MOVIMENTOS DE UMA VIDA — 1
Em Pinheiros, na
pequena sala do jornal MOVIMENTO, semanário de
resistência publicado entre 1975 e 1981, estava eu ao lado de cartunistas
numa animada conversa repleta de risos,
enquanto cada qual lia a sua matéria e esboçava os seus desenhos, as suas
ilustrações.
Cada esboço feito
à lápis era enviado a Brasília, para os censores, que os devolvia com o carimbo
de aprovado ou proibido.
Tive um desenho
aprovado. Um índio batendo continência. O general Ernesto Geisel visitava a
Amazônia e esbocei com o lápis o índio. Deu pra disfarçar o gesto da
continência ou sempre fui péssimo em desenho, principalmente desenhar mãos.
Porém, a ilustração foi aprovada. Isso era motivo de comemoração. O que tinha
que fazer a seguir era puxar da caneta de nanquim e fazer o desenho de vez.
Ao portão passou
por mim um grupo de jovens. Entre eles, uma psicanalista. Lembro-me bem da sua
risada, da sua jovial alegria naquela tarde com o seu grupo de amigos.
Pelas ruas de
Pinheiros segui para a distante Itaquera, Como eu estava feliz naquela tarde! Logo estaria nas bancas um
índio batendo continência para um general. E nas páginas de um jornal tão
importante.
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