domingo, 21 de julho de 2013

VIAJANDO NO TEMPO DAS COISAS QUE SÃO

—Rospo!
—Sapabela!
—Domingo! Noite fria!
—Isso faz pensar em...
—Em tanta coisa boa... Licor!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Onde está indo, amigo?
—Estava! Estava por aí, andarilhando... Mas agora, você apareceu, e já estou indo com você...
—Rospo, dê uma avistada daqui. Veja como é linda! Resplandecente, repleta de luzes. É a Magnólia.
—Sapabela, preciso dizer algo.
—Essa é a necessidade primordial, dizer algo.
—Não é sugar?
—Mas o diálogo começa ali, naquele momento! O bebê descobre que o mundo é amoroso ao sugar o leite farto que o fará feliz...
—Todavia, depois ele poderá descobrir que o mundo nem sempre é amoroso, e menos ainda, coerente. O mundo parece o brejo, com suas discrepâncias e insensatezes...
—Verdade, Rospo. Métodos cruéis de tortura ainda são utilizados para se obter ou forjar confissões, como enfiar uma estaca.., quer dizer, empalar, provavelmente a mais cruel das torturas, mas esse atraso ainda viceja em nosso brejo, e tantas injustiças... Como o abandono de cães.  Porém, a atenção governamental só tem um olhar, as próximas eleições. Ainda bem que nosso brejo é fictício.
—O sapinho aprenderá desde cedo que o mundo é feito pelos sapos, por isso pode ser justo ou injusto, mas se tiver sorte, será feliz, pois poderá ter contato com os espíritos encantados, que repousam nas bibliotecas... Escritores, poetas...além de artistas...
—Artistas! Sim. Grandes compositores, grandes pintores, grandes...
—Grandes artistas circenses, de rua, que divertem os sapos simples e humildes dos vilarejos... Onde houver um só sinal de que um cigano com seus trajes coloridos faz um só criança sorrir, o mundo nos revelará a sua beleza, o seu esplendor e o seu significado.
—Seria bom se o mundo fosse sempre justo e belo.
—Ele é belo sim, essa beleza é a dádiva do tempo que está no presente... Porém, ele é feito de sangue, de luta, de muita garra e muito sacrifício. Para que as novas gerações, as crianças e os jovens, para que possam ser felizes, muitos sapos e muitas sapas sofreram.
—Fale o nome de uma sapa.
—Patrícia Galvão, a Pagu.
—De um sapo.
—Giordano Bruno.
—Tem tudo na ponta da língua, não é, amigo?
—Quando uma criança olha de sua janela para o brilho das estrelas e contempla a maravilha da imensidão, e até sonha com viagens interplanetárias como se estivesse no gibi, seria tão bom se ela pudesse saber que um sapo um dia morreu queimado na fogueira, para que ela pudesse agora viver esse momento encantador...
—Rospo, essa conversa me deixou tão feliz...
—Porém falamos de coisas pesadas...
—Nada do que é anfíbio me é estranho!
—Vamos? Eu a convido para...
—Sim!
—Nem falei!
—Mas já aceitei!
—Sapabela, qual é a sua flor preferida?
—Girassol, você sabe, meu nego!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo, já disse: minhas roupas não combinam. Se pudesse rolaria na grama com as crianças, sou atrapalhada e me esforço pra continuar sendo, mas sou tão feliz, e ter um amigo é como ter um livro, é como ter uma "longa estrada da vida".
—Chegamos!
—Magnólia, um beijo!
—Mandando beijo para padaria, querida?
—Para tudo que ela representa em nossas vidas.
—Conversa boa... De coar café, de semear grãos...
—Merecedora de um licor.
—Anis!
—Eu que sou feliz!

ROSPO 2013 — 887
Marciano Vasques

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