sábado, 27 de abril de 2013

A CANÇÃO

http://youtu.be/oGbfttFYpXk

RESERVADO

Tentei falar com você.
Só dava caixa postal.
E ameaçando um temporal.

Tão tarde, esperando num ponto.
Isso ainda vai render um conto.

Só passava reservado, meu bem.
Nem a carona de um amigo,

E estava sem guarda-chuva.
Sem abrigo.



Marciano Vasques


sexta-feira, 26 de abril de 2013

MADEIXAS

Nas espumas santistas
Na alma dos artistas
Ela toma vulto
E seu problema é ser demais.

Esfomeada que não tem 
Regalo que atenue a sua alma...
A poesia, minha amiga,
Medra sem medo e madruga...

Então, melhor é tê-la
Com suas queixas, 
Madeixas,
Sua cristaleira interior.




Marciano Vasques

PALHAÇO

Quem é você?
—Descubra se quiser.
Sou o palhaço
Ladrão de mulher.

 A luz das estrelas

Atravessa a lona.

Lá estava no sorriso

De uma dona
Na calçada da Pamplona.
Catando versos
Desacatando universos
No meu caminho
Empoeirado
De vento alegre
Ventando forte.

Fogueiras salpicadas

Ns conversas dos bares.

Gente do nordeste.

Gente do norte.

Menina na sorte

De sonhos avulsos
Sonhando altares.

Moço tórax aberto

Cantarolando Roberto
Na fartura bêbada
Das ilusões.
Lancinante amparo
Das solidões.


Vago

Na fluência transparente
De uma tarde
No ocaso
Nas flores de Outono.
Buscando a mera
Quimera
Nas luzes de Itaquera.
Aconchego de abandono.

Nem acha graça

Nem se toca
A moça
Da tapioca
Quando na praça
Sigo cigano
Na fértil força
Do picadeiro
Da minha vida.

Num lampejo

De lembrar ferida.
Sinceras dores.
Incicatrizáveis amores.


Marciano Vasques


quinta-feira, 25 de abril de 2013

ME DEIXE MUDO

http://youtu.be/VghSIww2UVc

WALTER FRANCO

http://youtu.be/VghSIww2UVc

CONVERSA NA QUINTA

—Viva!
—Que entusiasmo é esse, Sapabela?
—Hoje é quinta!
—Verdade, e está frio, isso pede aconchego, pede...
—Pede tudo de bom, Rospo! E repare nas minhas roupas, elas não combinam, como sempre. E sou mesma atrapalhada. Sempre fui. Uau! Adoro ser-me.Assim, meio estabanada, um muitíssimo espalhafatosa, mas só de espalhar os fatos realmente essenciais... Sou assim, atrapalhada, mas não tem jeito.
—"Mas não faz mal, eu gosto é mesmo assim".
—Rospo, olha! Isso é verso do Erasmo e daquele cara!
—Eu sei, minha querida, é para tornar a quinta mais aconchegante. Você sabe, quem fica apenas sentado à beira do caminho pode até perder o bonde da história.
—Perder o bonde da história é desentender o "Trem das Onze"... Direi ao mundo que estou feliz hoje. Digo isso a você aqui, e quero dizer numa conversa de blog, e também aos meus "caros amigos".
—Sapabela, isso é nome de um disco do Chico nos belos dias clandestinos; hoje, veja só, nossa conversa está muito musical. Às vezes isso acontece. Saudades de ouvir Walter Franco...
Sapabela, vamos comemorar a quinta com um licor de anis.
—Aceito!
—Nossa, que rapidez!
—Sapa, né! E tem mais.
—Com você sempre tem.
—Para mim não são necessárias frases mirabolantes, palavras elaboradas, discurso requintado...
—Entendi isso não.
—Aceito as frases mais simples. E você sabe, o que é simples mas nasceu no coração bate de longe declarações formuladas.
—A que está se referindo?
—Para me conquistar basta ser simples.
—Gosto de você.
—Isso!
—Sapabela, ganhei a minha quinta.
—Então vamos ao licor que o dia quem faz é quem vive.
—Que audácia linda é viver!

ROSPO 2013 — 867
Marciano Vasques


segunda-feira, 22 de abril de 2013

CONTO DE PARÁGRAFO



NOITES

 Na noite em que o presidente da República jantava com a cúpula do governo do Panamá e com a diretoria da empreiteira naquele país, eu relia o poema "Cantiga para Não Morrer", de Ferreira Gullar, o mesmo que escreveu o "Poema Sujo", que li num livro que ganhei de aniversário, comprado no Círculo do livro, nos tempos do Tarancón, lá pelas tantas dos anos 70, quando ouvi pela primeira vez Parabien de La Paloma. Mas, na noite do jantar do presidente com o governo panamenho e com o diretor da empreiteira que financiou a sua viagem, por aqui acontecia uma coisa assim, de meninas caminhando nas empoeiradas ruas da vila da invasão, no vinco da periferia de nervuras e lágrimas latejantes cravejando sorrisos desbotados: meninas operárias, domésticas e balconistas, cadenciadas ao som do Funk numa tarde ensolarada de azul perdido, caminhando em névoas em plena alvorada.

CONTO DE PARÁGRAFO
Marciano Vasques

domingo, 14 de abril de 2013

CHICO

quarta-feira, 10 de abril de 2013

NOVO SÍMBOLO NA CASA AZUL

Homenagem à artista Teresa Senda Galindo

terça-feira, 9 de abril de 2013

SEMIÓTICA DO OLHAR

Encontro especial numa noite de terça-feira:
—Rospo!
—Sapabela! Que alegria!
—Rospo, quando pensa na Política partidária nacional aqui do brejo, tem algum título de filme que ela faz você lembrar?
—Pergunta inesperada, Sapabela. Mas, tem sim. Tem...
—Diga, meu amigo... Já quero o ingresso... para entrar nessa conversa...
—A conversa é sua, minha querida.
—Qual é o título do filme?
—"O Silêncio dos Inocentes"!
—Supimpa! Quer falar?
—Só um punhadinho, um tiquinho.
—Manda bala!
—Não pode dizer uma coisa dessas aqui no brejo, Sapabela. Alguém pode ouvir e levar a sério.
—Faça-me rir, amigo. Noutro dia me pus a rir só de pensar naquela história de que a profissão do diabo é padeiro. Nem sabia que o cara trabalhava em padaria...
—É que quando eu era um menino, bem sapinho ainda,  ouvia meu pai dizer que "comia o pão que o diabo amassou"...
—Muito bem, mas fale o nome do filme que a política nacional do brejo faz você se lembrar.
—Eu já disse; "O Silêncio das Inocentes"...
—É mesmo! Fale então o tal bocadinho. Um exemplo, só um exemplo...
—A Sapa pediu, o universo parou para atender...
—Antes fosse...
—Querida, não se esqueça: O que parece geral não desfaz o que é bonito de se viver...
—Manda ver.
—Ocorre que diante do silêncio de partidos e políticos e militantes do brejo diante de uma revelação de corrupção e de desvio e uso do dinheiro público e da máquina administrativa em benefício próprio,  só se pode pensar que, além dos compromissos partidários que sacrificam a ética e o intelecto, realmente tem algo além...
—Rospo, gostei desse punhadinho, mas, diga algo sobre aquilo que falou no último licor...
—Sim?
—Semiótica do olhar, ou do amor...
—Sim, vamos lá: conversando, que é versar junto  a  vida, ou não apenas co-versando, mas versando com alguém, ou seja,  com versando, reparei que o amigo nem olhava para o meu rosto enquanto me falava, isto é, parecia que não conseguia mais olhar de frente para alguém...
—Certa vez estive com o Sérgio Bianchi e ele falou sobre o fato de que o hábito da televisão desviou o olhar. E, penso eu, agora o tablet...
—Justamente: e eu disse : "Não sou tela! Exijo uma semiótica do amor! Precisa consertar o olhar para que se manifestar possa o concerto da alma."
—E o que ele disse?
—Nem sei, eu já nem estava mais na ribalta. Eu estava mesmo era na ribanceira da vida, na rua, com todo o seu glamour...
—Glamour?
—Sim, a poeira, a pureza dos sapos que cavam com suor e força o pão e a seiva da vida...
—Fez bem, Rospo, fez bem. Inútil querer implantar a consciência de supetão... o importante, penso eu, é que você fale com alguém olhando firme no rosto, nos olhos... Assim devemos agir, Rospo... Lembre-se, no vendaval empoeirado, temos que estar bem no eixo, no eixo da tempestade... E fazer a nossa parte...
—A conversa está boa, Sapabela, mas vamos até a Padaria Rubi?
—Licor de anis? Já indo, Rospo, já indo...
—Yupiiii!


ROSPO 2013  —866

Marciano Vasques

domingo, 7 de abril de 2013

O IMPIEDOSO CARGUEIRO

—Rospo!
—Sapabela!
—Que alegria! E tem uma conversa tinindo em mim. Posso começar? Prometo que não tomarei o seu tempo, amigo.
—Você jamais toma o meu tempo, querida. Ao contrário, me dá a oportunidade de compartilhá-lo com você...Mas, a conversa, por favor! Já estou esticando a corda, isto é, o barbante... que isso é próprio de conversa...
—Então, vamos lá: O que lembra, para você, Rospo, um Cargueiro?
—Carga, navio de carga. Carga pesada...
—O cargueiro da vida é implacável, impiedoso, imperdoável!...
—Prossiga, por favor!
—Não adianta "choro nem vela"...
—Vela?
—Sim, velejar, nem terá a chance...
—Do que está falando, querida? Nem tomou licor de anis hoje!
—Olha!...
—Brincadeira, prossiga.
—Rospo, o cargueiro da alma é formado por vários fatores, se me entende. Um dos pesos do "carregamento" é a arrogância intelectual.
—Fale disso! Fale disso!
—Sim, a arrogância intelectual por si só já quase enche o cargueiro...
—Poderia, minha sapíssima, dar um exemplo?
—Darei dois.
—"Ela é demais!"
—O que pensou?
—Esqueça, por enquanto. E dê os exemplos, por favor...
—Um poeta escreveu-me uma carta e nela ele disse algo chocante.
—Sim?
—Que você nem deveria lutar pela sua carreira literária se não tiver a chancela acadêmica...
—Como é?
—Só com a chancela acadêmica um poeta tem a chance de se perpetuar, ou de passar para a história da Literatura. Para esse meu amigo, só com citações em trabalhos acadêmicos você terá a chance de chancelar a sua arte, a sua escrita. Fora da Universidade não tem validade, sem o reconhecimento da Universidade nada feito, disse ele...
—É?
—Hoje ele está na Rede Social...
—Dê o segundo exemplo.
—Outro amigo me escreveu que devemos todos lutar pela cultura erudita, na qual ele transita com a sua produção...
—E daí?
—Referiu-se aos quadrinhos como uma  manifestação de uma forma de lixo que é a tal cultura de massa, algo assim...
—Nossa! Que erro grave! Pois nos quadrinhos encontrei a mais pura arte nos traços de nanquim, em obras como a de Harold Foster, a de Alex Raymond, e outros tantos, e aqui no brejo, Júlio Shimamoto, e também tantos outros... Nada enriqueceu tanto a minha estética quando sapinho como esses artistas e suas produções...
—Além da arrogância, também o preconceito...
—Geralmente esses dois andam de mãos dadas.
—Que nada! Eles se beijam na boca!
—São assim tão íntimos?
—Eis um caso em que dois formam um. Arrogância e Preconceito.


ROSPO 2013    — 865
Marciano Vasques






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