quarta-feira, 24 de julho de 2013

O FASCÍNIO DA TECNOLOGIA

—Rospo!
—Sapabela! Que surpresa! Noite fria, não é? E chuviscando...
—A noite ideal para ir até a Magnólia.
—Topo!
—Entre aqui. Sob o meu guarda-chuva cabe um bom amigo.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que empolgação, Rospo!
—Sabia que havia sido uma boa ideia esquecer o meu.
—Muito engraçadinho. E então? Vamos nos entrelaçar numa conversa miúda, pois a Magnólia está chegando e logo mais irá fechar. Rospo, tenho um amigo que está desanimado da vida.
—Que coisa chata!
—Diz que quer morrer.
—Precisa avisá-lo...
—Avisá-lo?
—O inferno não suporta mais nenhum sapo.
—Rospo!
—É só brincadeira.
—Sei, está parecendo a Ponta da Praia da sua amiga.
—É...Mas se ele está desanimado com a vida, deve ir pra rua... Deve encontrar sapos e sapas, e ver a elegância da vida nas conversas vespertinas... E fazer amizade com a simplicidade...
—Tudo bem. A rua é uma inesgotável esperança de alegria...
—Sim, tem um sapo de diapasão, desses que amolam tesouras, precisa ver a voz desse sujeito. Parece a sonoridade da alma... Tem crianças brincando, correndo... Assim é a rua, pelo menos assim seria, "se essa rua fosse minha!"...
—Um outro amigo meu escreveu uma poesia do Eu...
—E então?
—Do eu a poesia.
—Estive pensando. É incrível o fascínio da tecnologia, da informática sobre os sapos. Ficam assim encantados, enfeitiçados. E fantástico tudo que a computação pode fazer. Veja os efeitos especiais do cinema, veja o tal fotoshop, veja como os sapos apreciam manipular as imagens... Mudar, dourar as imagens... Criam ilusões que enganam de tão semelhantes com a realidade.
—É incrível!
—Mas me pus a pensar: será que os sapos cultivam, regam diariamente, o olhar?
—Como assim, Rospo?
—Mil imagens, excesso de imagens, de ilusões, tudo muito fascinante, porém receio tenho de que o olhar esteja desaprendendo a ver, a se mirar, pois é para si o benefício do retorno, quando exercita a capacidade de ver, simplesmente ver, as coisas simples: uma flor, uma miosótis rompendo com a graminha no concreto da calçada, o sorriso de um sapinho... Já viu um sapinho sorrir?
—Fico imaginando que seja tão bonito quanto o sorriso de um sapão que eu conheço...
—Nem sabia que você amava um sapão!
—Rospo, eu falei isso?
—Ela chegou!
—Magnólia!
—Luzes despencam lilases e douradas, num aconchego de chuva de galáxias...
—Rospo, o frio está de tremer. Esse tremer roga pelo licor de anis.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2013 — 886
Marciano Vasques

segunda-feira, 22 de julho de 2013

CONVERSANDO NA NOITE FRIA

—Rospo! Que frio! E nem um cachecol está usando! Aonde vai?
—Sapabela! Por acaso estou indo até a Magnólia. E você?
—Eu? Eu estou por aí. Resolvi curtir um pouco de calçada. Vou com você.
—E a sua amiga apaixonada pelo "Depois"?
—Sei não, o que ando pressentindo é que o "Depois" tomará o melhor da vida dela... 
—O "Depois" sempre toma. Sabe como é: vai adiando, adiando, sem saber que a vida não é adiável, a vida é como o tempo: perdeu, perdeu. Temos que intensamente viver o presente, levar adiante o que nos seduz... 
—Tudo que se nos apresenta no instante é para ser vivido, não é? As alegrias, as oportunidades... Muita vida já deixei de viver quando era uma sapinha adolescente, bem tímida, Perdi muita vida... Rospo!... Um olhar distraído, o chamamento do amor, da poesia... Tanta generosidade, tantos rostos...
—Rospos?
—Rostos! Mas, veja só, eu fui iludida por mim, aquela que me impediu de ser completamente feliz, por causa da timidez... Hoje isso passou, e compreendi que fez parte do aprendizado da minha alma... Alma que almejava ser feliz... mas resistia aos chamamentos pela impossível timidez...
—Sapabela, quase nunca fala de seu passado...
—Entre nós, amigo, o presente é a força extraordinária do viver, da poesia do mundo, da arte que resiste e explode em mil cores, sons, luzes, e coloridos... E ela nos salva... Quem salvará o mundo são os artistas...
—Eu sei.
—Se fosse possível se viver num mundo que não necessitasse de tanto militar... Mas, bem sabe, meu querido... nenhuma utopia se aconchega em meu coração, que, não se esqueça, é o eixo de todas as andanças, e danças, e alegrias que encharcam a minha vida...
—Fica inspirada no frio. Sim, menos soldados... Mas aprendi, querida, que o mundo ideal não é o mais interessante, entendeu? 
—Não!
—Eu chego lá. O mundo interessante é aquele que nos completa a cada dia, mundo de prantos, de injustiças, de dores, de risos, gargalhadas, festas, abraços, esperanças, ternuras... É nesse mundo maravilhoso que nos movemos e é nele que cada um que aprendeu a cultivar a consciência, luta incessantemente para que os outros sejam felizes. Essa é a nossa maior glória: dedicar as nossas forças, a nossa energia, a nossa vida para que o outro seja feliz.
—É mesmo?
—Sim, minha querida... 
—Novamente.
—O que?
—Falou "Minha querida". O frio é bom. Por isso que ele é bom.
—Pois é, mas, o outro é o objetivo maior e o grande centro da vida.
—Tem certeza?
—Veja só: sei que ninguém tem tempo. Tantas ocupações, e ainda o Facebook, tanta coisa!, como vai ter tempo para refletir?... Mas... todas as atividades humanas do Sapo é para o outro... Tanto no bem quanto no mal... A tendência de se fazer mal é sempre contra o outro, claro que aí entra o tal bumerangue e o sapo que faz o mal para o outro está fazendo para si mesmo...E tem mais, veja no bem: tudo, tudo, tudo que a Ciência fez foi pensando no outro. Por acaso já pensou que acende a lâmpada com um toque no interruptor? E que sacrifício era para o escritor!, e agora, diante da tela, tudo ficou mais fácil, e os cientistas que se debruçam noites e noites e dias e dias tentando encontrar a cura de alguma doença, sabendo que farão isso para a futura geração, pois os beneficiados nem sempre são os próprios, mas aqueles que virão...
—A Ciência causou danos também...
—Nem fale isso, querida, e nem pense nisso. Pense que a Ciência é um bem... Sempre... Sobre o mal é uma questão de Educação, de educar o sapo... É a falta de rigor na compreensão de que todo aquele que prejudica precisa pagar pelo mal... Seja um ditador, ou um sapo do povoado... Porém, que maravilha é a Ciência! Quanto bem! Quanta felicidade! Antes que diga que avião joga bomba, pense que o poder é que faz isso, o poder e seus tentáculos gananciosos. Da janelinha do trem poderá talvez sentir com mais propriedade e força o quanto de bem a Ciência já fez ao mundo... Pois esse é o seu objetivo... O mal será sempre um desvio... A invenção do plástico reduziu o sofrimento medonho dos elefantes, pois até os cabos das facas eram de marfim, porém se elefantes ainda sofrem, isso é uma outra questão, é a questão principal, acima de todas. Só com educação se reduz as trevas, e o sofrimento do mundo. Educação é a única alternativa.
—Curioso, meu amigo...
—O que, querida?
—Oba! Novamente!
—Você é muito engraçada.
—Você falando essas coisas... É um poeta, e argumenta um assunto das exatas, fala da Ciência... Que produz avião, remédios...
—E o laser que projeta o poema na noite da cidade. Ora, Sapabela, não vejo um só respingo de contradição. O poeta é um amante da vida... Ele é o mais perfeito amante, embora, bem saiba, a perfeição é apenas um jeito de se tentar melhorar... Mas o poeta, que ama a vida, e só pela vida se interessa, certamente ama a Ciência. Não há contradição.
—Vou ter a insônia da conversa hoje.
—É assim que tem que ser: a conversa deve ser levada para todos os lugares...e até para a cama...
—Para o sofá...
—Sapabela!
—Rospo, chegamos. Ela chegou!
—Magnólia! 
—Amigo, hoje só o licor de anis!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Assanhei!...

ROSPO 2013 — 885


Marciano Vasques

domingo, 21 de julho de 2013

VIAJANDO NO TEMPO DAS COISAS QUE SÃO

—Rospo!
—Sapabela!
—Domingo! Noite fria!
—Isso faz pensar em...
—Em tanta coisa boa... Licor!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Onde está indo, amigo?
—Estava! Estava por aí, andarilhando... Mas agora, você apareceu, e já estou indo com você...
—Rospo, dê uma avistada daqui. Veja como é linda! Resplandecente, repleta de luzes. É a Magnólia.
—Sapabela, preciso dizer algo.
—Essa é a necessidade primordial, dizer algo.
—Não é sugar?
—Mas o diálogo começa ali, naquele momento! O bebê descobre que o mundo é amoroso ao sugar o leite farto que o fará feliz...
—Todavia, depois ele poderá descobrir que o mundo nem sempre é amoroso, e menos ainda, coerente. O mundo parece o brejo, com suas discrepâncias e insensatezes...
—Verdade, Rospo. Métodos cruéis de tortura ainda são utilizados para se obter ou forjar confissões, como enfiar uma estaca.., quer dizer, empalar, provavelmente a mais cruel das torturas, mas esse atraso ainda viceja em nosso brejo, e tantas injustiças... Como o abandono de cães.  Porém, a atenção governamental só tem um olhar, as próximas eleições. Ainda bem que nosso brejo é fictício.
—O sapinho aprenderá desde cedo que o mundo é feito pelos sapos, por isso pode ser justo ou injusto, mas se tiver sorte, será feliz, pois poderá ter contato com os espíritos encantados, que repousam nas bibliotecas... Escritores, poetas...além de artistas...
—Artistas! Sim. Grandes compositores, grandes pintores, grandes...
—Grandes artistas circenses, de rua, que divertem os sapos simples e humildes dos vilarejos... Onde houver um só sinal de que um cigano com seus trajes coloridos faz um só criança sorrir, o mundo nos revelará a sua beleza, o seu esplendor e o seu significado.
—Seria bom se o mundo fosse sempre justo e belo.
—Ele é belo sim, essa beleza é a dádiva do tempo que está no presente... Porém, ele é feito de sangue, de luta, de muita garra e muito sacrifício. Para que as novas gerações, as crianças e os jovens, para que possam ser felizes, muitos sapos e muitas sapas sofreram.
—Fale o nome de uma sapa.
—Patrícia Galvão, a Pagu.
—De um sapo.
—Giordano Bruno.
—Tem tudo na ponta da língua, não é, amigo?
—Quando uma criança olha de sua janela para o brilho das estrelas e contempla a maravilha da imensidão, e até sonha com viagens interplanetárias como se estivesse no gibi, seria tão bom se ela pudesse saber que um sapo um dia morreu queimado na fogueira, para que ela pudesse agora viver esse momento encantador...
—Rospo, essa conversa me deixou tão feliz...
—Porém falamos de coisas pesadas...
—Nada do que é anfíbio me é estranho!
—Vamos? Eu a convido para...
—Sim!
—Nem falei!
—Mas já aceitei!
—Sapabela, qual é a sua flor preferida?
—Girassol, você sabe, meu nego!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo, já disse: minhas roupas não combinam. Se pudesse rolaria na grama com as crianças, sou atrapalhada e me esforço pra continuar sendo, mas sou tão feliz, e ter um amigo é como ter um livro, é como ter uma "longa estrada da vida".
—Chegamos!
—Magnólia, um beijo!
—Mandando beijo para padaria, querida?
—Para tudo que ela representa em nossas vidas.
—Conversa boa... De coar café, de semear grãos...
—Merecedora de um licor.
—Anis!
—Eu que sou feliz!

ROSPO 2013 — 887
Marciano Vasques

O PÃO NOSSO DE CADA DIA, O LICOR NOSSO DE CADA NOITE

—Rospo! Hoje é domingo e já passou a alvorada. Que alegria encontrá-lo!
—Felicidade, amiga! Nossos encontros são retalhos da felicidade, essa tão exigente senhora...
—Como assim?
—Ora, Sapabela, uma das exigências da dama regente é o apego ao simples. Ela vive na simplicidade e quem não compreende isso procura por ela no luxo... Errou de viés.
—É mesmo, não é, Rospo? Um brinco cravejado de ouro ou algo assim, não mais tem o objetivo de enfeitar o rosto de alguém que já é por natureza bonita... Ele passa a valer luxo, essas coisas que as sociedades anfíbias inventam... Um carro deixa de ser um meio de transporte para ajudar na vida, e que deve sim ser bonito, pois beleza se põe nas coisas, e beleza é diferente de luxo, e o carro passa então a se tornar uma ostentação, um sinal de riqueza... Que pobreza! E tudo isso porque tem sapo que acredita que a tal dona, a Felicidade, a regente, está na riqueza, nas posses, e no luxo. Quando descobrirem que ela reside na simplicidade então já será tarde. Mas, que história é essa de regente?
—É a busca pela felicidade que rege a vida de qualquer sapo. Assim, todos os relacionamentos são baseados nessa procura... E ela está ali, onde sempre esteve, na simplicidade....
—Sei, um sapinho tem a chance de ser mais feliz, não é?
—De forma autêntica e sem se preocupar com isso, mesmo que sofra com os gritos de algum adulto ou até mais, estará firme, pois ainda não foi pego pelo Ter.
—Sim, mas a sociedade de consumo acredita poder transformar a criança, o pequeno, em prisioneiro do Ter...
—E conta com o auxílio de apresentadoras de programas infantis televisivos e tudo o mais, porém se esquece que sapinho quer brincar, quer ciranda, quer ser feliz... Só isso. Ter ou não ter não importa para quem se ocupa de apenas ser. Sapabela, ontem a noite você chamou grilo de grilho, foi erro de digitação?
—Lá vem ela!
—A Magnólia?
—Não, a Metalinguagem. Rospo, na verdade, quando eu disse grilho eu estava dizendo grilo brilhante.
—Sempre consegue se sair bem, não é?
—Minha mente não aceita grilhões, e meu coração, bem sabe, é aquecido pelo licor. Falando nisso estou indo agora para a Magnólia.
—Logo cedo?
—Buscar o pão, seu bobo! O Pão é o alimento do corpo, você sabe. Na seiva dourada do Sol, o pão complementa, por causa da dourada seiva do trigo. E à noite, para agradecer ao brilho das estrelas, para reverenciar esse brilho, licor. Como sabe, se o pão alimenta o corpo, o licor, a alma.
—Mas o Sol é uma estrela!
—Era! Ou melhor, é sim, na Ciência, nos livros didáticos e nos estudos. Sabemos que é sim, porém entre nós ele é um símbolo bonito, como um girassol na imensidão azul. É como a lua, o que é ela para os cientistas, é de fato o mais real, mas nós, os que tivemos a alma banhada pelo seu manto e seus raios azulados, sabemos que a lua é dos namorados, dos poetas e dos amantes...
—Sapabela, vou com você. Pode?
—Ofendeu-me com essa pergunta. Você sempre pode. Somos amigos,  e amigos caminham juntos... Principalmente em direção à Magnólia.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


ROSPO 2013 —886
Marciano Vasques

sábado, 20 de julho de 2013

SEMEAR, SEMEAR...

—Sapabela!
—Auahihuuuuuuuuuuuuuuu!
—Sábado!
—Noite!
—Luar oculto!

CONVERSA DE SÁBADO À NOITE

—Rospo! Auahihuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
—Que alegria, Sapabela! O que a fez assim tão fabulosa?
—As fábulas, Rospo. As fábulas! Hoje é sábado! É noite de sábado!
 —Que maravilha, querida!
—Não vai me convidar para nada? Um garapa ao luar azul da praça, um licor na Magnólia, uma conversa descompromissada...
—Claro, eu a convido para...
—ACEITO!
—Você é maluquinha, não é?
—Eu me esforço, Rospo!
—Tem uma coisa que falou que discordo.
—Discorda?
—Digo corda, cordel...
—Do que se trata tal referência, amigo?
—Gostei de sua pose, querida. Mãos na cintura. Pois bem, veja só: ao dizer "conversa descompromissada" enganou-se.
—Auahihuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
—Que alegria súbita é essa?
—Adoro me enganar. Só não gosto de ser enganada, mesmo assim voto.
—Pois bem, toda conversa é compromissada, tem pelo menos o compromisso da alegria. O que falta no mundo do brejo é conversa. Na falta de conversas, os sapos falam demais. E acabam falando o que não devem nem precisam... Por isso a conversa é saudável e necessária: com ela evita-se o desperdício da fala vazia, sem rumo...
—Rospo, você vai fundo.
—Sempre!
—Olha!
—Sapabela, digo algo: só tenha medo de brincadeira. Se não tiver segurança com seu amor, é bom resolver isso logo.
—Um  grande amor...
—Pleonasmo. Todo amor é grande em si, e por si.
—Rospo, estou assanhada de conversa. Diga uma coisa: quem leu Literatura Infantil na infância tem a probabilidade de ler uma obra universal qualquer tipo "O Elogio da Loucura", por exemplo?
—Erasmo de Roterdã. A bondade nasceu com ele. Ele é o fundador da bondade...
—Ele organizou através de si a bondade.
—Ninguém disse isso na PUC, nem na USP...
—Ninguém estava aqui conosco conversando, não é, meu caboclinho? É bonito isso?
—Gosto mais do "Meu nego". Isso é encantador pois revela a criatividade amorosa da voz popular... É pura cortesia da alma linda do povo do brejo. Nas andanças da oralidade mil parlendas encontrei... Vi pelejas alegrando os sapos dos povoados, vi Zé Pretinho desafiando Cego Aderaldo...
—Essas almas todas formam um mosaico de lendas que estilhaçam a voz do Brejil em mil alegrias. Feliz daquele que ousou. Isso sim é ousadia de viver! Estar na alegria da voz que vem das lendas...
—O quintal de Solano Trindade...
—Essa conversa está me deixando feliz de ficar ao léu... E eu mesma respondo: quem leu sim Literatura Infantil na infância, e leu pra valer, e teve o privilégio da oportunidade de ler os clássicos da Literatura Infantil sem nenhum adulto para atrapalhar, terá sim uma probabilidade maior de ler os grandes clássicos da Literatura Universal, da Filosofia... Com certeza... Não terá como escapar da única riqueza infinita, que é a Literatura...A Literatura é o que se lê, é a Filosofia, a Poesia... Sei que temos imensos castelos de teorias, mas para mim a Literatura é tudo isso, e tudo isso é a vida na sua extração mais espetacular... Sim, pois é um espetáculo... Como a vida. A vida é um espetáculo. Um menino sapinho se tiver a chance de olhar um grilho molhado numa tarde chuvosa, se conseguir alcançar, decifrar o grilo entre as folhagens, se conseguir isso de sua vidraça, e também descobrir subitamente o arco íris nas gotículas que deslizam no vidro, estará diante do espetáculo infinito da vida, do mundo, que sempre monta seu picadeiro dourado nas páginas de um livro.
—Felicidade de papel de seda colorindo o azul celestial.
—Rospo, você é feliz ao ver as coisas que passam?
—Recentemente vi uma menina, uma sapinha lendo um livro e os dois autores eram meus amigos no Facebook...Disse isso a ela, mas não houve um esboço de interesse.
—Sofre com isso?
—Não, Sapabela. Mas sou feliz demais.
—Sabe, Rospo, Platão inventou o diálogo porque a mudez não mais cabia, e Jorge Luiz Borges trouxe as belas imagens da sua literatura em sua cegueira.
—O segundo cego da conversa, Rospo.
—Cegos sim, mas repletos de luzes. Entra o Glauco?
—Sim, naturalmente! Chegou!
—Magnólia! Querida Magnólia! Aqui seremos e aqui estaremos, e um dia alguém ativará algum risco de memória e dirá: eles estiveram na Magnólia.
—Rospo, só tenha medo de brincadeira. Você jamais me perderá. Seremos amigos porque somos amigos...
—Sapabela, preciso dizer algo.
—Diga, que me esbaldarei contemplando os vitrais da placenta do seu dizer.
—Quando olho para a imensidão da quietude do brilho das estrelas, e penso que um dia irei embora, sinto uma certa angústia, um certo sentimento de solidão ainda maior, e então, sinto o retorno desesperado da necessidade de literatura.
—Rospo, licor de anis, por favor.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2103 —884
Marciano Vasques

quinta-feira, 18 de julho de 2013

É ISSO QUE O SAPO QUER!

—Sapabela, a melhor coisa na vida de um sapo é ter a sapa ao lado. Sempre.
—É mesmo, Rospo?

quarta-feira, 17 de julho de 2013

MOÇA DE MOÇAMBIQUE

A olaria,
O alambique.

O doce caseiro:
Nem sabe, moço,
Como  é reconfortante...
Veludo no braseiro
Ou na mudez cortante...

Nem um dique
Represa
A correnteza
dessa vida...
Nos passos de poeira avermelhada....
As panelas fumegando na periferia.
Esgotadas  almas almejando
Janelas
Com flores artificiais
Num roto plástico, e cortinas
Com bordados invisíveis.
E vidraças ensaboadas...

O desejo não desbota...
E o sorriso é o viço do rosto.

Visse?

E num clique
Fica tão bonita.
O piercing, a saia curta, o jeans.

Não verás cadência igual.

Num repique de festa anunciada
Numa distância feita pra sonhar...
Pra que cuidar da psique
Se fica um charme só viver?...

Sem perder jamais o pique
Ser uma flor na aridez.

E a moça de moçambique...
No tique-taque do cabelo,
E na onomatopeia
da insônia.

O tempo passa, mas não leva
Essa alegria de moqueca...
Do aroma do bolo de aipim...
Do rosado giz do alfenim...
De moleca...
Rabiscando
E Rebuscando
A cada novo amanhecer
A doçura de viver.

MARCIANO VASQUES


terça-feira, 16 de julho de 2013

A FLOR PRINCESINHA

—Sapabela! Uau! Ganhei a noite!
—Nem cheguei, amigo!
—Mas estás aqui, com todo o querido teu jeito. Tua companhia me faz bem, e se danças aperfeiçoa a minha vida, se sorris, também: ao sorrir acendes as faíscas do esmerilhar de minha alma, e o que era apenas um fiapo de luz torna-se o fulgor de mil lanternas azuladas...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

NA PADARIA MAGNÓLIA

—Sapabela! Assim Lunes fica mais bonita. 
—Rospo, meu amigo querido! Vontade louca de conversar... conversar é conservar o melhor da vida. E agora temos uma padaria nova, a Magnólia. Vamos?
—Só se for agora.
—Licor de anis!...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—"Falei porque eu quis!"

quinta-feira, 11 de julho de 2013

NA PADARIA SAFIRA

—Sapabela! Yupiiiiiiiii!
—Uuuuuuuuuuuuu! whnangzran!
—Que alegria, querida! Hoje é quinta! Dia do Trovão! O mais místico dos dias. Quinta. Adoro quinta! Sítio, lugar... Tudo que nos é de Espanha e de Portugal.
—Ê coisa boa! E o tempo voa!
—Sapabela! Mil dizeres num carretel...
—Num cordel!

terça-feira, 9 de julho de 2013

O DESFILE DE EGOS

—Sapabela, que saudades!
—Rospo! Que alegria!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Está bem, está bem!...
—Novidades?

quarta-feira, 3 de julho de 2013

CIDADE DAS CANTIGAS

Belo encontro na Praça Victor Civita, em São Paulo, 
no último dia de Junho.
Estreia da peça CIDADE DAS CANTIGAS.

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