quinta-feira, 18 de julho de 2013

É ISSO QUE O SAPO QUER!

—Sapabela, a melhor coisa na vida de um sapo é ter a sapa ao lado. Sempre.
—É mesmo, Rospo?

—A sapa ao lado, sempre. Mas não como um bibelô.
—Isso mesmo!
—Não na garupa.
—Garapa?
—Garupa, Sapabela! Como aquelas sapas bobas que se sentem por estarem na garupa...
—Então a sapa ao lado é pra valer.
—Sim, o sapo tem dois lados. Num deles está a sapa, é o lado que brilha.
—Rospo, esse companheirismo existe ainda hoje?
—Menina! O que mais tem são felinos se procurando nas ladeiras da cidade.
—Rospo, falando em companheirismo, esse papo me trouxe uma sede de um assuntos...
—Sede?
—É. De conversa. Sabe como é... Gosto de beber na fonte da amizade.
—Pois não?
—Tem muitos poetas importantes, não é? Que vivem valorizando o passe.
Por qual motivo isso acontece?
—O sapo é uma complexidade. Falo sapo no sentido universal. Mas, queria mesmo era falar um pouquinho desse companheirismo, dessa ternura imperceptível, que ainda resvala nos corações...
—Posso perguntar algo?
—A única pergunta que você não pode é essa, Sapabela, pois tem irrestrito acesso na conversa.
—E nasci perguntadeira.
—Por isso se tornou essa grandiosidade.
—Rospo, fica retesando assim minha alma, que pode disparar a flecha da vaidade.
—Ser vaidoso é bom, não pode ser arrogante.
—Rospo, vaidade faz bem, não é?
—Sim, não pavoneando a alma tudo bem. O que acontece é que as coisas se entrelaçam... No anseio do reconhecimento muito bem-bam-bam  se deu mal e caiu no ostracismo. E isso não acontece só no mundo da cultura e das artes, acontece também na Política. Veja que a linha entre a popularidade e o esquecimento é tênue.
A popularidade é algo controverso. Muitos lutam por ela e até se esquecem de produzir.
—Entendo, Rospo, mas para um político, principalmente, a popularidade é essencial.
—No caso, é um requisito apenas para se manter no poder... Mas não pode ser a fonte principal da manutenção...
—Rospo, veja quem chegou!
—Uau! Que linda! Uma penca de luzes. Riscos vermelhos, lindos, nuances de luzes... Seja bem-vinda, Magnólia!
—Temos a nossa padaria! Nela nossas conversas encontrarão o seguro cais.
Rospo, queria dizer algo: Para uma sapa nada é melhor do que um sapo ao seu lado...
—Pois é, todos temos um lado brilhante.
—Mas às vezes brilhamos por inteiro. E sabe o motivo?
—Diga.
—O sapo entrou na sapa...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Não me interrompa, Rospo! E comporte-se! É uma parlenda para falar do brilho por inteiro.
—Continue...Sou assim mesmo atrapalhado.
—O Sapo entrou na sapa que entrou no sapo que entrou na sapa que entrou no sapo que entrou...
—Adorei!
—Também sou atrapalhada, e adoro ser. Até minhas roupas não combinam, já disse isso várias vezes. Mas vivo repetindo.
—Eis uma repetição necessária. É como uma canção, um poema, o olhar para a flor da cerca, o erguer os olhos para o céu, gestos tantos que são necessários cair na rede da repetição.
—É mesmo?
—Repetindo, repetindo, os sapos vão se aperfeiçoando...
—Tanto entulho que precisa ser retirado da mente, não é, meu amigo?
—E um bom começo é uma conversa na padaria de cada um...
—A minha, a Magnólia! Magnólia do meu licor de anis.
—É isso que o sapo quer!...


ROSPO 2013 —883
Marciano Vasques

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