sapo do que encontrar a sua amiga na alvorada dominical? Erga os pulmões, alise o tórax, e deixe entrar o domingo com toda a sua força de mil parlendas, de alegrias sem patrocínio.
—Rospo, está cheio de sapo perdendo isso. Aliás, seria bom se pudêssemos resgatar as coisas essenciais da vida. O perigo, que me assombra, pela sua visibilidade tão descarada é...
—Estou curioso, Sapabela, estou curioso. Prossiga!
—Sapo curioso já ganhou metade da estrada. Eu estava a dizer que, Rospo, lembrei-me de algo. Vá lá em casa!
—Já estou entrando...
—Estou falando sério, vá lá hoje que tenho licor de Jabuticaba...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo? Tudo isso é pelo licor?
—É pelo "entrar " também. 

—Rospo, por favor, poderia se comportar um pouquinho para que eu possa prosseguir?
—Que hora será?
—Que hora será, o quê?
—O licor de Jabuticabal...
—Jabuticaba, meu querido. À tarde, hoje estou tão alegre, uma alegria intraduzível, mas que no seu bojo tem cantoria de cordelistas, as múltiplas cores dos ciganos, a alegria de "Beatles", tem tudo de bom que nos ronda a vida,  e por mil vieses não nos regem. Posso prosseguir?
—Que demora, Sapabela!

—O que me assombra é a facilidade com que os sapos e as sapas se deixam tragar pelas incessantes intempéries do marasmo cotidiano. Lembre-se, meu querido. A lei do menor esforço vem com selo de permanência, de intocabilidade nas vidas.
—Sapabela, sabe que me esforço, mas quando uma fêmea chamada você resolve expôr o pensamento em suja inerência da velocidade espanto-me...Como algo tão brilhante e poderoso pôde ser sufocado, soterrado em dois mil anos?
—Mas agora, nego, ninguém me segura!
—Viva!
—Pois é, meu amigo. a tal lei do imobilismo ela tem uma característica ilusória, que é a garantia do conforto, mas se o sujeito acredita que conforto é para sentar ao sofá, ligar a TV e permanecer ali, deixe o pobre ser mesmo tragado pelo cotidiano. ..
—Eu gosto de sofá para...
—Rospo, não me interrompa, por favor, e respeite a plateia dos pequenos...
—Eu só ia falar do ócio contemplativo... 
—Bem sei, mas, concluindo: O sapo tem que erguer o seu mundo sonhado. É ele que vale. Você tem que garantir a sua suspensão do cotidiano. É ela que o favorecerá...
—Adoro esse verbo: favorecer. é um favo de mel puro que acontecerá, que facilitará o escoamento da vida que precisa acontecer... Favorecer é o acontecer de um favo. É o florescer da dialógica.
—Muito bem, meu grande.Mas é isso, nada se de deixar tragar nem soterrar, nem jamais entrar num túnel que lá no mais fundo subterrâneo se ramificará em mil vias de se imobilizar a alma. Erga-se: o cotidiano, se por acaso o sufoca, se o espreme, faça o seguinte: desfaça essa vocação para bagaço e vá a luta. Leve consigo a sua espada de mil luzes.
—Que espada é essa, Sapabela?
—Os seus sonhos, são eles que brilham e rebrilham, eles simbolizam a sua espada. Basta chegar e dizer: "Eu tenho sonhos!"
—Nossa! Pareceu Nietzsche, pela beleza do estilo de escrever no ar...
—Escrever no ar?
—É, falar.

—É só impressão, Rospo, o estilo é genuíno de Sapabela. Mas é claro que jamais nos livramos por completo de nossas leituras.
—Querida, que forma linda de alvorecer! Adorei encontrá-la agora cedo. Está esplêndida.
—Você vai ver à tarde com o licor de Jabuticaba.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2013 — 684

Marciano Vasques

sábado, 23 de março de 2013

ENCONTRO NA NOITE DE SÁBADO

—Aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeê!
—Que alegria é essa, Sapabela?

domingo, 17 de março de 2013

A PERDA MAIOR DO SAPO

—Rospo!
—Sapabela!
—O meu coração estremecia sempre que eu pensava que você andava sumido... Eu ficava sem mim, e vagava ao lume da solidão... Nem via o reflexo da alegria que sempre nos moveu. Mas agora está aqui, e é domingo! E ainda é cedo! A Padaria Rubi nos espera... Já vejo a luz translúcida do verde claro do licor de anis...

sexta-feira, 8 de março de 2013

O DIA INTERNACIONAL DA SAPA

—Rospo! Hoje é o "Dia Internacional da Sapa"... Vai ter licor de anis?
—Yupiiii!
—Não é para se assanhar tanto!

DE CARLOS GOMES

http://youtu.be/rcwqKJ8vCaw

quinta-feira, 7 de março de 2013

PIQUES E PIQUES


—Rospo, por onde anda? Que tal falar desses piques de afastamento?
—Afastamento é coisa impensável, Sapabela. Esses tais piques são apenas fragmentos necessários das andanças...
—Tem viajado?
—Andança interior também vale, minha belinha.
—Que bonito! Mas eu adoro mesmo aquele "Nega"... É demais, fico toda envaidecida quando essa manifestação amorosa oriunda de nossa oralidade infinitamente rica...Mas fale, algo está acontecendo?
—Às vezes, Sapabela, é preciso acionar o eixo, no mergulho essencial...
—Compreendo, e soube que anda meio chateado? É verdade?
—Não, não, em absoluto. Você sabe que somos fontes de onde jorra a alegria... E sua amizade é o pique do arrebatamento das coisas essenciais e ludicamente floridas da vida... Com você ao meu lado, em nossas conversas trançadas, a alegria está sempre presente. A conversa é uma das mais expressivas formas de felicidade do sapo, parodiando o Borges, que disse algo semelhante se referindo ao livro...Para ele o livro sempre existirá em sua forma de objeto de culto, de amor... Curioso, não é? Ele imaginava a biblioteca infinita, e, você sabe, a Internet...
—Está desviando o assunto, Rospo! Fale mais dessa suposta não chateação.
—Ora, Sapabela, bem sabe que neste mundo o que mais encontramos são as oferendas de sentimentos entristecidos, banhados no polimento do ciúme e da inveja...
—Você é um "positivista", acredita no "Poder do Pensamento Positivo"?
—Sapabela, nem positivista nem Positivista. Acredito, entretanto, que  "É sim preciso ordem para o progresso interior, isto é, harmonia para que a alma possa destravar seus empecilhos"...
—Essas oferendas  vêm dos inimigos?
—Nem pensar, Sapabela! Acreditar que um inimigo possa nos decepcionar é atribuir muita força a ele. Isso é privilégio de amigo. Só o amigo faz isso. Ou seja, só ele tem o dom, o poder, de nos oferecer um tapete, o tal ardilosamente tecido tapete, que pode ser habilmente puxado pela traição.
—Mas então não é amigo, Rospo!
—Nem é inimigo. É uma fôrma de fazer capeta que alguns abrigam na fornalha de suas almas. Porém, verdadeiramente, o amigo está onde qualquer infecção da amizade possa penetrar...
—Infecção da amizade? Roubou de Espinosa esse termo?
—Você está afiada hoje, nega.
—Uau Uau Uau! Viva! Eu era feliz e não sabia...
—Sapabela, considero muito profundo essa sua última frase. Complexidade pura.
—Prossiga, Rospo.
—Infecção da amizade é causada por descuidos, desapegos, nem precisa desaforamentos.   Basta uma faísca assim desse tamanhinho de descaso...
—Que faísca, Rospo? Isso é um fiapinho, uma doidice só, um descuido... Faísca lampeja, por menor que seja, atiça...
—Pois é, querida...
—Você nunca me convidou para almoçar...
—Que tal...
—Aceito!
—Em meia hora nos encontraremos...
—Ótimo, é o que eu precisava para me arrumar. Um minuto.
—Prefere dois minutos? Ou seja, Uma hora?
—Não seja maldoso, Rospo. Além do mais, você bem sabe que...
—Vale a pena esperar.
—Então daqui a pouco. Eu adoro isso. Minhas roupas não combinam. Você sabe. Mas eu adoro me vestir de Sapabela. E aqui mando um beijo para a Violeta, e outro para a Lady Garça...
—A Lady eu conheço, mas quem é a Violeta?...
—A protagonista de um seriado juvenil argentino, da Disney...
—Certo, certo, certo. Vá querida, que já estou faminto.
—Vá pensando só no almoço, bonitinho.
—Mas estou  faminto de palavras, de conversas, de letras...
—Pois é, Rospo, pois é.  Bem, lá vou eu.
—Yupiiii!


ROSPO 2013 — 860
Marciano Vasques

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