quinta-feira, 30 de maio de 2013

E VIVA A CONVERSA BOA!

—Rospo! Que linda noite de sábado!
—Hoje é quinta, feriado, lembra?
—É mesmo!

—Que linda está, Sapabela!
—Obrigado, amigo! É bom elogio autêntico de sapo, principalmente quando é amigo. Mas, que vontade de uma conversa!
—Pois acaba de me laçar! Sabe que uma conversa atiça o meu coração de imediato.
—Pois vamos lá, que tecer é acontecer.
—Tem algo curioso acontecendo?
—O mundo é o reino da curiosidade, mas tem sim. A igreja aqui do brejo proibiu o Pai-Nosso de mãos dadas...
—Já sei, é por causa da gripe...
—Verdade. Uma atitude de prevenção.
—Quando pode afetar de imediato sempre se toma uma atitude. Pois é natural que um padre pode pegar a gripe. Nada como preservar a vida.
—Mas, e o preservativo?
—Sapabela, sabe que nenhum padre faz ...
—Rospo!
—O que queria dizer é que sempre precisamos cuidar da vida. A vida é a grande dama do universo. Pode milhões de astros valsarem na sincronicidade universal, mas nada tem sentido se não houver a vida, e a vida se manifesta no "Eu!", que é onde universos colidem numa multicolorida explosão de luzes, sentires e quereres...
—Tem certeza de que ia falar tudo isso?
—Outra coisa:
—No frio ninguém segura o sapo. Que tal um licor?
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Falei demais!
—Pois bem, Sapabela. Perdoar é diferente de esquecer, mas o perdão é necessário para o prosseguimento da vida, e a vida de cada um é o resumo da humanidade do sapo.
—Rospo! Viva o Frio! Mas sem essa sua buzina natural, por favor! Prossiga.
—Veja só, nos dias do nazismo.
—Criança entende essas coisas, Rospo?
—A criança que mora para sempre em cada adulto, sim.
—Para sempre?
—Ora, Sapabela. Cada um tem o seu "Para Sempre!".
—Prossiga!
—Vou no embalo da sapa.
—Que graça!
—Naqueles dias, penso eu, o povo que foi perseguido, e sacrificado...
—Rospo!
—Ao perdoar a omissão, a neutralidade, que é, como sabe, uma categoria inexistente, pois não existe neutralidade nem na política nem na vida, enfim, o povo, ao perdoar, de coração, abre o futuro para as nações do mundo, pois a humanidade do sapo tem que continuar. E só continua no perdão, pois se assim não fosse, não viveríamos em paz, seríamos atormentados diariamente por tantas atrocidades cometidas no passado, através dos tempos e dos séculos amém.
—Fica provocando, fica!...
—Mas, como eu disse, perdoar não é esquecer. Embora seja saudável, desejoso e um mecanismo de defesa da sobrevivência o esquecimento das agressões caseiras na aspereza do cotidiano, coisas assim imensas da história, como o massacre de um povo, o gás contra a vida, isso tem que ser perdoado, é justo que assim seja, mas nesses casos a memória é benéfica e necessária, e outro exemplo da omissão é para com o povo dos sapos negros, da África, os escravos, pois em nome da fé, supostamente, ela foi omissa.
—Voltaire estava certo?
—A infâmia é uma categoria do esplendor da insolência.
—Mas é tudo passado!
—Bem disse, Sapabela, pois hoje o pensamento sabe que a defesa dos direitos humanos dos povos do mundo é prioridade, e a maior prova de amor.
—Rospo, esse papo me aqueceu. Vamos ao licor...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Outra vez!
—Sapabela, vontade de abraçar.
—Abraçar?
—Sim, poderíamos chegar abraçados até a Padaria Rubi!
—O que está esperando, Rospo? Vou ficar esperando um século por esse abraço?
—Adoro quando você se deixa tomar por uma hipérbole.
—Rospo, como é bom um abraço. Viva o frio!
—E viva o licor!
—E viva a conversa boa!
—Vamos entrar, que além do frio, começou a garoa.
—E viva a rima! Que tamborila no meu amor!

ROSPO 2013 — 876
Marciano Vasques

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