sábado, 20 de julho de 2013

SEMEAR, SEMEAR...

—Sapabela!
—Auahihuuuuuuuuuuuuuuu!
—Sábado!
—Noite!
—Luar oculto!

—Frio!
—Flor!
—Padaria!
—Licor de anis!
—Adorei esse joguinho.
—Querida! Estive pensando na origem de meu coração. Descobri que ele tem múltiplas origens, como assim ocorre em todos. Mas é um encanto se pensarmos apenas na musicalidade, na sonoridade que forma a alma poética, digamos assim. Os batuques, o fado, a alegria do samba... Como escapar, como fugir disso tudo? Nem pensar!
—E a leitura dos gibis antigos...
—Precisa pôr a palavra antigos?
—Sim, pois havia na criança a chance maior de perceber o universo da autoria, e além disso, de compreender, mesmo que depois, o zelo pela criação de cada personagem e além disso, e principalmente, a compreensão de que cada artista no mais distante lugar estava com sua alma de nanquim criando formas de encantamento para os corações dos que cresciam.
—São tantas as origens, algumas tão delicadas, tão supostamente frágeis como asinhas de miosótis, mas na realidade imensas e fortes, como por exemplo, a mão de alguém ofertando a fatia de pão com manteiga, um sorriso, a presença invisível numa rosa de alguma roseira na cerca, que alguém teve a gentileza de plantar, alguém, um sapo, uma sapa, jamais saberemos ao certo quem ajardinou a nossa infância ou quem nos ofertou apenas uma roseira distraída... E falando nisso, nada é mais importante do que os espinhos de uma roseira, mas, assim é no mundo. Pouca importância se dá aos soldados que protegem a rainha.
—Rospo, veja! É ela!
—Magnólia! Vamos!
—Vamos! O licor de anis me chama.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo, que bom ter um amigo. Será que um dia isso será de fato compreendido por todos?
—Sapabela, “todos” ultrapassa a quimera, “Todos” é uma ilusão despropositada e desnecessária, é como o conceito filosófico de “humanidade”. Essas ideias não importam no fundo. Precisamos nos acercar da ideia de que os que estão ao nosso redor compreenderão, e a partir deles, dessa centelha, o mundo irá aos poucos se aperfeiçoando... E isso será para as gerações vindouras. O que importa de fato é a nossa condição de semeadores... Assim somos.
—Querido, queria bailar, valsar, deixar que a canção do vento das vozes dos contadores de história me levasse, para bem longe... para um lugar bem protegido.
—Já sei, dentro de você, se assim quiser.
—Semear, semear... Assim é o meu amigo.
—Deveria dizer “Amizade”, pois afinal nesse ofício de semear, é preciso a cumplicidade.

ROSPO 2103 — 885
Marciano Vasques

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